História natural e evolutiva de DIONE HÜBNER, [1819] : uma abordagem morfológica e molecular

Abstract

Entender as relações filogenéticas entre os organismos, como espécies compartilham uma história comum através de sua ancestralidade, é fundamental para o entendimento de processos e padrões evolutivos. Os heliconíneos, ou borboletas-do-maracujá, constituem-se num dos grupos mais conhecidos em Lepidoptera (Nymphalidae). Do ponto de vista filogenético Heliconiini é uma das tribos mais estudadas da família, sendo que seis filogenias já foram propostas, tanto de cunho morfológico quanto molecular, todas com enfoque nos gêneros mais derivados da tribo, como Heliconius e Eueides. Porém, nenhuma dessas filogenias propôs de forma robusta as relações em nível de espécie na maioria dos gêneros. Este é o caso de Dione, uma linhagem considerada “basal” de Heliconiini, pouco conhecida, com status filogenético ainda não bem resolvido. Tendo como objetivo aprofundar os estudos morfológicos e moleculares dentro deste gênero, neste trabalho, descreve-se e ilustra-se pela primeira vez as estruturas externas do ovo, larva e pupa D. glycera, única espécie do gênero ainda não contemplada neste sentido, além de fornecermos uma chave dicotômica para identificação das espécies de Dione nas fases de larva e pupa. Com o intuito de desenvolver trabalhos futuros em nível subespecífico e/ou calcados na genética de populações, desenvolvou-se um banco de microssatélites para a espécie Dione moneta, onde obteve-se 19 loci polimórficos, sendo que a maior parte desses amplificou com sucesso nas demais espécies e subespécies de Dione, bem como para a espécie irmã Agraulis vanillae Tal resultado demonstra que estes marcadores podem ser ferramentas eficientes para estudos a respetio em D. moneta bem como para espécies de borboletas proximamente relacionadas. Em adição, propomos uma filogenia molecular para Heliconiini onde calculou-se o tempo de divergência entre as linhagens da tribo. Com enfoque principalmente no gênero Dione nossos dados demonstram que este é monofilético e grupo irmão de Agraulis. Também demonstramos que as espécies de Dione são reciprocamente monofiléticas, formam grupos genéticos distintos e são fenotipicamente distinguíveis. Entretanto não foi possível separar as subespécies de D. juno e D. moneta através do padrão de coloração das asas, cuja validade taxonômica é questionada. O tempo de divergência estimado para o gênero (aproximadamente 30 milhões de anos) sugeriu fortemente que a especiação de Dione coincidiu com a ascensão de Passifloraceae e o soerguimento da Cordilheira dos Andes. Os resultados obtidos neste estudo demonstram que uma ampla cobertura geográfica e abordagens taxonômicas integrativas são ferramentas que permitem inferir com maior robustez os limites de espécies e subespécies.