Conhecimentos e atitudes dos agentes comunitários de saúde sobre uso correto e racional de medicamentos na sua prática profissional

Abstract

Introdução: A promoção do uso racional de medicamentos (URM) é um desafio do Sistema Único de Saúde (SUS) e uma das diretrizes da Política Nacional de Medicamentos (PNM). A atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é fundamental e estratégica para minimizar os riscos do uso inadequado de medicamentos. Os ACS entram nas casas, verificam as condições dos medicamentos, oferecem suporte para as equipes de saúde na identificação de possíveis e reais problemas relacionados ao uso de medicamentos. Nesse contexto, a participação do farmacêutico na Estratégia de Saúde da Família (ESF) é fundamental na promoção do URM por meio da orientação dos usuários e na educação permanente das equipes, inclusive dos ACS. É necessário reconhecer a importância dos ACS na atenção à saúde, identificar as suas fragilidades e potencialidades para que possam contribuir com a promoção do URM. Objetivo: O objetivo deste estudo foi descrever os conhecimentos e atitudes dos ACS acerca da orientação sobre o uso correto e racional de medicamentos nas comunidades. Métodos: Foi realizado um estudo transversal, quantitativo e descritivo, por meio de aplicação de dois questionários aos ACS do município de Marau, Rio Grande do Sul (RS). O primeiro visou a identificação da formação e informação sobre medicamentos que os ACS possuíam, além das suas atitudes frente as situações envolvendo o uso de medicamentos, e o segundo buscou avaliar os conhecimentos dos ACS sobre o uso correto e racional de medicamentos. Foram pesquisados 51 ACS, durante os meses de outubro e novembro de 2020. Resultados: A totalidade dos ACS investigados eram do sexo feminino (100,0%), 41,18% eram adultos jovens, tinham entre 30 e 40 anos, com média de idade de 39,01 ± 10,07 anos. A maioria possuía ensino médio completo (94,12%) e tinham acima de 3 anos de atuação (58,83%). Em relação à formação e informação sobre medicamentos, apesar de 47,06% das ACS investigadas já terem realizado algum curso relacionado à utilização de medicamentos, 98,04% sentem necessidade de formação e 74,51% admitem não ter conhecimentos suficientes para dar informações aos usuários sobre os medicamentos. A principal fonte de informação utilizada pelas ACS são as bulas (84,31%) e os enfermeiros são os profissionais de referência para solucionarem problemas (96,08%) e esclarecerem as dúvidas (74,51%) das ACS sobre a farmacoterapia dos usuários. Os idosos (96,08%) são os usuários que mais solicitam informações sobre os medicamentos. As informações mais solicitadas pelos usuários são a indicação terapêutica (72,55%), a frequência/ horário de administração (54,90%) e a duração/período do tratamento (49,02%) dos medicamentos. Já as principais possíveis situações de risco identificadas pelas ACS foi a automedicação (88,24%), o horário de administração inadequado (70,59%) e a utilização da dose diferente da prescrita (66,67%). Dentre as ACS, 96,08% consideram importante a orientação das famílias sobre os medicamentos, mas 80,39% afirmam que precisam de capacitação contínua para realizar essa atividade. A média de acerto das ACS no instrumento de avaliação dos conhecimentos sobre medicamentos foi de 8,57 ± 1,62 questões, o que demonstrou um elevado nível de desempenho. Conclusão: É evidente a necessidade de inserir o farmacêutico e demais profissionais da saúde, no desenvolvimento de programas de educação permanente para as ACS, a fim de que esses profissionais desenvolvam competências e tenham segurança em atuar na promoção do URM nas comunidades.

Introduction: Promoting rational drug use (RDU) is a challenge for the Unified Health System (Sistema Único de Saúde - SUS) and one of the guidelines of the National Medicines Policy (NMP). The role of Community Health Workers (CHWs) is fundamental and strategic to minimize the risks of inappropriate use of medication. The CHWs enter the homes, check the conditions of the medications, offer support to the health teams in identifying possible and real problems related to the use of medications. In this context, the participation of the pharmacist in the Family Health Strategy (FHS) is essential in promoting the URM through user guidance and continuing education of the teams, including the CHWs. It is necessary to recognize the importance of CHWs in health care, identify their weaknesses and potential so that they can contribute to the promotion of the URM. Aims: The aim of this study was to describe the knowledge and attitudes of CHWs regarding guidance on the correct and rational use of medicines in communities. Methods: A cross-sectional quantitative and descriptive study was carried out through the application of two questionnaires to the CHWs in the municipality of Marau, Rio Grande do Sul (RS). The first aimed to identify the training and information about medications that the ACS had, in addition to their attitudes towards situations involving the use of medications, and the second sought to assess the knowledge of the CHWs about the correct and rational use of medications. 51 CHWs were surveyed during the months of October and November 2020. Results: All of the investigated CHWs were female (100.0%), 41.18% were young adults, aged between 30 and 40 years, with a mean age of 39.01 ± 10.07 years. Most had completed high school (94.12%) and had been working for more than 3 years (58.83%). Regarding training and information about medications, although 47.06% of the investigated CHWs had already taken a course related to the use of medications, 98.04% felt the need for training and 74.51% admitted not having sufficient knowledge to provide information to users about medications. The main source of information used by the CHWs are the package insert (84.31%) and the nurses are the reference professionals to solve problems (96.08%) and clarify the doubts (74.51%) of the CHWs about the pharmacotherapy of users. The elderly (96.08%) are the users who most request information about medications. The most requested information by users are the therapeutic indication (72.55%), the frequency/time of administration (54.90%) and the duration/period of treatment (49.02%) of the medications. The main possible risk situations identified by the CHWs were self-medication (88.24%), inadequate administration time (70.59%) and the use of a different dose than prescribed (66.67%). Among the CHWs, 96.08% consider the guidance of families about medications important, but 80.39% say they need continuous training to carry out this activity. The mean of correct answers of the CHWs in the instrument to assess knowledge about medications was 8.57 ± 1.62 questions, which demonstrated a high level of performance. Conclusion: The need to include the pharmacist and other health professionals in the development of continuing education programs for the CHWs is evident, so that these professionals develop skills and feel confident in working in the promotion of the URM in the communities.