O Slow Work como escolha de trabalho e de vida : um estudo no município de Veranópolis - RS

Abstract

A aceleração e intensificação dos processos de trabalho e consequentemente da vida são características marcantes da nossa época, que interferem também no modo como se percebe e se vivencia a passagem do tempo. Na década de 1990, emerge o movimento Slow ou movimento Devagar, o qual surge como uma reação a questões da pobreza de tempo, prezando pela desaceleração, pelo ritmo certo, pela valorização das conexões e defendendo a possibilidade de escolher um ritmo de vida mais calmo (SLOW MOVEMENT, 2017; HONORÉ, 2005). Entre os desdobramentos do movimento Slow está o Slow Work: aplicação dos princípios ao âmbito do trabalho, o qual é considerado seu maior desafio. Desejando explorar as questões de tempo, trabalho e escolhas de vida, o estudo buscou analisar como os princípios de Slow Work se materializam nas vivências laborais de trabalhadores do comércio e serviços do município de Veranópolis-RS. Veranópolis é um pequeno município localizado na serra gaúcha que registra altos índices de qualidade e expectativa de vida advindos dos hábitos saudáveis e estilo de vida da população. Considerando ainda a centralidade do trabalho na vida das pessoas, e de que as características de Veranópolis condizem com o proposto pelo movimento Slow, realizou-se um estudo de caso com a participação de 12 trabalhadores, com a utilização de entrevistas, observações e análise documental. Elaborou-se ainda um construto teórico que buscou correlações entre as propostas do Movimento Slow (HONORÉ, 2005) com abordagens da Psicologia Humanista (MASLOW, 2001; ROGERS, 1997; CSIKSZENTMIHALYI, 1990) e amparo nos conceitos de Trabalho, Gestão e Subjetividade (BAUMAN, 2009; GAULEJAC, 2005; DAL ROSSO, 2008; SENNETT, 1999). Os resultados obtidos foram analisados através de análise de conteúdo (BARDIN, 2016), os quais foram agrupados em 16 categorias iniciais, que geraram sete categorias intermediárias, e finalmente foram reagrupadas em três categorias finais. A partir dos resultados, confirmou-se que as escolhas, adaptações e transformações vivenciadas são condizentes com a intenção do movimento de Slow Work, e que mesmo pontuais contribuem para a melhoria do trabalho e da vida. Apesar de que neste local as rotinas de trabalho estão mais intensificadas e aceleradas, o ritmo de vida no município, a proximidade entre lugares e as fortes conexões estabelecidas entre pessoas, comunidade, cultura, alimentação e com o próprio trabalho demonstraram favorecer uma experimentação do tempo mais qualitativa, a qual mesmo inserida na realidade líquido-moderna (BAUMAN, 2009) permite a estes indivíduos usufruírem de maiores liberdades sobre o próprio tempo e escolhas de vida, mesmo que não sejam revolucionárias.

The acceleration and intensification of work processes and, consequently, of life are outstanding characteristics of our time, which also interfere the way one perceives and experiences the passage of time. In the 1990s, the Slow movement emerges, which comes up as a reaction to issues relating to lack of time, respecting for the slowing down, for the right rhythm, for the appreciation of connections and defending the possibility of choosing a calmer pace of life (SLOW MOVEMENT, 2017; HONORÉ, 2005). Among the unfolding ramifications of the Slow movement is Slow Work: application of principles to the extent of work, which is considered its greatest challenge. Aiming at exploring the issues of time, work and life choices, the study searches to analyze how the principles of Slow Work materialize in the labor experiences of workers in the small businesses and services of the town of Veranópolis-RS. Veranópolis, a small town located in the mountains of Rio Grande do Sul, registers high quality indexes and life expectancy resulting from the healthy habits and lifestyle of the population. Still considering the central importance of the work in people´s life, and that the characteristics of Veranópolis are in harmony with the one proposed by the Slow movement, a case study was carried out with the participation of 12 workers, with the use of in-depth interviews, observations and documentary analysis. A theoretical construct that looked for correlations among the proposals of the Slow Movement (HONORÉ, 2005) with approaches of Humanist Psychology (MASLOW, 2001; ROGERS, 1997; CSIKSZENTMIHALYI, 1990) and support in the concepts of Work, Management and Subjectivity (BAUMAN, 2009; GAULEJAC, 2005; DAL ROSSO, 2008; SENNETT, 1999). The results were analyzed through content analysis (BARDIN, 2016), which were grouped into 16 initial categories, which generated seven intermediate categories, and finally were rearranged in three final categories. From the results, in this investigation, the choices, adaptations and transformations experienced confirmed to be consistent with the intention of the Slow Work movement, and that even punctual ones contribute to the improvement of work and life. Although the work routines are more intensified and accelerated in this place, the rhythm of life in the town, the proximity between places and the strong connections established between people, community, culture, food and work itself, have been shown to favor an experimentation of a more qualitative time. In addition, even if the community is living in the liquid-modernity reality (BAUMAN, 2009); these individuals enjoy greater freedoms about their own time and life choices; despite the fact they are not revolutionary.