Associação entre CA-125 e insuficiência respiratória pós-extubação : um estudo de coorte

Abstract

Fundamento: A transição da ventilação mecânica invasiva para a respiração espontânea pósextubação acarreta aumento repentino do retorno venoso e da pós-carga ventricular esquerda. Para certos pacientes, existe um risco maior de o sistema cardiovascular não conseguir se adaptar a esta rápida mudança, levando potencialmente à falha da extubação. Neste contexto, o balanço hídrico cumulativo e a sobrecarga hídrica podem desempenhar um papel crucial. Recentemente, o CA-125 emergiu como um biomarcador promissor para congestão. Nosso estudo teve como objetivo explorar a associação potencial entre os níveis plasmáticos de CA125 e a ocorrência de insuficiência respiratória pós-extubação (IRPE). Métodos: Foi realizado um estudo de coorte prospectivo em UTI de um hospital terciário de Porto Alegre, Brasil, incluindo pacientes com idade igual ou superior a 18 anos, com mínimo de 48 horas de ventilação mecânica, submetidos à extubação. O desfecho primário foi insuficiência respiratória dentro de 72 horas pós-extubação. Resultados: Entre os 86 pacientes incluídos, 44 pacientes (51,2%) apresentaram IRPE. Na análise univariada, os pacientes do grupo IRPE exibiram valores medianos de CA-125 significativamente maiores (53,7 U/ml [26,9 - 92,0]) em comparação com aqueles do grupo não-IRPE (29,2 U/ml [18,3 - 60,1], p = 0,009). A área sob a curva ROC para CA-125 na previsão da ocorrência de IRPE foi de 0,663 (IC 95%: 0,546–0,779). Em um modelo de regressão logística ajustado para ICC, SAPS 3, duração da VM e escore ultrassonográfico pulmonar, os níveis de CA-125 superiores a 35,0 U/ml permaneceram significativamente associados à ocorrência de IRPE (OR 3,474, IC 95%: 1,375-8,780; p = 0,008). Conclusões: Em pacientes gravemente enfermos submetidos ao desmame simples, níveis plasmáticos elevados de CA-125 foram independentemente associados a uma incidência aumentada de IRPE. Isto sugere que o CA-125 poderia servir como um biomarcador suplementar para avaliações clínicas destinadas a detectar congestão em pacientes durante o desmame da ventilação mecânica.

Background: The transition from invasive mechanical ventilation to spontaneous breathing post-extubation entails a sudden increase in venous return and left ventricular afterload. For certain patients, there is a higher risk of the cardiovascular system failing to adapt to this rapid change, potentially leading to extubation failure. In this context, the cumulative fluid balance and fluid overload can play a crucial role. Recently, CA-125 has emerged as a promising biomarker for congestion. Our study aimed to explore the potential association between plasma CA-125 levels and the occurrence of post-extubation respiratory failure (PERF). Methods: We conducted a prospective cohort study in a tertiary hospital ICU in Porto Alegre, Brazil, enrolling patients aged 18 years or older with a minimum of 48 hours of mechanical ventilation who underwent extubation. The primary outcome was respiratory failure within 72 hours post-extubation. Results: Among the 86 patients included, 44 patients (51.2%) experienced PERF. In the univariate analysis, patients in the PERF group exhibited significantly higher median CA-125 values (53.7 U/mL [26.9 - 92.0]) compared to those in the non-PERF group (29.2 U/mL [18.3 - 60.1], p = 0.009). The area under the ROC curve for CA-125 in predicting PERF occurrence was 0.663 (95% CI: 0.546–0.779). In a logistic regression model adjusted for CHF, SAPS 3, duration of MV, and lung ultrasound score, CA-125 levels exceeding 35.0 U/mL remained significantly associated with the occurrence of PERF (OR 3.474, 95% CI: 1.375-8.780; p = 0.008). Conclusions: In critically ill patients who underwent simple weaning, elevated plasma CA125 levels were independently associated with a heightened incidence of PERF. This suggests that CA-125 could serve as a valuable supplementary biomarker for clinical assessments aimed at detecting congestion in mechanically ventilated patients during weaning.