Função ventricular direita por strain longitudinal : reprodutibilidade, valores de referência e fatores determinantes em adultos brasileiros

Abstract

Introdução: O objetivo principal deste estudo foi estabelecer valores de referência para o strain longitudinal do ventrículo direito (RVFWLS) em uma população multiétnica brasileira sem doenças cardiovasculares ou fatores de risco. Os objetivos secundários foram: 1) avaliar a reprodutibilidade intra e interobservador desse parâmetro; 2) descrever a prevalência de GLS anormal nesta coorte ocupacional, utilizando o ponto de corte da subamostra saudável; 3) investigar os fatores clínicos e demográficos associados à redução do strain de parede livre do VD. Métodos: Foram incluídos 1.048 participantes da coorte ELSA-Brasil que realizaram ecocardiografia com análise de GLS. Dentre eles, identificamos uma subamostra saudável, excluindo indivíduos com doenças cardiovasculares e renais, hipertensão ou diabetes, para determinar os intervalos de normalidade do RVFWLS. A reprodutibilidade do RVFWLS foi analisada usando imagens ecocardiográficas de 50 participantes de uma amostra selecionada aleatoriamente. Na amostra total, descrevemos a prevalência de RVFWLS anormal e fatores clínicos, demográficos e ecocardiográficos associados a RVFWLS anormal. Resultados: A subamostra saudável (n=527, idade média de 50,2 anos, 59% mulheres), apresentou um valor médio de RVFWLS de -28,3% [IC 95%: -22,3 a -34,3%] com valores absolutos mais altos de GLS em mulheres comparadas aos homens, sem diferenças entre as idades. Os parâmetros de reprodutibilidade intra-observador do RVFWLS demonstraram um coeficiente de variação (CV) de 5,1% e um coeficiente de correlação intraclasse (ICC) 0,78 [95% CI: 0,67-0,89]. A reprodutibilidade interobservador foi de CV=8,3% e ICC=0,54 [95% CI: 0,34-0,74]. Na amostra total (n=1,048), RVFWLS anormal foi detectado em 1,6% dos participantes. Os participantes no tercil mais baixo de RVFWLS tinham maior IMC, maior massa ventricular esquerda, menor fração de ejeção do VE, maior VD e piores parâmetros convencionais de função do VD. Conclusão: Propomos valores de referência para RVFWLS derivados de uma grande amostra saudável de brasileiros de meiaidade. Encontramos reprodutibilidade adequada dos parâmetros de strain longitudinal do ventrículo direito. Valores menores de strain longitudinal do VD foram associados a comorbidades cardiovasculares e à estrutura e função ventricular, utilizando parâmetros ecocardiográficos frequentemente empregados.

Introduction: The main objective of this study was to establish reference values for right ventricular free wall longitudinal strain (RVFWLS) in a multiethnic Brazilian population without cardiovascular diseases or risk factors. The secondary objectives were: 1) to evaluate the intra- and interobserver reproducibility of this parameter; 2) to describe the prevalence of abnormal GLS in this occupational cohort, using the healthy subsample cutoff; 3) to investigate the clinical and demographic factors associated with reduced RVFWLS. Methods: A total of 1,048 participants from the ELSA-Brasil cohort who underwent echocardiography with GLS analysis were included. Among them, we identified a healthy subsample, excluding individuals with cardiovascular and renal diseases, hypertension, or diabetes, to determine the normal range for RVFWLS. The reproducibility of RVFWLS was analyzed using echocardiographic images of 50 participants from a randomly selected sample. In the total sample, we described the prevalence of abnormal RVFWLS, as well as clinical and echocardiographic factors associated with RVFWLS. Results: The healthy subsample (n=527, mean age 50.2 years, 59% women) had a mean RVFWLS value of -28.3% [95% CI: -22.3 to -34.3%] and women had higher absolute values of GLS compared to men, with no differences across ages. The intra-observer reproducibility parameters for RVFWLS demonstrated a coefficient of variation (CV) of 5.1% and an intraclass correlation coefficient (ICC) of 0.78 [95% CI: 0.67-0.89]. The interobserver reproducibility was CV=8.3% and ICC=0.54 [95% CI: 0.34-0.74]. In the total sample (n=1,048), abnormal RVFWLS was detected in 1.6% of participants. Participants in the lowest RVFWLS tertile had higher BMI, higher LV mass, lower LV ejection fraction, larger RV size and worse conventional RV function parameters. Conclusion: We propose reference values for RVFWLS derived from a large healthy sample of middle-aged Brazilians. We found adequate reproducibility of the right ventricular longitudinal strain parameters. Lower right ventricular longitudinal strain values were associated with cardiovascular comorbidities and with ventricular structure and function using frequently employed echocardiographic parameters.