Interação do comportamento reprodutivo com o comportamento de alarme em peixe-zebra (Danio rerio) : papel do sistema serotoninérgico

Abstract

O presente trabalho investigou a relação entre dois comportamentos inatos dos peixeszebra (Danio rerio), a saber, o comportamento de alarme e o comportamento de acasalamento e a influência de um inibidor seletivo de recaptação de serotonina. Em estudo anterior, a interação do comportamento de alarme com o comportamento de acasalamento foi analisadaem resposta aos estímulos olfatórios com o extrato de pele, que provoca reação de medo e o feromônio liberado pela fêmea na fase ovulatória. No presente estudo foi analisada esta interação com estímulos olfatórios quantificáveis. O sulfato de condroitina (1 mg/L) foi utilizado em um aquário-teste como feromônio de alarme para pares de peixes machos ou de fêmeas, e a prostaglandina F2 alfa (PGF2α; 3,5 μl/L) foi administrada como feromônio sexual para cada par de peixes machos. A administração da condroitina na água do aquário provocou a resposta de descida para o fundo do tanque (geotaxia). O tratamento prévio com de fluoxetina (50 μg/L) por uma semana inibiu a resposta ansiolítica dos peixes machos e fêmeas quando introduzidos no aquário-teste (teste do tanque novo), bloqueando também a geotaxia em resposta à condroitina. A administração de PGF2α em um lado do aquário atraiu os peixe-zebras machos para este lado do aquário. O tempo de atração foi maior naqueles sem exposição prévia à fluoxetina. O tempo de atração à PGF2α foi diminuído quando os peixes foram submetidos, também, à presença de condroitina, contudo estes animais que estavam respondendo à PGF2α não mostraram geotaxia emresposta à condroitina. Na interação dos dois comportamentos (resposta à PGF2α seguido de administração de condroitina), o tratamento prévio com fluoxetina inibiu mais a resposta à condroitina do que a resposta sexual, pois, neste teste, o tempo de interação com o feromônio de atração sexual foi similar ao dos peixes expostos à PGF2α com tratamento prévio de fluoxetina e sem condroitina. Os resultados apoiam a viabilidade de estudos do comportamento de alarme com o uso de um estímulo mais quantificável como o sulfato de condroitina em vez do extrato de pele. A condição de, supostamente, maior atividade do sistema serotoninérgico provocado pela administração de fluoxetina reduz ambas as respostas inatas aos feromônios analisados, mas com efeito inibitório maior sobre a resposta de alarme. A possível maior ativação do sistema serotoninérgico não alterou a esperada prioridade da resposta reprodutiva em relação ao comportamento de fuga. A prioridade para a resposta de acasalamento em relação à resposta à estímulos aversivos deve ser levada em conta em situações experimentais em que são mantidos peixezebras adultos machos juntamente com fêmeas em fase ovulatória.

The present study investigated the relationship between two innate behaviors of zebrafish (Danio rerio), alarm behavior and mating behavior, and the influence of a selective serotonin reuptake inhibitor on the expression of these behaviors. The interaction between alarm and courtship behavior has already been analyzed in response to pheromone from skin extract and to pheromone released by the female during the ovulatory phase. The present study analyzed this interaction with olfactory stimuli in a more quantifiable and easily repeatable way that allows better comparison with other studies. As an alarm pheromone, chondroitin sulfate (1 mg/L) was used in the tank test containing apair of male or female fishes, while prostaglandin F2α (PGF2α, 3.5 μl/L) was used as sexual pheromone for each pair of male fish. The administration of chondroitin in the tank water caused geotaxis behavior (dive to the bottom). Pretreatment with 50 μg/L fluoxetine for one week inhibited the anxiolytic response of male and female zebrafish to the novel tank test, andblocking the geotaxis response to condroitin. Administration of PGF2α to one side of the test tank attracted male zebrafish to that side. The sexual attraction response time is greater in those animals without previous exposure to fluoxetine. When male zebrafish were exposed to chondroitin shortly after initiating the attraction response to PGF2α, the time the zebrafish spent on the sex pheromone side of the tank decreased, but they did not show the geotaxis response. When analyzing the interaction of the two behaviors (response to PGF2α followed by administration of chondroitin), it was observed that prior treatment with fluoxetine inhibited the response to chondroitin more than the courtship behavior, as in this context the attraction time to the PGF2α was similar toresponse of zebrafish exposed to PGF2α with prior fluoxetine treatment and without chondroitin. The results indicate the feasibility of studies of aversive behavior using a more quantifiable stimulus such as chondroitin sulfate, instead of skin extract. The condition of supposedly greater activity of the serotonergic system caused by the administration of fluoxetine reduces both innate responses to the pheromones analyzed, but with a greater inhibitory effect on the alarm response. The possible greater activation of the serotonergic system did not change the expected priority of the reproductive response in relation to aversive behavior. The priority for the mating response in relation to the response to aversive stimuli must be considered in experimental approaches, in which adult male zebrafish are kept together in the same tank with females in the ovulatory phase.