Livro das sombras : silêncio e transgressão nos discursos LGBT

Abstract

Este trabalho de conclusão de curso trata dos discursos de pessoas LGBT acerca da discriminação e da militância, contando com a colaboração de dezesseis participantes de Porto Alegre, Gravataí, Canoas e Alvorada. Movido pela minha experiência de sujeito LGBT, estudante militante na graduação e analista de discurso pecheuxtiano, objetivei compreender os discursos, evidenciando efeitos de sentidos relacionados à LGBTfobia e à militância e os modos como esses sentidos se vinculam, ou não, a movimentos de resistência à heteronorma. Na etapa de produção de dados, utilizei questionários virtuais, através da plataforma gratuita Survey Monkey, constituindo, assim, um trabalho qualitativo do tipo estudo de caso a partir das perspectivas de Lüdke e André e Minayo. O questionário convida o respondente a refletir sobre militância, política, ativismo e LGBTfobia. Esta pesquisa justifica-se pela busca de entendimento das possibilidades do dizer de pessoas LGBT, apreendendo como o silenciamento, a interdição do dizer e a transgressão se materializam nos discursos. Através de pesquisa do revisão bibliográfica, percebi a quase inexistência de produções que aproximem Análise de Discurso (AD) e a questão LGBT. Contei com Katz, Simões e Facchini para pensar a história da hetero e da homossexualidade, tratando dos movimentos LGBT na Europa, EUA e no Brasil. Michel Pêcheux e Eni Orlandi são as referências centrais para pensar o jogo do discurso e a relação entre paráfrase e polissemia, possibilitando uma aproximação menos ingênua dos discursos. Fui surpreendido por nove efeitos de sentidos, que revelam como o silêncio está presente nos discursos LGBTs, inscrevendo-se em duas formações discursivas (FD) antagônicas: FD de Gênero Conservadora e FD de Gênero Transgressora. Na primeira, se inscrevem os efeitos de sentido de concessão, de transformação, de militância impessoal, de militância da informação conservadora/iludida e da militância sobrevivente. Na segunda, se inscrevem os efeitos de sentido de militância guardiã, militância manifesto, militância da informação de ruptura e de LGBTfobia inconstitucional. Tais descobertas demonstram que sujeitos e sentidos se constituem na errância, no deslizamento, no intervalo. Demonstram que, mesmo que silenciados em função dos jogos de poder presentes nos jogos de linguagem, LGBTs se constituem no intervalo entre silêncio e transgressão.