Composição musical e nomeação de figuras : intervenção em um caso de demência semântica

Abstract

Intervenções não-farmacológicas em quadros de demência semântica (DS) têm demonstrado evidências de efetividade quando as atividades propostas focalizam um maior número de funções cognitivas envolvidas, com elementos relacionados a vida diária do paciente e objetivando uma habilidade específica a ser desenvolvida. Dentre os possíveis trabalhos com esse público, a literatura tem apontado que intervenções baseadas em música são uma opção, e quando aliadas a atividades de composição e canto, engajam o paciente em tarefas que facilitam o acesso lexical e semântico. Este trabalho apresenta um estudo de caso a partir de uma intervenção de composição musical com uma paciente de 74 anos em um quadro inicial de DS e objetivou investigar os efeitos dessa intervenção na nomeação de trinta figuras do Teste de Nomeação de Boston (TNB). A intervenção foi desenvolvida a partir de um delineamento experimental de caso único com uma linha de base múltipla entre figuras. Das trinta figuras do instrumento, quatro figuras foram alvo da intervenção e vinte e seis ficaram como controle do experimento (não trabalhadas em sessão) Com a duração de cinco semanas e com sessões de cinquenta minutos quatro vezes por semana, foram utilizadas atividades de composição de letras e canto a partir das figuras do TNB que estavam dentro do contexto da paciente. A paciente apresentou um aumento geral no número de figuras nomeadas durante a intervenção. As figuras do grupo intervenção apresentaram resultados diferenciados das demais, com a paciente nomeando espontaneamente e de forma mais frequente essas figuras após o início das atividades específicas de intervenção com cada figura. Além das figuras do grupo intervenção, o aumento na frequência de nomeação do restante das figuras é discutido a partir de dois paradigmas: frame linguístico e frequência na língua portuguesa. Os resultados apoiam a literatura sobre o tema e indicam que esse tipo de atividade pode favorecer não só um maior engajamento em atividades de estimulação cognitiva, mas podem constituir ferramentas valiosas para programas abrangentes de intervenção precoce para pessoas com DS.

Non-pharmacological interventions in semantic dementia (SD) have shown evidence when activities aim to more than one cognitive function, with elements related to patient’s daily life and specific skills to be developed. Among the possible activities, literature has pointed out music-based interventions as an option for people with SD and when combined with singing and composition activities it engages the patient in tasks that may facilitate lexical and semantic access. This paper presents a case study of a music composition intervention with a 74-year-old patient with early-stage SD and aimed to investigate the effects on naming of thirty pictures of the Boston Naming Test (BNT). The intervention used a single-case experimental design with a multiple-baseline between pictures, with four pictures receiving the intervention and twenty-six remaining as control group of the experiment. The intervention lasted five weeks with a fifty-minute session four times a week and involved lyrics composition and singing practice of the composed songs using BTN pictures that were within patient’s context. The patient presented a general increase of pictures named during the intervention. Intervention group pictures presented different results, showing spontaneously and high frequency naming after the start of specific activities for each picture. Naming frequency is discussed from two paradigms: linguistic frame and portuguese language word frequency. The results support the literature on the subject and indicate that this type of activity may favor not only engagement in cognitive stimulation activities but may be valuable for comprehensive early intervention programs for people with SD.