Povos indígenas na ditadura militar : relatos de experiências kaingang no Rio Grande do Sul

Abstract

Este trabalho analisa as experiências e percepções de três indivíduos da etnia kaingang sobre a ditadura militar brasileira no Rio Grande do Sul. Seus depoimentos foram colhidos no contexto de realização desta pesquisa, sendo a etno-história oral a metodologia que guiou a coleta e análise destas fontes. Esta corresponde ao uso conjunto de dois métodos, o da história oral e o da etno-história, unidos neste trabalho pela busca de uma pesquisa mais atenta à situação de contato interétnico colocada. A partir do cruzamento dos relatos destes três indivíduos entre si, e com a reduzida bibliografia existente sobre o tema, é traçado um panorama sobre a vivência dos kaingang no Rio Grande do Sul durante o regime militar, sempre atentando à multiplicidade das narrativas coletadas. Esta monografia seguiu uma cronologia baseada em marcos temporais próprios da etnia, o que implicou na consideração de processos que se estendem pra além dos anos de 1964 e 1985 - datas de início e fim da ditadura militar, respectivamente. Seguindo essa cronologia particular, esse trabalho se estruturou em três eixos principais: um primeiro sobre a administração das áreas indígenas gaúchas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), período conhecido entre os kaingang como “tempo dos panelões”; um segundo sobre a extinção do SPI e criação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em 1967; um terceiro e último sobre a emergência e concretização do movimento kaingang no final dos anos 1970.

This paper analyses the experiences and perceptions of three individuals of the Kaingang ethnic group, from the southern State of Rio Grande do Sul, about the Brazilian military dictatorship. Their testimonies were gathered in the context of this research, being oral ethnohistory the methodology that guided the collection and the analysis of these sources. This methodology corresponds to the simultaneous use of two different methods, oral history and ethnohistory, united in this paper in order to allow a more caring research, which pays proper attention to the cultural distance between the interviewer and the interviewees. The comparison of the three narratives between each other, and also with the small number of academic productions about the theme of this research, will allow an overview about the experience of the Kaingang people in Rio Grande do Sul during the military regime, which will be done always paying attention to the diversity of the narratives collected. This paper follows a timeline based on events relevant for the Kaingang ethnic group, which implied in an investigation that goes beyond the years of 1964 and 1985 - the beginning and finishing dates of the military regime. Following this particular timeline, this work was structured in three main thematic axes: a first one about the administration of the indigenous areas in the state of Rio Grande do Sul by the Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a period known among the Kaingang as the "time of the big pans"; a second one about the extinction of SPI and the creation of the Fundação Nacional do Índio (FUNAI), in 1967; and, at last, a third one about the emergence of the Kaingang organized movement in the late 1970s.