Entre o sentido e o sem-sentido : a posição de escuta em psicanálise

Abstract

Este trabalho aborda a relação entre ética, saber e sentido, e suas implicações na posição de escuta analítica a partir de um caso clínico. Propomos que um denominador comum da prática analítica, seja na neurose, seja na psicose delirante, ou em casos que fogem a estas duas estruturas, é o descolamento entre verdade e saber. Este descolamento permite - e requer - acolher o sem-sentido como portador de uma verdade, operação realizada por Freud na escuta de atos falhos, esquecimentos, sonhos e chistes; e retomada por Lacan no campo das psicoses, a partir da escuta daquilo que organiza um discurso, nas suas manifestações de linguagem, como neologismos e ritornelos. Buscamos colocar uma pergunta sobre o que pode orientar a escuta em um caso em que o sujeito raramente fala em nome próprio. Propomos que as operações de suposição de sujeito e de suposição de sentido podem atuar como balizas nesses casos, possibilitando a produção de um sentido articulada a um discurso repleto de “sem-sentido”. Esta produção situa-se entre o sentido e o sem-sentido, entre o saber e a verdade, de forma que uma posição ativa de não-saber estabeleça condições de possibilidade para a construção de uma história a partir de um fundo de ausência. Essa operação possibilitou construir uma interpretação possível para alguns impasses clínicos, de forma que a retomada de elementos do caso constitua uma rede significante onde um ato pode ser inscrito e escutado.