Trajetórias de uso da terra e seus efeitos sobre comunidades de peixes de riacho no Pampa

Abstract

A perda de cobertura vegetal nativa em bacias hidrográficas afeta as comunidades de peixes de riacho. No entanto, as comunidades de peixes podem não responder imediatamente após a mudança na cobertura da terra, de modo que algumas respostas serão detectáveis apenas anos após a mudança na cobertura da terra. Além disso, os padrões atuais das comunidades aquáticas podem depender não apenas de eventos específicos do passado, mas também do histórico desses eventos ou de algum limiar cumulativo. Neste estudo, investigamos como as trajetórias históricas (1985-2017) da perda de vegetação nativa em bacias hidrográficas afetam as comunidades de peixes em 60 riachos no Pampa. Primeiramente, avaliamos se a riqueza e a composição atuais dos peixes de riacho estão mais relacionadas à cobertura vegetal do passado ou recente da vegetação natural. Em seguida, definimos trajetórias de perda de vegetação como trajetórias de distúrbio da paisagem e testamos se diferentes atributos (frequência, magnitude e duração do distúrbio) afetaram espécies e grupos funcionais de comunidades de peixes em riachos. Construímos trajetórias de perda de vegetação usando dados anuais de uso da terra do Projeto MapBiomas. Descobrimos que a riqueza e composição atual das espécies estão mais relacionadas ao passado (10 a 20 anos antes da amostragem das comunidades) do que à cobertura vegetal na época das coletas. No entanto, também observamos que as respostas de determinadas espécies e grupos funcionais foram dependentes de atributos específicos da trajetória de perturbação. Concluímos que as características atuais da comunidade de peixes podem responder não apenas às condições passadas da bacia, mas também à forma como as condições da bacia mudaram ao longo do tempo (suas trajetórias históricas). Explorar as trajetórias de uso da terra parece uma abordagem promissora para melhorar a compreensão dos efeitos da paisagem na ecolog Explorar as trajetórias de uso da terra parece uma abordagem promissora para melhorar a compreensão dos efeitos da paisagem na ecologia dos riachos, bem como a previsibilidade do atual gerenciamento e planejamento da paisagem nas comunidades de peixes dos riachos.

Loss of native vegetation cover in the watershed affects stream fish communities. However, fish communities may not respond immediately after land cover change takes place, so that some responses will be apparent only years after land cover change. Furthermore, present aquatic community patterns may depend not only on specific events from the past, but on the history of these events or some cumulative threshold. In this study, we investigated how a ca. 30-year (1985-2017) historical trajectory of native vegetation loss in watersheds affected fish communities in 60 streams in the southern Brazilian Pampa. Firstly, we evaluated whether current richness and composition of stream fish are more related to past or to recent natural vegetation cover. We then defined trajectories of vegetation loss as trajectories of landscape disturbance and tested whether different attributes of disturbance (frequency, magnitude and duration) affected particular species and functional groups of stream fish communities. We constructed vegetation loss trajectories using annual land use data from the MapBiomas Project. We found that current species richness and composition were more related to past (10 to 20 years before communities were sampled) than to current vegetation cover. However, we also observed that responses from particular species and functional groups were dependent on specific trajectory attributes. We concluded that present fish community characteristics may respond not only to past watershed conditions, but to how watershed conditions changed over time. Exploring land use trajectories seems a promising approach for improving understanding of landscape effects on streams, as well as the predictability of present landscape management and planning on stream fish communities.