Comparação de cortes transversais do nervo massetérico de cadáveres humanos processados por duas diferentes técnicas histológicas

Abstract

Em cadáveres humanos o estudo histológico de nervos espinais e cranianos tem sido complementar à descrição do seu trajeto anatômico, norteando assim procedimentos cirúrgicos e de bloqueio. O objetivo deste trabalho foi descrever a localização anatômica do nervo massetérico e identificar qual técnica histológica mais indicada para analisar morfometricamente as fibras nervosas mielinizadas de cadáveres fixados pós-congelamento do acervo do Laboratório de Anatomia Humana da UFRGS. Foram utilizados 4 cadáveres caucasianos do gênero feminino com faces íntegras, totalizando 8 hemifaces estudadas. Dois cadáveres foram recém-retirados das cubas de formol e os outros dois já estavam em mesas de estudo há 1 ano e banhados com solução de preservação. O posicionamento do nervo massetérico e da artéria massetérica em relação ao tragus e ao arco zigomático foram registrados através do uso de um paquímetro digital. Em cada hemiface, após o registro de medidas foi coletado um segmento do nervo, antes da sua ramificação, o qual foi dividido em duas partes iguais. Cada parte foi utilizada para uma técnica específica: RA - inclusão em resina acrílica com coloração em Azul de Toluidina e PHE - inclusão em parafina com coloração em Hematoxilina-Eosina. Para análises histológicas e morfométricas, as imagens dos cortes transversais dos nervos do lado direito de dois cadáveres, sendo um da cuba de formol e um da mesa de estudo foram capturadas e digitalizadas com um microscópio Nikon Eclipse E-600 (Japan) acoplado a uma câmera de alta performance CCD. Para análise das imagens foi usado o Software ZEN 2.3 (Zeiss). Foram realizadas medidas da área de secção transversa do nervo e da densidade de fibras nervosas mielinizadas e mensuráveis. De acordo com os resultados o nervo esteve localizado na profundidade do músculo masseter a 32,3±2,6 mm de distância do tragus e a 8,2±0,9 mm de distância do arco zigomático. A artéria massetérica apresentou-se imediatamente posterior e inferior ao nervo em todos os cadáveres. Ambos estavam posicionados a 10,1±0,9 mm da superfície. O cadáver oriundo da cuba apresentou a melhor preservação microscópica do nervo massetérico, quando comparado com o da mesa, e isso ficou melhor evidenciado pelo processamento histológico RA em relação ao PHE. Os axônios do nervo oriundo do cadáver da cuba, processado com a técnica RA, apresentaram-se com aspecto circular bem definido, as bainhas de mielina bem coradas e homogêneas em meio a tecido conjuntivo sem rupturas. Este mesmo nervo no processamento em PHE apresentou-se com retração axonal, má definição das fibras nervosas e com a presença de espaçamentos endoneurais. A área de secção transversa do nervo deste cadáver foi menor que a dos outros e ele também apresentou uma densidade maior de fibras nervosas mielinizadas e identificáveis. Em conclusão, o nervo massetérico esteve localizado a cerca de 3,2 cm anteriormente ao tragus, 0,8 cm inferiormente ao arco zigomático e a cerca de 1 cm de profundidade. A melhor técnica histológica para analisar morfometricamente as fibras nervosas mielinizadas de cadáveres fixados pós-congelamento do acervo do Laboratório de Anatomia Humana da UFRGS foi a RA. Adicionalmente, o corpo oriundo da cuba de formol mostrou ter melhor preservação estrutural do nervo massetérico em comparação com cadáver oriundo das mesas de estudo.

The histological study of spinal and cranial nerves in human cadavers has been complementary to the description of its anatomical path, guiding surgical procedures. The objective of this work was to describe the anatomical location of the masseteric nerve and identify the most efficient histological technique for the morphometric analyses of the myelinated nerve fibers of post-freezing fixed cadavers from the Laboratory of Human Anatomy of UFRGS. Four caucasian female cadavers with intact faces were used, totaling 8 hemifaces studied. Two corpses were freshly removed from the formaldehyde vats and the other two were already on study tables for 1 year and bathed with preservation solution. The positioning of the masseteric nerve and the masseteric artery in relation to the tragus and the zygomatic arch were measured by using a digital caliper. In each hemiface, a nerve segment was collected after measurement immediately before its branching, and was divided into two equal parts. Each part was used for a specific technique: RA - inclusion in acrylic resin with Toluidine Blue staining and PHE - inclusion in paraffin with Hematoxylin-Eosin staining. For the histological and morphometric analyses, the images of the cross-sectional sections of the nerve segments on the right side of two cadavers, one from the formaldehyde vat and one from the study table, were captured and digitized with a Nikon Eclipse E-600 (Japan) microscope coupled to a High performance CCD camera. The software ZEN 2.3 (Zeiss) was used to analyze the images. The cross-sectional area of the nerve and the density of the measurable myelinated nerve fibers were measured. According to the results, the nerve was located at the depth of the masseter muscle at 32.3 ± 2.6 mm from the tragus and at 8.2 ± 0.9 mm from the zygomatic arch. The masseteric artery was immediately posterior and inferior to the nerve in all corpses. Both were positioned at 10.1 ± 0.9 mm from the surface. The cadaver from the vat presented the best microscopic preservation of the massetric nerve when compared to the nerves of the cadaver from the laboratory table. This was further bought to evidence by the RA histological processing in relation to the PHE. The axons of the nerve from the cadaver of the vat processed with the RA technique presented well-defined circular appearance, well-stained and homogeneous myelin sheaths in the middle of connective tissue without ruptures. This same nerve in the PHE processing presented with axonal retraction, poor definition of nerve fibers and with the presence of endoneurial spaces. The cross-sectional area of the nerve from the vat was smaller than that of the others and presented a higher density for myelinated and identifiable nerve fibers. In conclusion, the masseteric nerve was located about 3.2 cm anterior to the tragus, 0.8 cm inferior to the zygomatic arch and about 1 cm deep. The best histological technique for the morphometric analyses of the myelinated nerve fibers of the fixed post-freezing cadavers from the Laboratory of Human Anatomy of UFRGS was RA. Additionally, the cadaver from the formaldehyde vat showed to have better preservation of the massetric nerve in comparison with cadaver from the study tables.