Africanidade como referência epistemológica : especialistas do sagrado e suas cosmo-concepções de cura na Segunda Visitação do Santo Ofício à Salvador (1618)

Abstract

Esta pesquisa reivindica o retorno do encantamento do mundo para a análise histórica como forma de compreensão dos especialistas do sagrado transladados no processo afrodiaspórico. Registrados através do olhar do colonizador, utilizou-se do Paradigma Indiciário como método para, nas entrelinhas das percepções, desencavar o universo simbólico que compunha suas subjetividades. Para tanto, utilizou-se a África Central como referencial epistemológico para compreender as ressignificações e agências exercidas no contexto colonial pelos curandeiros adivinhos identificados no registro da Segunda Visitação do Santo Ofício na cidade de Salvador (1618), e que cosmo-concepções nortearam suas práticas de cura. O principal objetivo foi buscar compreender esses sujeitos e suas práticas a partir de seus próprios referenciais como tática de guerrilha epistemológica contra a perpetuação do colonialismo e da lógica colonial. As janelas abertas permitiram o vislumbramento de um mundo rodeado por sabedorias existenciais repletas de encantamento. Tais sabedorias, submetidas a subordinação e rupturas no Novo Mundo, foram vitais na sobrevivência, reinvenção e agência desses indivíduos que encontraram ousadia para resistir através da sacralidade que permeia sua realidade.

This research claims the return of the enchantment of the world to historical analysis as a way of understanding the specialists of the sacred transferred in the Afro-diasporic process. Registered through the colonizer's gaze, the Evidence Paradigm was used as a method for, between the lines of perceptions, unearth the symbolic universe that made up their subjectivities. In order to do so, Central Africa was used as an epistemological reference to understand the resignifications and agencies exercised in the colonial context by the diviner healers identified in the record of the Second Visitation of the Holy Office in the city of Salvador (1618), and which cosmo-conceptions guided their healing practices. The main objective was to seek to understand these subjects and their practices from their own references as an epistemological guerrilla tactic against the perpetuation of colonialism and colonial logic. The open windows allowed a glimpse of a world surrounded by existential wisdom full of enchantment. Such wisdoms, subjected to subordination and ruptures in the New World, were vital in the survival, reinvention and agency of these individuals who found the courage to resist through the sacredness that permeates their reality.