Análise quantitativa da ocorrência de microplástico no marisco branco (Amarilladesma mactroides (Reeve, 1854)) em uma praia no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Brasil

Abstract

A poluição marinha é definida como a introdução pelo homem de substâncias ou energias, causadoras de diversos efeitos negativos no ambiente e organismos marinhos. O lixo no mar é qualquer material antropogênico sólido descartado que chega ao ambiente marinho, tendo como principal componente as peças plásticas. No ano de 2019, foram produzidas aproximadamente 370 milhões de toneladas de materiais plásticos em nível mundial. O microplástico (MP) é todo material plástico inferior a 5 mm e é considerado um complexo problema ambiental marinho, sendo encontrado nos mais diversos ambientes e organismos. O marisco branco (Amarilladesma mactroides) é uma espécie com grande importância econômica e cultural para a região sul da América do Sul e é um organismo potencialmente vulnerável à poluição por MP por viver em praias arenosas e ser exclusivamente filtrador. Sendo assim, este trabalho se propôs a identificar e quantificar a ocorrência de MP em espécimes de marisco branco coletados na praia de Balneário Pinhal, Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Foram coletados 116 espécimes de marisco branco (65 juvenis e 51 adultos). No laboratório, a análise biológica foi realizada através da digestão da matéria orgânica com o uso de hidróxido de potássio (KOH). Foram quantificados 53 itens plásticos (50 fibras e 3 fragmentos). As fibras de cor preta foram as predominantes na amostragem (52,83 %). Os indivíduos juvenis apresentaram uma abundância (itens g -1 ) de 0,43±0,17, já os adultos apresentaram 0,28±0,23. Foi verificada correlação negativa (r = -0,5486, p<0,001) entre o ciclo de vida e a abundância de MP nos organismos. Estes dados podem indicar que não ocorre um maior acúmulo linear de MP ao longo da vida do marisco branco. Algumas hipóteses, como a maior demanda metabólica para os jovens, a capacidade de egestão das partículas plásticas e a morte dos indivíduos adultos, podem explicar parcialmente esse resultado. Desta forma, as implicações apresentadas comprovam que o marisco branco está contaminado por MP e, embora seja uma amostragem única, este estudo colabora com o crescimento de estudos relacionando o poluente MP com bivalves na América do Sul.

Marine pollution can be defined as the introduction of substances or energies by humans, which may be the reason for several harmful effects on the marine environment and organisms. Litter in the sea is any discarded solid anthropogenic material that reaches the marine environment, with plastic remains as the foremost component. In 2019, approximately 370 million tons of plastic materials were produced globally. Microplastic (MP) is any plastic material smaller than 5 mm and is considered a complex marine environmental issue, found in a wide variety of environments and organisms. The yellow clam (Amarilladesma mactroides) is a bivalve of great economic and cultural importance to the southern region of South America, and it is potentially vulnerable to MP pollution because it lives on sandy beaches and is exclusively a filter-feeder. Thus, this study aimed to identify and quantify the occurrence of MP in specimens of yellow clam collected at Balneário Pinhal beach, the northern coast of Rio Grande do Sul, Brazil. A total of 116 yellow clam specimens (65 juveniles and 51 adults) were recovered. In the laboratory, biological analysis was performed by digestion of organic matter using potassium hydroxide (KOH). Fifty-three plastic items (50 fibers and 3 fragments) were quantified. Black fibers were predominant in the sampling (52.83 %). Juveniles showed an abundance (items g -1 ) of 0.43±0.17, while adults showed 0.28±0.23. A negative correlation (r = -0.5486, p<0.001) was shown between the life cycle and abundance of MP in the organisms. These data may indicate that a greater linear accumulation of MP does not occur throughout the lifespan of yellow clam. Some hypotheses, such as the higher metabolic demand for juveniles, the ability to egest plastic particles, and the death of adult individuals, may partially explain this result. Therefore, the implications presented demonstrate that the yellow clam are contaminated by MP and, although it is a unique sampling, this study contributes to the growth of studies relating the pollutant MP with bivalves in South America.