Etnografia dos valores do trabalho e do dinheiro entre motoristas de aplicativo em Porto Alegre (Brasil) e Atlanta (EUA)

Abstract

Esta é uma pesquisa antropológica sobre os valores do trabalho e do dinheiro entre motoristas de aplicativo, com base em etnografia realizada nas cidades de Porto Alegre (Brasil) e Atlanta (EUA). Com a emergência das "empresas-plataforma" e de consequentes novas condições de trabalho, se reconfiguram as relações das pessoas com a cidade, com o dinheiro e com maneiras de valorizar o trabalho. O transporte por aplicativo se relaciona com a presença do carro na maneira como são pensadas e projetadas as cidades. Descrevo os diferentes perfis que compõem os motoristas de aplicativo e estudo suas estratégias e projetos para entrar e para sair desse setor. Analiso suas técnicas de mapear simbolicamente os territórios urbanos, em termos espaciais e temporais. Acompanhei a gestão cotidiana que esses sujeitos fazem de suas economias, o que envolve os cálculos de metas diárias e os financiamentos e alugueis de veículo. Defendo que o trabalho por aplicativo instaura uma relação particular com o dinheiro, fundamentada na visão da tela e da temporalidade do imediato. Destaco a importância de entender como a estrutura desse tipo de trabalho e as narrativas empresariais se encontram com as concepções populares de classe social e de empreendedorismo, destacando as impressões dos motoristas sobre o processo dos aplicativos terem se tornando uma alternativa de transporte "popular". Por fim, evidencio como a organizações de trabalhadores por aplicativo estão extremamente conectadas com as redes sociais digitais, o que impacta nas maneiras de lidar com a violência urbana, nas comunicações interpessoais e na agregação para luta política. É no processo de configuração dessas organizações que se evidencia o tema da disputa e da luta política por melhores condições de vida.

This is an anthropological about the value of work and money for rideshare drivers, based on an ethnography conducted in the cities of Porto Alegre (Brazil) and Atlanta (US). The rising of gig-platforms companies and subsequent new work conditions reconfigure the relation between persons and cities, money and ways of valuing labor. The rideshare economy is related with the strong presence of the automobile in the way that we think and project our cities. This dissertation describes the different profiles of ride-hailing drivers and their strategies of going in and out of this industry. It analyses their techniques of symbolically mapping of the urban territories in spatial and temporal aspects. It follows the management of the ordinary economy of these drivers, which envelop the calculation of daily goals and the financing or renting their vehicles. It points out that the app-based work creates a particular relation between persons and money, based on the visual presence of value and the temporality of the "instant". It highlights the importance of the understanding of how this type of industry and the enterprises narratives create bounds with the popular conceptions of social class and entrepreneurship. This relation appears on the statements that the drivers make about the fact that rideshare has become a "popular" alternative of urban transportation. It shows how the drivers’ collective organizations is extremely connected with the social media and how this factor impacts on their ways of facing the urban violence, their ways of personal communication and collective political struggle.