Greves, repressão e resistência : uma história comparada dos mineiros de carvão no sul do Brasil (1945-1964)

Abstract

Esta tese tem por objetivo compreender, em perspectiva comparada, as experiências de mobilização e resistência dos trabalhadores e trabalhadoras das minas de carvão do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, entre 1945 e 1964, bem como aspectos da repressão, presente em todo o período, mas aprofundada com o golpe civil militar, que prendeu lideranças dos Sindicatos dos Mineiros. Desde o início do século XX, esses sujeitos realizaram uma série de movimentos grevistas para reivindicarem melhores salários, condições de trabalho, direitos trabalhistas e melhorias nas vilas operárias mineiras. Essas ações, embora possuíssem suas particularidades locais, estavam conectadas nas duas regiões analisadas não só pelas semelhanças das suas pautas, como também pelos representantes eleitos pelos operários para a Federação Interestadual dos Trabalhadores da Indústria de Extração de Carvão, criada no começo da década de 1950, que buscava articular lutas em conjunto com os sindicatos locais, formando-se uma rede de classe que os conectava. Apesar das singularidades do ofício e do local de trabalho dos mineiros, havia um horizonte de expectativa em comum, de crença nas transformações democratizantes e nacionalistas (Reformas de Base) seriam concretizadas ao nível local com a estatização das minas de carvão e na melhoria das condições de vida e de trabalho de toda a população. A despeito de toda a repressão desencadeada nas minas de carvão para impedir as greves, os trabalhadores organizaram-se em sindicatos e realizaram importantes movimentos ao longo do período, com conquistas reais para o conjunto da categoria. Somente com o golpe civil-militar de 1964 que suas principais lideranças foram presas e o conjunto do movimento foi cerceado, o que não impediu, contudo, que novas formas de protesto e de reivindicações emergissem após 1964.

This thesis aims to understand, in a comparative perspective, the mobilization and resistance experiences of workers in the coal mines of Rio Grande do Sul and Santa Catarina, between 1945 and 1964, as well as aspects of repression, present throughout the period, but deepened with the civil-military coup, which arrested leaders of the Miners' Unions. Since the beginning of the 20th century, these workers have carried out a series of strike movements to demand better wages, working conditions, labor rights and improvements in the working villages. These actions, although they had their local particularities, were linked in the two regions analyzed not only by the similarities of their agendas, but also by the representatives elected by the workers for the Interstate Federation of Workers in the Coal Extraction Industry, created in the early 1950s., which sought to articulate struggles with local unions, forming a class network that connected them. Despite the singularities of the miners' craft and workplace, there was a horizon of common expectation, of belief in the democratizing and nationalist transformations (Basic Reforms) that would be implemented at the local level with the nationalization of coal mines and the improvement of conditions of life and work for the entire population. Despite all the repression unleashed in the coal mines to prevent strikes, workers organized themselves into unions and carried out important movements throughout the period, with real achievements for the category as a whole. It was only with the civil-military coup of 1964 that its main leaders were arrested, and the movement curtailed, which did not prevent, however, that new forms of protest and claims emerged from 1964 onwards.

Esta tesis tiene como objetivo comprender, en una perspectiva comparada, las experiencias de movilización y resistencia de los trabajadores de las minas de carbón de Rio Grande do Sul y Santa Catarina, entre 1945 y 1964, así como aspectos de la represión, presentes en todo el período, pero profundizados con el golpe cívico-militar, que arrestó a dirigentes de los Sindicatos Mineros. Desde principios del siglo XX, estos sujetos han realizado una serie de movimientos huelguísticos para exigir mejores salarios, condiciones de trabajo, derechos laborales y mejoras en los pueblos obreros. Estas acciones, si bien tenían sus particularidades locales, estaban conectadas en las dos regiones analizadas no sólo por las similitudes de sus agendas, sino también por los representantes electos por los trabajadores para la Federación Interestatal de Trabajadores de la Industria Extractora del Carbón, creada en el principio de la década de 1950, que buscaba articular luchas junto a los sindicatos locales, formando una red de clases que los conectaba. A pesar de las singularidades del oficio y del lugar de trabajo de los mineros, había un horizonte de expectativa común, de creencia en las transformaciones democratizadoras y nacionalistas (Reformas de Base) que se implementarían a nivel local con la nacionalización de las minas de carbón y el mejoramiento de condiciones de vida y trabajo de toda la población. A pesar de toda la represión desatada en las minas de carbón para evitar las huelgas, los trabajadores se organizaron en sindicatos y realizaron importantes movimientos a lo largo del período, con verdaderas conquistas para el conjunto del rubro. Recién con el golpe de Estado cívico-militar de 1964 se arresta a sus principales líderes y se coarta el movimiento en su conjunto, lo que no impide, sin embargo, que surjan nuevas formas de protesta y reivindicación a partir de 1964.