Sobrevida dos cânceres de mama, ovário e colo uterino no Rio Grande do Sul

Abstract

Os cânceres de mama, ovário e colo uterino são importantes problemas de saúde pública para a população feminina. Contudo, as estimativas de sobrevida obtidas a partir de dados de mundo real são limitadas e sujeitas a vieses, principalmente em países de baixa renda. Além disso, existem variações importantes na sobrevida dessas três neoplasias entre as regiões do mundo. Esta tese de doutorado tem como objetivo estimar a sobrevida dos cânceres de mama, ovário e colo uterino a partir de dados de registros hospitalares de câncer representativos de todas as macrorregiões sanitárias do Rio Grande do Sul (RS) e avaliar o impacto de variáveis socioeconômicas na sobrevida. Trata-se de estudo de coorte retrospectiva de pacientes com câncer de mama, ovário e colo uterino diagnosticados entre 2010 e 2016. O método de Kaplan-Meier foi utilizado para estimar a sobrevida global (SG) e a regressão multivariável de Cox para avaliar o impacto de quatro variáveis socioeconômicas (custeio do tratamento, escolaridade, cor da pele e estado civil) na sobrevida através da estimatiza de hazard ratios (HR). A pesquisa incluiu 16989 pacientes com câncer de mama, 1428 com câncer de ovário e 4078 com câncer de colo uterino. A probabilidade de SG em 5 anos foi de 81% (intervalo de confiança [IC] 95%: 80,4% - 81,6%) para as pacientes com câncer de mama, 52.3% (IC 95%: 48,3% - 56,5%) para as com câncer de ovário e 57,2% (IC 95%: 54,7% - 56,5%) para as com câncer de colo uterino. Nas mulheres com câncer de mama, baixo nível educacional (HR 1,55 IC 95%: 1,4 – 1,71), cor de pele não branca (HR 1,27 IC 95%: 1,12 – 1,45) e estado civil não-casada (HR 1,35 [IC 95% 1,08 – 1,7] nas mulheres solteiras e HR 1,52 [IC 95% 1,25 – 1,85] nas mulheres viúvas/divorciadas) impactaram negativamente a SG independente do estadiamento, enquanto custeio do tratamento teve o estadiamento ao diagnóstico como fator modificador de efeito, sendo o tratamento em serviços públicos associado a pior sobrevida somente para as mulheres diagnosticados com doença com disseminação regional (HR 1,32 IC 95%: 1,01 – 1,74). Estado civil solteira foi o único fator a impactar negativamente a SG das 8 mulheres com câncer de ovário (HR 1,4 IC 95% 1,04 – 1,87) e estado civil divorciada/viúva das pacientes com câncer de colo uterino estadio I (HR 3,41 IC 95% 1,45 – 8,05). Dessa forma, esta tese fornece estimativas da sobrevida global para mulheres com câncer de mama, ovário e colo uterino assistidas em hospitais do RS e que servem como um panorama dos serviços de saúde no estado. Os grupos sociais identificados como tendo pior sobrevida global salientam a importância do suporte social para as pacientes vulneráveis.

Breast, ovarian, and cervical cancers stand as significant public health concerns for the female population. However, survival estimates derived from real-world data remain constrained and subject to biases, particularly in low-income countries. Moreover, noteworthy disparities in the survival rates of these three neoplasms are observable across global regions. The primary objective of this doctoral thesis is to estimate the survival of breast, ovarian, and cervical cancers utilizing data from hospital cancer registries representative of all health regions from Rio Grande do Sul (RS), Brazil, and to assess the impact of socioeconomic variables on survival outcomes. This research is a retrospective cohort study of patients diagnosed with breast, ovarian, and cervical cancers between 2010 and 2016. The Kaplan-Meier method was employed to estimate overall survival (OS), while Cox multivariable regression was utilized to assess the role of four socioeconomic variables (healthcare insurance, educational level, skin color, and marital status) on survival through hazard ratios (HR) estimation. The research comprises 16,989 breast cancer patients, 1,428 ovarian cancer patients, and 4,078 cervical cancer patients. The 5-year OS probability was 81% (95% confidence interval [CI]: 80.4% - 81.6%) for breast cancer patients, 52.3% (95% CI: 48.3% - 56.5%) for ovarian cancer patients, and 57.2% (95% CI: 54.7% - 56.5%) for cervical cancer patients. Among women with breast cancer, lower educational level (HR 1.55 95% CI: 1.4 – 1.71), non-white skin color (HR 1.27 95% CI: 1.12 – 1.45), and unmarried marital status (HR 1.35 [95% CI 1.08 – 1.7] for single women and HR 1.52 [95% CI 1.25 – 1.85] for divorced/widowed women) negatively impacted OS irrespective of disease stage. Healthcare insurance had stage at diagnosis as an effect modified, whereby public insured patients had inferior survival outcomes only for women diagnosed with regionally disseminated disease (HR 1.32 95% CI: 1.01 – 1.74). Single marital status was the sole factor that negatively impacted OS in ovarian cancer patients (HR 1.4 95% CI 1,04 – 1.87), and divorced/widowed marital status in stage I cervical cancer patients (HR 3.41 95% CI 1.45 10 – 8.05). Thus, this thesis provides overall survival estimates for women with breast, ovarian, and cervical cancers, receiving care within RS hospitals, thereby offering an overview of healthcare service effectiveness in the state. The identification of social groups with worse overall survival underscores the significance of social support for vulnerable patients.