O ciclo de megaeventos esportivos no Brasil : soft power, soft disempowerment e a política externa em perspectiva

Abstract

Este trabalho busca realizar uma análise em perspectiva histórica da realização dos megaeventos esportivos no Brasil no período entre 2007 e 2016 e sua relação com a política externa do país. Através da lente teórica da interdependência complexa, de Nye e Keohane, e buscando apoio nos conceitos de soft power e soft disempowerment, inicialmente são contextualizadas as raízes históricas das interconexões entre os domínios do esporte e das relações internacionais, para então direcionar o foco sobre o caso brasileiro. É reconstruída a trajetória histórica pela busca da realização dos megaeventos esportivos no país, até a efetivação das candidaturas, contemplando os Jogos Pan-Americanos de 2007, os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo FIFA de 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. A sequência de megaeventos é situada dentro da política externa dos governos do Partido dos Trabalhadores, bem como as posteriores repercussões nos governos Temer e Bolsonaro. Condicionantes externos, como a Primavera Árabe e os movimentos Occupy, são concatenados com condicionantes e resultantes internos, como as Jornadas de Junho de 2013 – deflagrados pela preparação para os megaeventos. O trabalho conclui que a sequência de megaeventos esportivos, concebida como ferramenta de projeção internacional do país e de consolidação do projeto político do governo de esquerda, acabou por se tornou uma vulnerabilidade, no contexto do crescimento da extrema-direita mundial e da ascensão ao poder no Brasil de um governo de caráter militarizado – para o que contribuiu a performance de atletas militares.

This work seeks to carry out an analysis from a historical perspective of the holding of mega sporting events in Brazil in the period between 2007 and 2016 and their relationship with the country's foreign policy. Through the theoretical lens of complex interdependence, by Nye and Keohane, and seeking support in the concepts of soft power and soft disempowerment, the historical roots of the interconnections between the domains of sport and international relations are initially contextualized, to then direct the focus on the Brazilian case. The historical trajectory is reconstructed through the search for mega sporting events in the country, until the completion of the candidatures, including the 2007 Pan American Games, the 2011 Military World Games, the 2013 Confederations Cup, the 2014 FIFA World Cup and Rio 2016 Olympic and Paralympic Games. The sequence of mega-events is situated within the foreign policy of the Workers' Party governments, as well as the subsequent repercussions on the Temer and Bolsonaro governments. External conditions, such as the Arab Spring and the Occupy movements, are concatenated with internal conditions and results, such as the June Days of 2013 – triggered by the preparation for mega-events. The work concludes that the sequence of mega sporting events, conceived as a tool for the country's international projection and consolidation of the left-wing government's political project, ended up becoming a vulnerability, in the context of the growth of the global extreme right and the rise to power in Brazil of a militarized government – to which the performance of military athletes contributed.

Este trabajo busca realizar un análisis desde una perspectiva histórica de la realización de megaeventos deportivos en Brasil en el período comprendido entre 2007 y 2016 y su relación con la política exterior del país. A través de la lente teórica de la interdependencia compleja, de Nye y Keohane, y buscando apoyo en los conceptos de soft power y soft disempowerment, se contextualizan inicialmente las raíces históricas de las interconexiones entre los dominios del deporte y las relaciones internacionales, para luego dirigir el foco hacia El caso brasileño. La trayectoria histórica se reconstruye a través de la búsqueda de mega eventos deportivos en el país, hasta la culminación de las candidaturas, entre ellas los Juegos Panamericanos 2007, los Juegos Mundiales Militares 2011, la Copa Confederaciones 2013, la Copa Mundial de la FIFA 2014 y los Juegos Olímpicos Río 2016. y Juegos Paralímpicos.La secuencia de megaeventos se sitúa dentro de la política exterior de los gobiernos del Partido de los Trabajadores, así como de las repercusiones posteriores en los gobiernos de Temer y Bolsonaro. Las condiciones externas, como la Primavera Árabe y los movimientos Occupy, están concatenadas con condiciones y resultados internos, como las Jornadas de Junio de 2013, desencadenadas por la preparación de megaeventos. El trabajo concluye que la secuencia de megaeventos deportivos, concebida como una herramienta para la proyección internacional del país y la consolidación del proyecto político del gobierno de izquierda, terminó convirtiéndose en una vulnerabilidad, en el contexto del crecimiento de la extrema derecha global y la ascenso al poder en Brasil de un gobierno militarizado, al que contribuyó la actuación de los atletas militares.