Caracterização de feridas crônicas em cães e gatos : análise clínica, histopatológica e microbiana

Abstract

Na rotina dos hospitais veterinários observam-se inúmeras feridas que já passaram por diferentes tratamentos ou procedimentos cirúrgicos, porém não se obteve êxito na cicatrização. O sucesso da reparação tissular depende da extensão do tecido lesionado, de fatores intrínsecos e extrínsecos à ferida, portanto qualquer alteração que comprometa o estado clínico do paciente e da ferida pode levar ao atraso ou estacionamento do processo cicatricial. Este trabalho teve como objetivo geral realizar a caracterização de feridas crônicas em cães e gatos mediante a avaliação clínica, microbiana e histopatológica. Foram atendidos um total de 16 pacientes portadores de diferentes feridas com histórico recente ou com atraso no processo cicatricial; a caracterização clínica do paciente e da ferida foram realizadas mediante a ficha de avaliação adaptada para esse estudo. A avaliação microbiana do leito da ferida foi realizada através do isolamento bacteriano aeróbico, e posterior identificação das espécies dos isolados de Staphylococcus sp., e teste de sensibilidade a antimicrobianos. A avaliação histológica foi realizada pelas técnicas histoquímicas de Hematoxilina-Eosina (HE) para quantificar as células inflamatórias acidófilas e basófilas presentes no tecido. Os resultados mostraram que as 16 lesões avaliadas se apresentavam com características que sustentavam as fases inflamatórias e proliferativas, e haviam presença de tecidos inviáveis (necrose de liquefação e coagulação) independente do tempo de ferida em que estavam. A bactéria mais isolada do leito das feridas foi o Staphylococcus sp., com predominância da espécie Staphylococcus pseudintermedius. E que as 18 bactérias isoladas do estudo apresentaram resistência frente ao metronidazol. As lesões com tecido de granulação viável mostraram-se com grau acentuado a moderada de fibroblastos e colágeno, e grau diminuído de células inflamatórias, já as lesões com tecidos de granulação inviável mostraram-se com celularidade desordenada para fibroblastos, colágeno e células inflamatórias, tendo predomínio de graus acentuados de inflamação e colágeno. Conclui-se que a caracterização dos tecidos presentes no leito das lesões é um método indispensável para a conduta no manejo clínico de feridas, principalmente para a escolha do tratamento de feridas que não evoluem no processo cicatricial. Pode-se concluir também que as avaliações microscópicas do leito de feridas complexas apresentam auxilio na identificação da fase cicatricial em que a lesão se encontra. E que a não identificação e diferenciação dos sinais clínicos frente a infecção concomitante às características presentes no leito das feridas leva ao uso errôneo de antibioticoterapia sistêmica, culminando a uma alta resistência bacteriana frente ao uso dos antibióticos.

In the routine of veterinary hospitals, there are numerous wounds that have undergone different treatments or surgical procedures, but healing has not been successful. The success of tissue repair depends on the extent of the injured tissue, intrinsic and extrinsic factors to the wound, so any change that compromises the clinical status of the patient and the wound can lead to delay or parking of the healing process. This study aimed to perform the characterization of chronic wounds in dogs and cats through clinical, microbial and histopathological evaluation. A total of 16 patients with different wounds with recent history or with delay in the healing process were treated; the clinical characterization of the patient and the wound were performed using the evaluation form adapted for this study. The microbial evaluation of the wound bed was performed through aerobic bacterial isolation, and subsequent identification of the species of Staphylococcus sp. isolates, and antimicrobial susceptibility test. Histological evaluation was performed by Hematoxylin-Eosin (HE) histochemical techniques to quantify the acidophilic and basophilic inflammatory cells present in the tissue. The results showed that the 16 lesions evaluated had characteristics that supported the inflammatory and proliferative phases, and there was the presence of non-viable tissues (liquefaction and coagulation necrosis) regardless of the time of wound they were in. The bacterium most isolated from the wound bed was Staphylococcus sp., with a predominance of the Staphylococcus pseudintermedius species. And that the 18 bacteria isolated from the study showed resistance to metronidazole. Lesions with viable granulation tissue showed a marked to moderate degree of fibroblasts and collagen, and a decreased degree of inflammatory cells, whereas lesions with non-viable granulation tissue showed disordered cellularity for fibroblasts, collagen and inflammatory cells, having predominance of accentuated degrees of inflammation and collagen. It is concluded that the characterization of the tissues present in the wound bed is an indispensable method for the conduct in the clinical management of wounds, especially for the choice of treatment for wounds that do not evolve in the healing process. It can also be concluded that the microscopic evaluations of the complex wound bed help in the identification of the healing phase in which the lesion is. And that the non-identification and differentiation of clinical signs in the face of infection concomitant with the characteristics present in the wound bed leads to the erroneous use of systemic antibiotic therapy, culminating in a high bacterial resistance to the use of antibiotics.