Abordagem da espiritualidade e religiosidade por profissionais de saúde brasileiros : estudo com base na teoria de resposta ao item

Abstract

Introdução: Considerando que o processo de saúde-doença deve levar em conta os aspectos biopsicossociais e espirituais, modelos de atenção em saúde centrados no paciente pressupõe uma abordagem integral, considerando a espiritualidade e a religiosidade (E/R) em suas abordagens. Objetivo: Estimar a proporção de enfermeiros, médicos e psicólogos brasileiros que abordam na prática clínica questões relacionadas à espiritualidade e à religiosidade e estimar o nível de disposição dos profissionais de saúde em interagir com os pacientes em questões relacionadas a E/R na prática clínica. Métodos: a partir de estudo transversal do tipo web survey, de âmbito nacional, levantou-se dados demográficos e opinião dos médicos, enfermeiros e psicólogos sobre aspectos relacionados a E/R. Para este estudo foi utilizada a Escala de Disposição para Interagir com o Paciente em Questões Relacionadas à E/R, desenvolvida pela Network for Research Spirituality and Health (NERSH) e traduzida para o português brasileiro. As informações foram ajustadas conforme a Teoria de Resposta ao Item (TRI) e realizada regressão de Poisson com variância robusta. Resultados: Dos 1095 participantes, 335 (30,6%) eram enfermeiros, 433 (39,5%) médicos e 327 (29,9%) psicólogos. Destes, 76 (22,7%) da enfermagem, 152 (35,1%) da medicina e 112 (34,3%) da psicologia perguntam frequentemente ou sempre sobre E/R na prática clínica. Houve diferença significativa na frequência de abordagem dos enfermeiros em comparação com médicos (p<0,001) e com psicólogos (p=0,001). Os médicos são mais dispostos em abordar a E/R, com diferença estatística significativa de enfermeiros [DM -0,72, IC 95% BCa (-1,38 – -0,11)] e psicólogos [DM 1,44, IC 95% BCa (0,76 – 2,11)]. Ter treinamento prévio sobre o tema foi a única variável associada à proteção para a baixa disposição no geral em abordar E/R (RP 0,77 IC95% 0,70-0,85; p<0,001) em todas as três profissões avaliadas, apesar da percepção do profissional de treinamento insuficiente não ter sido estatisticamente significativa nestes grupos. Conclusão: Entre os participantes deste estudo, enfermeiros abordam com menos frequência E/R, se comparados com seus pares médicos e psicólogos. Os médicos e os psicólogos apresentam proporções de abordagem da E/R semelhantes, porém são muito diferentes quando se trata do nível de disposição em abordar E/R na prática clínica.

Introduction: Considering that health-disease process must take into account biopsychosocial and spiritual aspects, patient-centered health care models presuppose an integral approach, considering spirituality and religiosity (S/R) in their approaches. Objective: To estimate the proportion of Brazilian nurses, doctors and psychologists who approach issues related to spirituality and religiosity in clinical practice and to estimate the level of willingness of health professionals to interact with patients on issues related to S/R in clinical practice. Methods from a nationwide cross-sectional web survey study, demographic data and opinion of doctors, nurses and psychologists were collected on aspects related to S/R. For this study, the Willingness to interact with patients regarding S/R scale was used, developed by the Network for Research Spirituality and Health (NERSH) and translated into Brazilian Portuguese. The information was adjusted according to Item Response Theory (IRT) and Poisson regression with robust variance was performed. Results: Of the 1,095 participants, 335 (30.6%) were nurses, 433 (39.5%) doctors and 327 (29.9%) psychologists. Of these, 76 (22.7%) from nursing, 152 (35.1%) from medicine and 112 (34.3%) from psychology frequently or always ask about S/R in clinical practice. There was a significant difference in the frequency of approach by nurses compared to doctors (p<0.001) and psychologists (p=0.001). Doctors are more interested in approach E/R, with a statistically significant difference from nurses [MD -0.72, CI 95% BCa (-1.38 – -0.11)] and psychologists [MD 1.44, CI 95% BCa (0.76 – 2.11)]. Having prior training on the topic was the only variable associated with protection for low overall willingness to approach E/R (RP 0.77 95% CI 0.70-0.85; p<0.001) in all three professions evaluated, although the professional's perception of insufficient training was not statistically significant in these groups. Conclusion: Among the participants in this study, nurses approach E/R less frequently compared to their physician and psychologist counterparts. Doctors and psychologists have similar proportions of approaching S/R, but they are very different when it comes to the level of willingness to approach S/R in clinical practice.