Os sentidos do cuidado: a voz de cuidadoras remuneradas de idosos de Porto Alegre

Abstract

Nos últimos tempos, o cuidado tem se demonstrado como uma qualidade básica para a vida do ser humano. Realizado nesta sociedade majoritariamente por mulheres, a invisibilização, a falta de reconhecimento e a precarização desse trabalho, são aspectos encontrados em todos seus níveis. Com as mudanças globais observadas em diferentes setores, o envelhecimento tem se tornado uma das características generalizadas a nível mundial e requer ações e investimentos em todos os sentidos para garantir às pessoas que precisam de cuidados, melhores condições e qualidade de vida. Entende-se a importância de que este cuidado seja exercido por pessoas saudáveis e que, por sua vez, tenham uma relação gratificante com seu trabalho, dado que esses aspectos influenciem na própria qualidade de vida e na das pessoas cuidadas. Com o objetivo de conhecer quem são as trabalhadoras do cuidado, sua saúde e os saberes de seu trabalho, a pesquisa foi aplicada com cuidadoras remuneradas de idosos da cidade de Porto Alegre. Para a realização deste trabalho, foi utilizada a metodologia qualitativa e através de questionários semiabertos e entrevistas semiestruturadas foram analisadas as percepções destas cuidadoras. Participaram da pesquisa 57 pessoas, sendo a maioria mulheres, com uma média de 48,8 anos, dentre as quais 75% completaram o ensino médio. Observa-se também que 81% não têm carteira de trabalho assinada e que 68% recebem até 3 salários mínimos pelo trabalho de cuidado. As jornadas laborais são intensas, com mais de 40 horas semanais de acordo com 65% das participantes. As cuidadoras têm uma percepção de sua saúde e qualidade de vida positiva e apresentam como problemas relacionados ao trabalho “dores na coluna” e “estresse”. A maioria descreve o trabalho de cuidado como gratificante, relatando como principal motivação o “amor e a atenção”, assim como “responsabilidade e gratificação'', além de “doação e empatia”. Como características negativas, foram assinaladas pelas cuidadoras, falta de reconhecimento, jornadas laborais muito extensas e dificuldades de comunicação com a família da pessoa cuidada. O envolvimento emocional e a morte do paciente foram outros pontos sinalizados como importantes na relação do cuidado. A percepção de seu trabalho de cuidado como prática significativa e valiosa para a sociedade permeia o discurso destas trabalhadoras.

Care has been recently proved to be a basic quality for human life. In this society it is provided mainly by women and characterised in all levels by invisibility, lack of recognition and precariousness. Along other global changes observed across different sectors, aging is one of the worldwide characteristics that requires actions and investment in all directions, in order to guarantee better conditions and quality of life to people who need care. It is of essential importance that care be provided by healthy people who have a rewarding relationship with their work and a general good quality of life. In order to know more about who they are, their health as caregivers and their working knowledge of care work, the research was focused on professional caregivers for the elderly in the city of Porto Alegre. The research was done using a qualitative method which included semi-open questionnaires to analyze the perception of the caregivers. 57 people participated in the research, most of them women of 48.8 years in average and 75% of them had completed high school education. It was also observed that 81% did not have a formal contract and 68% earned up to 3 minimum wages. 65% of the participants reported their working hours to be intense, ranging between 40 and 50 hours a week. Caregivers presented a general positive perception of their health and quality of life at work, reporting “back pain” and “stress” as generic problems related to their profession. Most of them described care work as rewarding, reporting that their motivation is “love and attention”, “responsibility and gratification” as well as “solidarity and empathy”. Lack of recognition, long working hours and difficulties of communication with the family of the person being cared for, were the main negative characteristics pointed out. The emotional involvement with the patient and their death was another point signaled as important in the care relationship. The perception of their care work as a significant and valuable practice for society permeates the speech of these workers.