Aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes com Cycas revoluta em cães registrados pelo Centro de Informação Toxicológica (CIT-RS) entre 2012-2022

Abstract

Intoxicações por plantas ornamentais são frequentes na rotina clínica de pequenos animais. Cycas revoluta tem sido frequentemente utilizada na ornamentação de residências e locais públicos de acesso aos cães. Esta planta ornamental está relacionada com casos de intoxicação em cães, cuja gravidade pode variar, resultando em danos hepáticos, distúrbios gastrointestinais e neurológicos. Devido à escassez de estudos abordando a intoxicação por Cycas revoluta em cães e a importância do tema, o presente estudo teve como objetivo abordar os aspectos epidemiológicos e clínicos dos acidentes com essa planta na espécie canina no Rio Grande do Sul, registrados pelo Centro de Informação Toxicológica (CIT-RS), no período de 1 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2022. Durante o período de estudo, foram registrados 70 casos de intoxicação por Cycas revoluta. Em relação ao sexo dos cães, 37/69 (54%) eram machos e 32/69 (46%) fêmeas, e o maior número de acidentes ocorreu na faixa etária entre 0 e 2 anos, com 47/59 casos (80%). Dos casos com informações referentes à zona de exposição (n=69), a zona urbana representou todos os acidentes, sendo a residência, o local mais frequente com 62/70 casos (89%). Houve predomínio dos acidentes na região metropolitana de Porto Alegre, com 58/70 casos (83%). O tempo de exposição compreendido entre a ingestão da planta e o atendimento pelo CIT-RS foi mais frequente acima de 5 dias (13/57; 23%), seguido pelo tempo de 13 a 24 horas (11/57; 19%). Os principais sinais clínicos observados nos cães incluíram vômito (49/63), prostração (20/63), diarreia (12/63), ascite (7/63), sinais neurológicos (6/63) e dor abdominal (4/63). Exames laboratoriais (n=63) constavam em 11 casos. Os parâmetros que indicavam alterações hepáticas foram os mais frequentes e incluíram: aumento das atividades das enzimas alanina aminotransferase (ALT) (7/11), aspartato aminotransferase (AST) (4/11) e fosfatase alcalina (FA) (4/11). A primavera e o outono foram as estações do ano (n=55) com maiores frequências. A caracterização dos aspectos epidemiológicos e clínicos da intoxicação por Cycas revoluta em cães possibilita melhor capacitação de médicos veterinários e profissionais da área. A percepção da intoxicação pelos tutores e o atendimento veterinário precoce, seguidos de uma correta anamnese, permitem o rápido diagnóstico e a implementação do tratamento.

Intoxication by ingestion of ornamental plants is frequent in the clinical routine of domestic animals. Cycas revoluta is commonly used in houses and public landscaping, where dogs have easy access. This plant may cause intoxication in dogs, and the severity of toxicosis is variable including liver damage, and gastrointestinal and neurological disorders. Due to the scarcity of studies addressing cases of Cycad palm intoxication in dogs, the present study aimed to evaluate epidemiological and clinical features of Cycas revoluta accidental ingestion in dogs, in the state of Rio Grande do Sul, which were documented by Centro de Informação Toxicológica (CIT-RS) from January 1st 2012 to December 31st 2022. During the studied period, 70 cases of Cycas revoluta intoxication in dogs were documented. Regarding the sex of animals 37/69 (54%), were males, 32/69 (46%) were females, and the majority of plant accidental ingestion occurred in dogs ranging from 0 to 2 years old, representing 47/59 (80%) cases. Of the accidents which the exposure zone was documented (n=69), the urban area comprised all of the cases, being the domicile the most common place for accidental ingestion with 62/70 cases (89%). The metropolitan area represented the most common area of accidents with 58/70 (83%). Regarding the exposure time from the plant ingestion to the contact with CIT-RS it took mostly over 5 days (13/57; 23%), followed by 13-24 hours (11/57; 19%). The most common clinical signs were vomiting (49/63), prostration (20/63), diarrhea (12/63), ascites (7/63), neurological signs (6/63) and abdominal pain (4/63). Laboratory data were available for 11 cases (n=63). Most dogs presented hepatic insult, with increased serum levels of liver enzymes such as alanine transaminase (ALT) (7/11), aspartate aminotransferase (AST) (4/11) and alkaline phosphatase (ALP) (4/11). Spring and autumn were the seasons with the highest frequency of intoxications (n=55). The characterization of the epidemiological and clinical aspects of poisoning by Cycas revoluta in dogs allows a better training of veterinarians and related professionals. The perception of poisoning by tutors and early veterinary care, followed by a correct anamnesis, enable a quick diagnosis and correct implementation of treatment.