Associação entre políticas públicas de alimentação e saúde no ambiente escolar e marcadores de consumo de estudantes brasileiros : resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), 2019

Abstract

Introdução: A alimentação é um direito social e as políticas públicas de saúde e alimentação visam a prática da alimentação saudável, promoção e proteção da saúde. Objetivo: Avaliar as associações da adoção de diretrizes de políticas de saúde e alimentação com marcadores de consumo alimentar de escolares, em escolas públicas brasileiras. Metodologia: estudo transversal, com dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019, com estudantes de 13 a 17 anos de idade. Foram incluídos apenas escolas públicas e três conjuntos de variáveis dos seguintes indicadores foram analisados: perfil sociodemográfico, marcadores de consumo alimentar e o desenvolvimento de ações, nas escolas, relacionadas as diretrizes de políticas públicas de alimentação e saúde. As análises foram realizadas no software RStudio, e utilizou-se o pacote survey a fim de considerar a amostragem complexa. A análise descritiva das variáveis realizou-se por meio de intervalo de confiança de 95% (IC 95%) para as variáveis categóricas. Todas as análises incorporam as características do plano amostral complexo da PeNSE 2019 e foram realizadas no software RStudio (R Foundation for StatisticalComputing, Boston, EUA), utilizando o comando 'svy'. As associações entre o desenvolvimento de ações relacionadas as diretrizes de políticas públicas de saúde e alimentação e o consumo regular dos marcadores alimentares foram avaliadas por regressão logística. Resultados: a amostra foi de 64.540 estudantes e maioria de cor da pele preta ou parda (57,3%). O consumo do café da manhã em cinco ou mais dias da semana foi relatado pela maioria dos adolescentes (60,9%), assim como realizar o almoço ou jantar com o pai, mãe ou responsável (69,9%). A frequência de consumo saudável foi de 59,4% para o feijão, 27,7% para as frutas e 29,4% para os legumes e vegetais. A alimentação escolar foi consumida diariamente por 23,2% dos estudantes. Os alimentos não saudáveis tiveram prevalência de consumo (≥ 5 vezes na semana) de 32,2% para guloseimas, 17% para refrigerantes e 5,8% para fast food. Sobre Políticas Públicas, 42% das escolas têm PSE, 67,1% desenvolvem ações de promoção da alimentação saudável e prevenção da obesidade e 68,2% atuam em conjunto com UBS. Após os ajustes, estudantes de escolas com PSE tiveram maior chance de consumo de feijão em 5 ou mais dias da semana nas regiões Nordeste (OR=1,27; IC95%: 1,03; 1,58), Norte (OR=1,70; IC95%:1,26-2,30) e Centro-Oestes (OR=1,18 IC95%: 1,03-01,36). Legumes/verduras tiveram chance de consumo em 5 ou mais dias da semana maior na Região Nordeste (OR=1,11; IC95%:1,00-1,24). No Brasil houve 13% menor chance de os adolescentes consumirem guloseimas 5 vezes ou mais na semana (OR=0,87; IC95%:0,82-0,94), quando comparado com as escolas sem PSE. Na Região Sudeste a chance também é 17% menor (OR=0,83; IC95%: 0,73-0,95), e na Região Sul é 16% menor (OR=0,84; IC95%: 0,73-0,97). Para as frutas, os dados mostram que a chance de consumo em 5 ou mais dias da semana é maior na Região Nordeste (OR=1,13 IC95%:1,01-1,25) entre os estudantes de escolas com PSE. Após os ajustes, observou-se, para o Brasil, chance 16% menor de os estudantes consumirem refrigerante em 5 ou mais dias da semana (OR=0,84; IC95%: 0,75-0,93). Em escolas que executaram ações de promoção da alimentação saudável e prevenção da obesidade, os estudantes apresentaram chance maior de consumir feijão em 5 ou mais dias da semana na Região Nordeste (OR=1,27; IC95%:1,02-1,57) e na Região Norte (OR=1,60; IC95%:1,14-2,25). A chance de consumo de legumes/verduras em 5 ou mais dias da semana foi maior na Região Nordeste (OR=1,21; IC95%:1,08-1,36). A chance de consumo de frutas em 5 ou mais dias da semana foi maior entre os estudantes da Região Norte (OR=1,18; IC95%:1,01-1,37). As ações conjuntas da escola com a Unidade Básica de Saúde resultaram em maior chance de consumo de legumes/verduras em 5 ou mais dias da semana entre os estudantes da Região Norte (OR=1,37; IC95%:1,05;1-78%).

Introduction: Food is a social right and public health, and food policies aim to promote healthy eating and health promotion and protection. Objective: Evaluate the associations between the adoption of health and food policy guidelines and food consumption markers of schoolchildren in Brazilian public schools. Methodology: cross-sectional study using secondary data from the 2019 National School Health Survey (‘PeNSE 2019’), with students aged 13 to 17 years. Only public schools were included, and three sets of variables from the following indicators were analyzed: sociodemographic profile, food consumption markers, and the development of actions in schools related to public food and health policy guidelines. The analyses were performed using the RStudio software, and the survey package was used to consider complex sampling. The descriptive analysis of the variables was performed using a 95% confidence interval (95% CI) for categorical variables. All analyses incorporated the characteristics of the ‘PeNSE 2019’ complex sampling plan and were performed using RStudio software (R Foundation for Statistical Computing, Boston, USA), using the 'svy' command. The associations between the development of actions related to public health and food policy guidelines and the regular consumption of food markers were assessed by logistic regression. Results: the sample consisted of 64,540 students, the majority of whom were black or brown (57.3%). Most adolescents reported eating breakfast on five or more days a week (60.9%), as well as having lunch or dinner with their father, mother or guardian (69.9%). The frequency of healthy consumption was 59.4% for beans, 27.7% for fruits and 29.4% for vegetables. School meals were consumed daily by 23.2% of students. Unhealthy foods had a prevalence of consumption (≥ 5 times a week) of 32.2% for sweets, 17% for soft drinks and 5.8% for fast food. Regarding Public Policies, 42% of schools have Health at School Program (‘PSE’), 67.1% develop actions to promote healthy eating and prevent obesity and 68.2% work together with Basic Health Unit. After adjustments, students from schools with ‘PSE’ had a greater chance of consuming beans on 5 or more days a week in the Northeast (OR=1.27; 95%CI: 1.03; 1.58), North (OR=1.70; 95%CI: 1.26-2.30) and Midwest (OR=1.18; 95%CI: 1.03-01.36) regions. Vegetables/greens had a higher chance of being consumed on 5 or more days a week in the Northeast Region (OR=1.11; 95%CI: 1.00-1.24). In Brazil, there was a 13% lower chance of adolescents consuming sweets 5 or more times a week (OR=0.87; 95%CI: 0.82-0.94), when compared to schools without ‘PSE’. In the Southeast Region, the chance was also 17% lower (OR=0.83; 95%CI: 0.73-0.95), and in the South Region it was 16% lower (OR=0.84; 95%CI: 0.73-0.97). For fruits, the data show that the chance of consumption on 5 or more days a week is higher in the Northeast Region (OR=1.13; 95%CI: 1.01-1.25) among students in schools with ‘PSE’. After adjustments, it was observed, for Brazil, a 16% lower chance of students consuming soft drinks on 5 or more days of the week (OR=0.84; 95%CI: 0.75-0.93). In schools that implemented actions to promote healthy eating and prevent obesity, students were more likely to consume beans on 5 or more days of the week in the Northeast Region (OR=1.27; 95%CI: 1.02-1.57) and in the North Region (OR=1.60; 95%CI: 1.14-2.25). The chance of consuming vegetables on 5 or more days of the week was higher in the Northeast Region (OR=1.21; 95%CI: 1.08-1.36). The chance of consuming fruits on 5 or more days of the week was higher among students in the North Region (OR=1.18; 95%CI: 1.01-1.37). Joint actions between the school and the Basic Health Unit resulted in a greater chance of consuming vegetables on 5 or more days of the week among students in the North Region (OR=1.37; 95%CI: 1.05; 1-78%)