Infraestrutura cicloviária como via de acesso a parques urbanos : análise da acessibilidade e das desigualdades socioespaciais em cidades brasileiras
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Data
2024Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
A mobilidade por bicicleta tem grande potencial de transformar as cidades, visto que contribui com a redução das emissões de poluentes no setor de transporte, beneficia a saúde da população e promove maior qualidade ao espaço urbano. Para que ela se consolide e ganhe escala no cotidiano das cidades brasileiras, é fundamental a existência de infraestrutura dedicada, que propicia viagens mais rápidas, seguras e confortáveis. Além disso, a infraestrutura deve proporcionar o acesso a diferentes esp ...
A mobilidade por bicicleta tem grande potencial de transformar as cidades, visto que contribui com a redução das emissões de poluentes no setor de transporte, beneficia a saúde da população e promove maior qualidade ao espaço urbano. Para que ela se consolide e ganhe escala no cotidiano das cidades brasileiras, é fundamental a existência de infraestrutura dedicada, que propicia viagens mais rápidas, seguras e confortáveis. Além disso, a infraestrutura deve proporcionar o acesso a diferentes espaços e equipamentos urbanos, dentre eles os parques, que – assim como a bicicleta – contribuem para a qualidade urbana. O Brasil tem observado uma expansão significativa da infraestrutura cicloviária nos últimos anos, mas ela costuma ser construída de forma fragmentada e não integrada ao planejamento urbano, geralmente priorizando regiões de maior poder aquisitivo, de forma que não contribui para o acesso às oportunidades urbanas, ou o faz de forma desigual. Esta pesquisa buscou compreender se, e em que grau, a infraestrutura cicloviária nas cidades brasileiras proporciona o acesso por bicicleta a parques urbanos, e avaliar as desigualdades nesse acesso entre diferentes estratos de renda. A análise quantitativa espacial foi dividida em quatro etapas e utilizou dados abertos colaborativos ou oficiais (OpenStreetMap, IBGE e IPEA), que foram processados através de scripts em linguagem Python. As duas primeiras etapas abrangeram 20 das maiores cidades do Brasil e avaliaram a distribuição da rede cicloviária e dos parques no espaço através de medidas geométricas e topológicas para a rede cicloviária e de estatística espacial para os parques urbanos. As seis cidades com melhores resultados nas medidas da rede cicloviária (Belém, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife e São Paulo) foram então selecionadas para as etapas seguintes, que consistiram em calcular a acessibilidade a parques urbanos considerando rotas que priorizem a rede cicloviária e avaliar as desigualdades socioespaciais. Os resultados mostram que a rede cicloviária apresenta atributos espaciais bastante distintos nas cidades analisadas, como no caso de Fortaleza, que apresenta alta abrangência e conectividade, e de São Luiz, que possui rede pequena e fragmentada. Os parques também apresentam comportamento variado, tendo distribuição altamente concentrada em áreas centrais em casos como Belém, e dispersa em outros, como em Curitiba. Em relação à acessibilidade, uma pequena parcela da população consegue acessar parques ao considerar rotas que possuem um percentual maior ou igual a 60% de infraestrutura cicloviária, especialmente para rotas de menor extensão (até 3 km). Ao desagregar os resultados por decis de renda, observou-se grande desigualdade no acesso entre os mais ricos e mais pobres, de forma que as classes mais altas possuem mais acesso. Conclui-se, portanto, que apesar do aumento da implantação de infraestrutura cicloviária no Brasil, ela não proporciona acesso aos parques urbanos de forma significativa, mesmo em cidades que possuem rede melhor distribuída no espaço. Ainda, conclui-se que nos casos em que a acessibilidade existe, ela é desigual, favorecendo as localizações residenciais de maior renda. Espera-se que o trabalho contribua para que o planejamento das cidades brasileiras promova redes cicloviárias mais robustas e que conectem as pessoas aos parques urbanos, assim como promover a reflexão sobre como a provisão dessas infraestruturas é desigual no espaço, prejudicando as classes menos favorecidas. ...
Abstract
Bicycle mobility has great potential to transform cities, as it contributes to reducing pollutant emissions in the transportation sector, benefits public health, and promotes greater quality in urban spaces. For cycling to consolidate and scale in Brazilian cities, the existence of dedicated infrastructure is essential to provide faster, safer, and more comfortable travel. In addition, this infrastructure should provide access to various urban spaces and facilities, including parks, which – lik ...
Bicycle mobility has great potential to transform cities, as it contributes to reducing pollutant emissions in the transportation sector, benefits public health, and promotes greater quality in urban spaces. For cycling to consolidate and scale in Brazilian cities, the existence of dedicated infrastructure is essential to provide faster, safer, and more comfortable travel. In addition, this infrastructure should provide access to various urban spaces and facilities, including parks, which – like bicycles – contribute to urban quality. In recent years, Brazil has seen a significant expansion of cycling infrastructure, but it is usually built in a fragmented manner and not integrated into urban planning, typically favoring wealthier regions, so that it does not contribute to access to urban opportunities or does so unequally. This research aims to understand whether and to what extent cycling infrastructure in Brazilian cities provides access by bicycle to urban parks, and to assess inequalities in this access among different income strata. The spatial quantitative analysis of this study was conducted in four stages, utilizing open collaborative and official data (OpenStreetMap, IBGE, and IPEA), processed through Python scripts. The first two stages focused on 20 of Brazil's largest cities, analyzing the distribution of the cycling network and parks using geometric and topological measurements for the cycling network and spatial statistics for urban parks. Subsequently, six cities (Belém, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Recife, and São Paulo) with the best cycling network metrics were selected for further analysis. These stages involved calculating accessibility to urban parks based on routes that prioritize cycling infrastructure and evaluating socio-spatial inequalities. The results indicate significant variation in the spatial attributes of the cycling networks in the analyzed cities, as in Fortaleza, which has high coverage and connectivity, and São Luiz, which has a small and fragmented network. The distribution of parks also varies, with some cities like Belém showing concentration in central areas, while others like Curitiba have a more dispersed distribution. In terms of accessibility, only a small portion of the population can access parks when considering routes with at least 60% cycling infrastructure, especially for shorter routes (up to 3 km). Disaggregating the results by income deciles reveals considerable inequality in access, with wealthier groups enjoying better access. The study concludes that despite the expansion of bike lanes and paths in Brazil, cycling infrastructure does not significantly improve access to urban parks, even in cities with relatively well-distributed networks. Moreover, where accessibility exists, it is often inequitable, favoring higher-income neighborhoods. It is expected that this work will contribute to the planning of Brazilian cities by promoting more robust cycling networks that connect people to urban parks, as well as encouraging reflection on how the provision of these infrastructures is uneven across space, disadvantaging lower-income groups. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Arquitetura. Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional.
Coleções
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Ciências Sociais Aplicadas (6251)
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