Identidade e exclusão : análise das estratégias discursivas de Donald Trump na eleição de 2016

Abstract

Esta pesquisa trabalha a temática da mobilização de identidades nacionais com o intuito de promover tanto o pertencimento quanto a exclusão social, por meio de estratégias discursivas. Assim, explora-se o contexto de construção do fenômeno de co-constituição do imigrante como o “outro” e de transformação da identidade nacional. Esse conjunto de dinâmicas podem ser observadas nos discursos de Donald Trump, em sua campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos das Américas de 2016, visto que seu projeto político buscou mobilizar o eleitorado por meio de narrativas acerca de ameaças ao Estado e seus cidadãos, representadas pela figura de imigrantes. Diante disso, a pesquisa é orientada pela seguinte questão: As estratégias discursivas de Donald Trump, durante a campanha eleitoral de 2016, articularam um projeto de cidadania restritivo? A hipótese investigada propõe que Donald Trump articulou estratégias discursivas voltadas para a construção de um projeto político de pertencimento a uma identidade nacional específica, promovida por meio de retóricas de medo e da culpabilização de imigrantes pelas crises domésticas. O objetivo geral deste trabalho é analisar 31 discursos eleitorais de Donald Trump, proferidos durante a campanha de 2016, com o intuito de compreender a operação das estruturas legais de poder nos discursos com relação aos imigrantes. Em termos específicos, busca-se compreender os conceitos e processos desenvolvidos, bem como analisar o contexto eleitoral e socioeconômico de 2016 e as dinâmicas de exclusão presentes no projeto político de pertencimento de Trump, e, por fim, identificar as práticas discursivas em torno da temática migratória. Para tanto, o trabalho adota uma metodologia de Análise Crítica de Discurso, a partir da abordagem da Escola de Viena, com enfoque histórico-discursivo conforme elaborado por Ruth Wodak. A partir disso, parte-se da identificação de estratégias discursivas de construção e transformação da identidade nacional estadunidense. Os resultados obtidos na pesquisa apontam que a retórica discursiva trumpista mobilizou fronteiras para delimitar o pertencimento ao grupo nacional em oposição aos “outros”, a cidadania foi instrumentalizada como um mecanismo político de exclusão, fortalecendo o empreendimento etnopolítico de modo a estabelecer barreiras formais ao acesso ao Estado e reforçando hierarquias sociais e políticas que sustentam desigualdades estruturais.

This research addresses the theme of the mobilization of national identities to promote both belonging and social exclusion through discursive strategies. It explores the context of constructing the phenomenon of co-constituting the immigrant as the "other" and transforming national identity. These dynamics can be observed in Donald Trump's speeches during his 2016 presidential campaign in the United States, as his political project sought to mobilize the electorate through narratives of threats to the state and its citizens, represented by the figure of immigrants. Given this, the research is guided by the following question: Did Donald Trump's discursive strategies during the 2016 electoral campaign articulate a restrictive citizenship project? The investigated hypothesis posits that Donald Trump employed discursive strategies aimed at constructing a political project of belonging to a specific national identity, promoted through rhetoric of fear and the scapegoating of immigrants for domestic crises. The general objective of this study is to analyze 31 electoral speeches delivered by Donald Trump during the 2016 campaign to understand how legal structures of power operate in these discourses concerning immigrants. Specifically, the research seeks to comprehend the concepts and processes developed, analyze the electoral and socioeconomic context of 2016 and the dynamics of exclusion present in Trump's political project of belonging, and, finally, identify the discursive practices surrounding the migration theme. To achieve this, the study adopts the Critical Discourse Analysis methodology, following the Vienna School's approach, with a historical-discursive focus as elaborated by Ruth Wodak. From this perspective, the research identifies discursive strategies for constructing and transforming U.S. national identity. The findings indicate that Trump's discursive rhetoric mobilized boundaries to delineate belonging to the national group in opposition to the "others." Citizenship was instrumentalized as a political mechanism of exclusion, reinforcing an ethnopolitical project aimed at establishing formal barriers to state access and reinforcing social and political hierarchies that sustain structural inequalities.