Valores em um mundo encantado : uma leitura de A abolição do homem de C. S. Lewis

Abstract

O debate sobre valores morais e transcendência transita entre visões relativistas e abordagens que buscam fundamentos objetivos. Em um período marcado por significativas mudanças culturais, com novas concepções de conhecimento e avanços científicos que estimularam uma visão de mundo mais cientificista, as obras de C. S. Lewis (1898 – 1963), célebre acadêmico de Oxford e Cambridge, refletem um profundo engajamento com as questões filosóficas e morais de seu tempo. Em “A abolição do homem”, ele propõe uma crítica ao relativismo moral de seu período e à tendência de se desvincular valores éticos de uma base transcendente. No entanto, por focar nas consequências práticas da rejeição aos valores objetivos, o argumento de Lewis ainda pode enfrentar alguns obstáculos em relação a solução que ele propõe. O presente trabalho identifica e esclarece uma dificuldade do argumento de Lewis em relação ao fundamento intelectual da defesa dos valores objetivos. Para isso, são utilizadas outras obras do autor e o pensamento de William James que oferecem uma perspectiva sobre a predisposição do indivíduo para acessar verdades sobre a realidade. Essa abordagem sugere que a compreensão dos valores objetivos não é apenas uma questão de racionalidade, mas também de uma disposição emocional e espiritual que permite ao ser humano reconhecer e se conectar com o transcendente.