Adesão ao tratamento no hipotireoidismo : métodos de avaliação e estratégias para otimizar o uso da levotiroxina

Abstract

O hipotireoidismo é uma doença endócrina comum que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A manutenção dos níveis de tireotrofina (TSH) dentro da faixa-alvo é essencial para um tratamento eficaz, mas a adesão ao tratamento com levotiroxina representa um desafio. Ainda há lacunas sobre a acurácia de instrumentos de avaliação de adesão e sobre o impacto de estratégias de flexibilização posológica. O objetivo desta tese é abordar a complexidade do tema da adesão ao tratamento no hipotireoidismo, através da análise de métodos de avaliação da adesão à LT4 e sua associação com o controle do TSH em diferentes contextos clínicos, além de revisar as evidências de eficácia de estratégias alternativas de administração da levotiroxina. Esta tese é composta por dois artigos originais para atingir estes objetivos propostos. O primeiro artigo consiste em um estudo transversal com 185 pacientes com hipotireoidismo atendidos em três níveis de atenção à saúde, nos quais foram aplicadas escalas validadas de adesão (MMSA-4, MMSA-8 e BMQ), associando seus resultados ao TSH. O segundo artigo se trata de uma revisão sistemática com meta-análise e trial sequential analysis (TSA) de 11 ensaios clínicos randomizados avaliando o impacto da administração noturna ou semanal da LT4 sobre o controle do TSH. No estudo primeiro artigo foram obtidos resultados de 60% dos pacientes considerados aderentes segundo as escalas, embora 82% estivessem com TSH no alvo. As perguntas sobre esquecimento e atenção ao horário foram mais sensíveis para triagem de não adesão. A revisão sistemática indicou que a administração noturna da LT4 é tão eficaz quanto a matinal, e que a administração semanal, embora mantenha o TSH dentro da faixa de referência, resulta em níveis ligeiramente mais elevados. A análise da TSA indicou que o tamanho de informação necessário foi atingido para dose noturna. A adesão à levotiroxina pode não ser adequadamente identificada, por tratar-se de um problema multifatorial. Estratégias simples de triagem com perguntas-chave podem ser úteis na prática clínica para identificar pacientes com problema de adesão à LT4. Alternativas posológicas de LT4 são eficazes e devem ser consideradas em planos terapêuticos personalizados para determinados perfis de pacientes.

Hypothyroidism is a common endocrine disorder that significantly impacts patients’ quality of life. Maintaining serum thyrotropin (TSH) levels within the target range is essential for effective treatment; however, adherence to levothyroxine (LT4) therapy remains a clinical challenge. Gaps persist regarding the accuracy of medication adherence assessment tools and the impact of posological flexibility strategies. This thesis aims to explore the complexity of medication adherence in hypothyroidism through the analysis of methods for evaluating adherence to LT4 and its association with TSH control in different clinical settings, as well as by reviewing evidence on the efficacy of alternative LT4 administration strategies. The thesis comprises two original articles developed to address these objectives. The first article reports a crosssectional study involving 185 patients with hypothyroidism followed at three levels of healthcare. Validated adherence scales (MMSA-4, MMSA-8, and BMQ) were applied, and their results were analyzed in relation to TSH levels. The second article is a systematic review with meta-analysis and trial sequential analysis of 11 randomized controlled trials assessing the effects of nighttime and once-weekly LT4 administration on TSH control. In the cross-sectional study, 60% of patients were classified as adherent by the scales, although 82% had TSH within the target range. Questions related to forgetfulness and timing of medication were more sensitive for detecting nonadherence. The systematic review showed that nighttime administration of LT4 is as effective as morning intake, and that weekly administration—although maintaining TSH within the reference range—results in slightly higher levels. TSA indicated that the required information size was achieved for scheduling interventions. Adherence to LT4 may not be reliably detected, as it involves multifactorial determinants. Simple screening strategies using key questions may be useful in clinical practice. Posological alternatives are effective for selected patient profiles and should be considered in personalized therapeutic plans.