O processo saúde-doença para crianças atendidas na atenção básica do SUS

Abstract

Introdução: O atendimento em saúde de crianças precisa ser problematizado e acompanhar os avanços que obtivemos nas discussões sociais nos últimos tempos. Através do conceito de processo saúde-doença latinoamericano e de elementos da Psicologia Histórico Cultural e da Sociologia da Infância trazemos algumas das bases para questionar o atendimento de crianças hoje. Além desses, para este estudo, foi necessária também a realização de uma breve retomada histórica das crianças no Brasil, bem como, de apontamentos sobre território. Objetivo: Esta pesquisa tem o objetivo de analisar o processo saúde-doença sob a perspectiva das crianças e, de forma secundária, articular esse conhecimento com as formas de cuidado produzidas no território e na Atenção Básica (AB) do Sistema Único de Saúde (SUS). Metodologia:Através de uma metodologia de inspiração etnográfica, realizou-se um diário de campo onde foram captadas as situações e os temas que mais se apresentam no dia a dia do atendimento na AB. Posteriormente, realizamos Grupos Focais (GF) com participação de crianças de 9 a 11 anos. Nesses grupos, debatemos "o que é saúde?" e solicitamos aos participantes que, com uso da técnica de Foto-voz, realizassem fotos em seu território sobre "o que faz bem e o que faz mal à sua saúde?". As análises deste trabalho basearam-se nas descrições da Hermenêutica Dialética. Resultados e discussão: O diário de campo trouxe discussões relativas ao entendimento de saúde de crianças de diferentes idades e às expressões de formas de medicalização presentes na realidade delas. Já as oficinas trouxeram discussões que expressaram uma visão ampliada de saúde por parte das crianças conectadas com discussões sociais da atualidade. Aplicabilidade no campo da Saúde Coletiva: Esta pesquisa busca contribuir com uma melhor compreensão dos atendimentos e do cuidado em saúde de crianças atendidas no SUS a partir de concepções sociais que consideram o potencial de agência das próprias crianças. Considerações finais: Concluímos esta dissertação com apontamentos sobre a necessidade de atualizar a visão sobre a infância predominante na área da saúde e sobre a potencialidade de uma clínica que considere as crianças como parte ativa em seus processos de cuidado e de vida. Entendemos que o uso de metodologias de participação ativa, como GF e foto-voz, contribui tanto na pesquisa quanto na prática da AB do SUS para esse processo.

Introduction: Child healthcare needs to be problematized and must keep pace with the advances we have achieved in recent social discussions. Drawing on the Latin American concept of the health-disease process, as well as elements from Historical-Cultural Psychology and the Sociology of Childhood, we present some of the foundations for questioning child healthcare today. In addition, for this study, it was also necessary to carry out a brief historical overview of childhood in Brazil, along with reflections on territory. Objective: This research aims to analyze the health-disease process from the perspective of children and, secondarily, to articulate this knowledge with the forms of care produced in the territory and in Primary Health Care (PHC) within the Brazilian Unified Health System (SUS). Methodology: Using an ethnographically inspired methodology, a field diary was created to capture situations and themes that most frequently appear in the daily practice of PHC. Later, we conducted Focus Groups (FG) with children aged 9 to 11 years. In these groups, we discussed "what is health?" and invited participants to use the Photo-voice technique to take pictures in their territory of "what is good and what is harmful to your health?". The analyses in this work were based on the principles of Dialectical Hermeneutics. Results and discussion: The field diary revealed discussions related to children's understanding of health at different ages and to expressions of medicalization present in their reality. The workshops, in turn, brought discussions that expressed a broadened view of health by the children, in connection with current social debates. Applicability in the field of Public Health: This research seeks to contribute to a better understanding of healthcare and health practices for children assisted within the SUS, based on social conceptions that acknowledge the children’s own agency potential. Final considerations: We conclude this dissertation with reflections on the need to update the prevailing view of childhood within healthcare and on the potential of a clinical practice that regards children as active participants in their own care and life processes. We understand that the use of active participation methodologies, such as FG and Photo-voice, contributes both to research and to SUS Primary Health Care practices in this direction.