O anticeticismo de Peter Strawson : entre o argumento transcedental e o naturalismo social
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Data
2013Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Filósofos contemporâneos tendem a tratar o ceticismo de maneiras frequentemente descuidadas. Seja porque não apresentam uma noção clara do ceticismo, seja porque oferecem reações descabidas a ele. Alguns consideram que a maneira correta de abordar o ceticismo é enfrentá-lo, provando aquilo que o cético visa colocar em questão. Outros consideram que a maneira correta é recusar o desafio cético, pela rejeição das próprias questões levantadas pelo ceticismo. Uma reação diferente pode ser encontrad ...
Filósofos contemporâneos tendem a tratar o ceticismo de maneiras frequentemente descuidadas. Seja porque não apresentam uma noção clara do ceticismo, seja porque oferecem reações descabidas a ele. Alguns consideram que a maneira correta de abordar o ceticismo é enfrentá-lo, provando aquilo que o cético visa colocar em questão. Outros consideram que a maneira correta é recusar o desafio cético, pela rejeição das próprias questões levantadas pelo ceticismo. Uma reação diferente pode ser encontrada na forma de “argumentos transcendentais”, tais como aqueles paradigmaticamente utilizados por Peter Strawson em Individuals ([1959] 1971). Barry Stroud (1968) concebe esses argumentos como uma tentativa de mostrar que certos conceitos são necessários para o pensamento e para a experiência; conceitos que são condições para que a dúvida cética tenha sentido. Stroud sustenta que os argumentos transcendentais de Strawson, para terem um real efeito anticético, teriam de contar com um “princípio de verificação” que tornasse aquilo que o cético põe em dúvida suscetível de ser verificado ou falsificado. Em Ceticismo e Naturalismo ([1987] 2008), Strawson parece conceder a essa crítica quando passa a adotar um “naturalismo social”, o qual consiste em recusar tentativas de refutar diretamente o ceticismo, dado que os conceitos questionados pelo cético são, por assim dizer, inevitáveis por natureza, sendo, por isso, “isentos de dúvida”. No entanto, Putnam (1998) aponta uma tensão na postura anticética nessa obra que seria incompatível com os argumentos transcendentais. Frente a esses desenvolvimentos, as questões centrais que esta dissertação se propõe a responder são: como podemos compreender o ceticismo que surge na investigação de Strawson? Stroud está correto em sua objeção, segundo a qual um argumento transcendental exige um princípio de verificação para o seu efeito anticético? Existe apenas um tipo de argumento transcendental? Como deveríamos compreendê-lo? Strawson de fato muda de posição, de um argumento transcendental para um naturalismo social? Essas posições se harmonizam em suas reflexões? Argumentarei que o ceticismo de Individuals é melhor compreendido como uma variedade de ceticismo Kantiano (em oposição a um ceticismo Cartesiano) a partir dos estudos de Conant (2012). Pretendo mostrar a plausibilidade dessa leitura ao abordar detidamente duas espécies de cet icismo na obra, chamadas, “ceticismo sobre a reidentificação de particulares” (Capítulo 1) e “ceticismo sobre outras mentes” (Capítulo 2). A fim de examinar a natureza dos argumentos transcendentais e ver qual é exatamente o argumento encontrado em Individuals, apresento uma terminologia de tipos de argumentos transcendentais a partir de Stern (2000) (Capítulo 3). Isso permitirá mostrar que Stroud “erra o alvo” quando faz a sua objeção, pois o argumento transcendental que ele tem em vista é de outro tipo. Irei por fim explicitar o naturalismo de Strawson, buscando sustentar que o “espírito compatibilista” do autor, juntamente com a sua concepção de metafísica descritiva, oferece unidade à sua postura anticética. Defendo que tanto os argumentos transcendentais quanto o naturalismo social visam estabelecer certas interconexões entre nossos conceitos a fim de esclarecer o esquema conceitual que nós efetivamente temos. ...
Abstract
Contemporary philosophers frequently tend to treat skepticism carelessly, either because they don‟t have a clear idea of it, or because they provide unreasonable responses to it. Some of them consider that the right way to treat skepticism is to confront it, proving that which the skeptic seeks to put into question. Others consider that the right way is to refuse the skeptical challenge, by rejecting the very question raised by skeptic. A different reaction can be found in the form of “transcen ...
Contemporary philosophers frequently tend to treat skepticism carelessly, either because they don‟t have a clear idea of it, or because they provide unreasonable responses to it. Some of them consider that the right way to treat skepticism is to confront it, proving that which the skeptic seeks to put into question. Others consider that the right way is to refuse the skeptical challenge, by rejecting the very question raised by skeptic. A different reaction can be found in the form of “transcendental arguments”, such as those paradigmatically used by Peter Strawson in Individuals ([1959] 1971). Barry Stroud (1968) conceives those arguments as attempts to show that certain concepts are necessary for thought and experience; concepts that are conditions for skeptical doubts to make sense. Stroud‟s claim is that, in order to have a real antiskeptical effect, Strawson‟s transcendental arguments would have depend on a “verification principle”, according to which what the skeptic puts in question is capable of being verified or falsified. In Skepticism and Naturalism ([1987] 2008), Strawson seems to grant that criticism, adopting instead a “social naturalism” which abandons the attempt to directly refute skepticism, since the concepts questioned by skeptics would be, as it were, naturally unavoidable, and therefore “exempt from doubt”. However, Putnam (1998) points to a tension in such an antiskeptic position, namely, that it would be incompatible with transcendental arguments. Having that debate in view, this dissertation proposes to responds to the following central questions: how can we understand the skepticism raised in Strawson‟s investigation? Is Stroud‟s objection correct, according to which a transcendental argument demands a verification principle to have an antiskeptic effect? Is there only one kind of transcendental argument? How must we understand it? Did Strawson‟s position change, from a transcendental argument to a social naturalism? Could these positions be harmonized in his reflections? Following a terminology proposed by Conant (2012), I will argue that skepticism in Individuals is better understood as a variety of Kantian skepticism (as opposed to Cartesian skepticism). My aim is to show the plausibility of that reading by presenting a careful reconstruction of two variants of skepticism, namely, skepticism about reidentification of particular (Chapter 1) and skepticism about other minds (Chapter 2). In order to examine the nature of transcendental arguments and to clarify what exactly is the kind of argument to be found in Individuals, I will also make use of a categorization of kinds of transcendental arguments proposed by Stern (2000) (Chapter 3). Stroud‟s objection misses its target, given that the transcendental argument that he had in view is not the one Strawson himself employs. Finally, I will try to make explicit the content of Strawson‟s naturalism, seeking to support his “compatibilistic spirit”, showing that his conception of descriptive metaphysics offers a unity to his work. I maintain that both transcendental arguments and social naturalism aim at establishing certain interconnections between concepts for the purpose of clarifying the conceptual structure that we actually use. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia.
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