Septicemia por Yersinia enterocolitica em um zogue-zogue (Callicebus sp.)

Abstract

Yersinia enterocolitica é uma bactéria gram-negativa com potencial zoonótico, que já foi isolada em diversas espécies animais, incluindo mamíferos, aves e reptéis. Em primatas, a yersiniose já foi descrita em gibão, saguis, micos-de-cheiro, animais do gênero Chlorocebus, entre outras espécies de primatas tanto do Novo quanto do Velho Mundo. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de septicemia por Y. enterocolitica em um zogue-zogue (Callicebus sp.) mantido em cativeiro no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, encaminhado para atendimento no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS). O animal chegou ao hospital apresentando prostração, anorexia, hipotermia, hipostase intestinal e descamação cutânea. Exames laboratoriais complementares foram realizados onde detectou-se no eritrograma um quadro de anemia não regenerativa, leucograma sem alterações significativas e exame coproparasitológico positivo para cestódeo. Devido ao quadro de grave anemia, o animal foi submetido ao procedimento de transfusão sanguínea, mas evoluiu para óbito duas horas após o início do procedimento e foi encaminhado para exame de necropsia. Fragmentos de fígado e baço foram coletados e mantidos refrigerados para exame bacteriológico e amostras de diversos tecidos foram coletadas em formol 10%, processadas rotineiramente para histologia, coradas pelo método de hematoxilina-eosina (HE) e analisadas em microscópio óptico. A coloração histoquímica de Gram foi realizada para evidenciação e classificação de bactérias. Houve crescimento puro e isolamento de Y. enterocolitica, que foi classificada pelo emprego do método MALDI-TOF. As alterações macroscópicas mais significativas foram observadas em baço e fígado, representadas por áreas multifocais amareladas que mediam de 1 a 5 mm de diâmetro, que se estendiam da superfície capsular ao parênquima. Os principais achados microscópicos foram hepatite e esplenite necrossupurativas associadas a bactérias gram-negativas intralesionais, colite fibrinonecrótica e pneumonia fibrinosa. Diante destes achados e do curso da doença observado no animal do relato, a yersiniose deve ser considerada como um diagnóstico diferencial de morte aguda em primatas desta espécie quando mantidos em cativeiro. A conhecimento dos autores este é o primeiro relato de yersiniose fatal por Y. enterocolotica em um zogue-zogue no Brasil.

Yersinia enterocolitica is a gram-negative bacterium with zoonotic potential that has been isolated in several animal species, including mammals and birds. In primates, yersiniosis has already been described in gibbon, marmosets, tamarins, animals of the genus Chlorocebus, and other primate species from both the New and the Old World. The aim of this work is to report a case of septicemia by Y. enterocolitica in a zog-zogue (Callicebus sp.) kept in captivity in the State of Rio Grande do Sul, Brazil, referred for care at the Hospital de Clínicas Veterárias of the Universidade Federal Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS). The animal arrived at the hospital with prostration, anorexia, hypothermia, intestinal hypostasis and skin desquamation. Complementary laboratory tests were performed and a non-regenerative anemia was detected in the erythrogram, a leukogram with no significant alterations and a positive coproparasitological exam for a cestode. Due to the severe anemia, the animal underwent a blood transfusion procedure, but died two hours after the beginning of the procedure and was subjected to necropsy. Sections of liver and spleen were collected and refrigerated for bacteriological examination and samples of various tissues were collected in 10% formaldehyde, routinely processed for histology, stained using the hematoxylin-eosin (HE) method and analyzed under an optical microscope. Gram's staining was performed to classify the bacterium. There was pure growth and isolation of Y. enterocolitica that was classified using the MALDI-TOF method. The most significant macroscopic lesions were observed in the spleen and liver, represented by yellowish multifocal areas measuring 1 to 5 mm in diameter, which extended from the capsular surface to the parenchyma. The main microscopic findings were necrossupurative hepatitis and splenitis associated with intralesional gram-negative bacteria, fibrinonecrotic colitis, and fibrinous pneumonia. In view of these findings and the disease course observed in the animal in the report, yersiniosis should be considered as a differential diagnosis of acute death in primates of this species maintained in captivity. To the knowledge of the authors, this is the first report of fatal yersiniosis by Y. enterocolotica in a zogue-zogue in Brazil.