Intenção & contexto : por uma reorientação intencionalista e contextualista da estética e da filosofia da arte no elogio da arte contemporânea
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Data
2020Autor
Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
O presente trabalho procura defender um intencionalismo e um contextualismo moderados enquanto espécies de reguladores discursivos para as teorizações sobre arte, sobretudo após o modernismo e seus desdobramentos, deslocamentos e distensões na produção artística contemporânea. Em nossa perspectiva, a aplicação do intencionalismo à arte permite compreendê-la como resultado de uma atividade intencional, derivada da própria intencionalidade dos estados mentais do seu produtor que, por sua vez, é c ...
O presente trabalho procura defender um intencionalismo e um contextualismo moderados enquanto espécies de reguladores discursivos para as teorizações sobre arte, sobretudo após o modernismo e seus desdobramentos, deslocamentos e distensões na produção artística contemporânea. Em nossa perspectiva, a aplicação do intencionalismo à arte permite compreendê-la como resultado de uma atividade intencional, derivada da própria intencionalidade dos estados mentais do seu produtor que, por sua vez, é compreendido numa condição de agência em relação a produção. Essa intencionalidade derivada é, por sua vez, facultada aos processos de recepção (ou estéticos) porque as intenções autorais são pensadas, a partir das análises de Noël Carroll (2001) e Paysley Livingston (2005), enquanto ontologicamente manifestos nas obras de arte através de estruturas propositivas: indícios de escolha, deliberação e formatividade. Isso confere, portanto, à abordagem intencionalista da arte uma concepção externalista no que diz respeito ao acesso da intenção autoral. Por outro lado, a aplicação do contextualismo à arte permite compreendê-la à luz do que se tem indicado, em diferentes pensadores, como campo da arte, circuito artístico (Dickie, 1997), sistema da arte (Bulhões, 2014) ou mundo da arte (Danto, 1964 e 2010). Nossa proposta é que esses termos variáveis, que recebem diferentes acentos teóricos em diferentes pensadores, sejam compreendidos ao nível de um contexto artístico decisivamente marcado por práticas sociais artísticas concretamente incorporadas nas culturas e historicamente transmitidas e modificadas. Desse modo, o contextualismo confere proeminência aos processos de (i) produção, (ii) destinação, (iii) recepção e (iv) discussão de arte que são capazes de determinar nominalmente a arte, seus usos e, sobretudo, a concessão de seu estatuto aos objetos através do processo de artificação, desenvolvido por Natalie Heinich & Roberta Schapiro (2007 e 2012). Importante mencionar que o processo de artificação executa uma função primordial na determinação da artisticidade (participação do conceito ‘arte’) de um objeto inclusive naqueles casos em que os objetos não são produzidos com intenções autorais. Identificamos a artificação enquanto um processo de fixação linguística da referência realizado por integrantes de uma comunidade que compartilha diversamente, além da linguagem, hábitos, práticas, procedimentos, instituições, inspirando-nos nas leituras e desdobramentos críticos do pensamento tardio de Wittgenstein representado pela nova teoria da referência e pela filosofia da linguagem comum: indicamos, portanto, o processo de artificação enquanto um dos muitos procedimentos de um subconjunto – o mundo ou campo da arte – da forma de vida linguística humana. Também oferecemos uma definição para a noção de contexto da arte. Com esses pensadores o debate de acento ontológico centrado no objeto dá lugar a um debate de acento ontológico centrado nas práticas, que entendemos motivado pelos próprios processos artísticos ao longo de sua história relativos à desmaterialização dos suportes tradicionais (Lippard, 1971) e, portanto, à dissolução das características fenomenologicamente acessíveis da arte que remontam à instauração da arte conceitual com os ready mades de Duchamp e Elsa von Freytag-Loringhoven. Diante disso, uma reorientação dos campos da Estética e da Filosofia da Arte a partir do intencionalismo e do contextualismo sugere, sobretudo, que esses campos sejam enriquecidos por (a) um manifesto reconhecimento do papel intencional do artista na produção da sua obra e por (b) um reconhecimento das determinações contextuais e particularizantes da recepção de uma obra pelo campo artístico e suas práticas. Nossa tese, portanto, consiste em afirmar que as tentativas de construção de sentido para as obras de arte devem se regular por deferências explícitas tanto às intenções do artista ou do produtor, quanto aos processos contextuais ou dos receptores. ...
Abstract
The present work aims to defend moderate intentionalism and contextualism as theoretical regulators for different discourses about art, especially considering the developments and distention’s of modernism in contemporary art. In our view, intentionalism applied to art allows us to understand it as the result of intentional activity, i.e., something derived from the intentionality of the mental states of its producers. And they are comprehended as agents in relation to their production. This de ...
The present work aims to defend moderate intentionalism and contextualism as theoretical regulators for different discourses about art, especially considering the developments and distention’s of modernism in contemporary art. In our view, intentionalism applied to art allows us to understand it as the result of intentional activity, i.e., something derived from the intentionality of the mental states of its producers. And they are comprehended as agents in relation to their production. This derivative intentionality is extended to the processes of reception (thus, to aesthetics) because authorial intentions are thought, according to Noël Carroll (2001) and Paysley Livingston (2005), as ontologically manifest in artworks as purposive structures, as indications of choice, deliberation and formativity. This grant to intentionalism an externalist conception about the access to authorial intention. On the other hand, contextualism applied to arts allows us to understand it as something produced and accessed within the art circle (Dickie, 1997), system of art (Bulhões, 2014) or artworld (Danto, 1964 and 2010). Our view is that these various notions, which are differently developed by these different thinkers, be understood as an artistic context decisively structured by artistic social practices that are concretely incorporated within different cultures and are historically transmitted and modified. Therefore, contextualism gives prominence to processes of (i) production, (ii) destination, (iii) reception and (iv) discussion of art that can, by their turn, nominally determine art, its uses and, above all, the concession of art status to objects through artification, developed by Natalie Heinich & Roberta Schapiro (2007 and 2012). The process of artification plays a primordial role at the determination of whether something is or isn’t art, including at the cases where something is not produced with authorial intentions. Artification is, thus, identified as procedure of linguistic fixation of the reference that is played out by agents of a linguistic community that shares, diversely, a language, habits, practices, procedures, institutions. This understanding is a direct inspiration from the critical developments of Ludwig Wittgenstein’s thought in his Philosophical Investigations (2009). Artification is seen as one of the many procedures from the artworld ou art field, a subset within the human form of life. From our reading and interpretation of these thinkers, the ontological debate focused on the artwork gives rise to a ontological debate focused on social practices about art that we understand motivated by the very own artistic processes throughout its history, intrinsically related to the dematerialization of traditional artistic supports (Lippard, 1971) and, therefore, also related to the dissolution of the phenomenologically accessible characteristics of art. Both of these processes are related, in our own account, to the instauration of conceptual art with Duchamp and Elsa von Freytag-Loringhoven. Considering all of this, we suggest a reconsideration of aesthetics and philosophy of art with intentionalism and contextualism in mind, but also that both of these fields be regulated by (a) a manifest recognition of the role that the artists intentions plays in the production of their artworks and by (b) a recognition of contextual determinations that particularize our access (or reception) of artworks by the art field and its practices. Our thesis, therefore, presupposes that different modalities of sense making and production of theoretical discourse about art must be regulated by explicit deference’s both to artistic intentions (producers of art) and to contextual processes (reception of art). ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia.
Coleções
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