Sentidos de uma "Fronteira agrícola" para o desenvolvimento : desenho de projeto e práticas locais na iniciativa Matopiba

Abstract

O presente estudo tem como principal objeto a análise da construção discursiva e material de uma região de “fronteira agrícola” para o desenvolvimento entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia: a região Matopiba. Procuro demonstrar, a partir da análise de documentos que subsidiaram o processo de delimitação territorial do Matopiba, como foram abordados elementos como terra, território, populações e a própria ideia de “fronteira agrícola” a partir do desenvolvimento de um modelo com variadas aplicações de diagnóstico territorial. Ao debruçar sobre os efeitos deste processo, sobressaem a busca por coerência nas representações técnicas mobilizadas; a tentativa de estabelecer um imaginário supostamente novo de “fronteira agrícola” como caracterização da região, à luz do desenvolvimento de técnicas georreferenciadas, integração de bases de dados e representação computacional; e os desdobramentos interinstitucionais da mobilização estruturas de desenvolvimento territorial a partir da experiência do Matopiba. Visando captar nuances do desenho de projeto do Matopiba em experiências locais, conduzi um trabalho de campo com atores membros de instituições diversas (entidades privadas, Embrapa local, sindicatos de trabalhadores rurais, técnicos de defesa agropecuária) que participaram em ações sobre a formulação e implementação local da iniciativa Matopiba. Este trabalho de campo foi composto por entrevistas abertas, observação direta e observação participante na região de Balsas, no estado do Maranhão, entre os meses de março e abril de 2019. A ênfase dada na análise das dinâmicas locais em torno da iniciativa Matopiba foi paralela ao que se verificou no trabalho discursivo do desenho de projeto, contemplando práticas de saber e poder no âmbito do desenvolvimento. Diferentemente do desenho da iniciativa, porém, a análise em campo ressaltou a pluralidade de conceber, organizar, implementar ações de gestão do conhecimento e propor caminhos para o desenvolvimento da “fronteira agrícola” em questão. Neste sentido, os resultados apontam para a necessidade de análises que qualifiquem a ação do Estado em políticas de desenvolvimento rural e territorial, de modo que sobressaia a atenção a modos práticos, não previamente definidos, de exercício da ação política para o desenvolvimento.

The present study has as its main object the analysis of the discursive and material construction of an “agricultural frontier” region for the development between the states of Maranhão, Tocantins, Piauí, and Bahia: the Matopiba region. I try to demonstrate, through the analysis of documents that supported the process of territorial delimitation of Matopiba, how elements such as land, territory, populations, and the very idea of “agricultural frontier” were approached from the development of a model with various diagnostic applications. When looking at the effects of this process, I highlight: the search for coherence in the technical representations; the attempt to establish a supposedly new “agricultural frontier” imaginary as a characterization of the region, in the light of the development of georeferenced techniques, integration of databases and computational representation; and the interinstitutional developments in the mobilization of territorial development structures based on the experience of Matopiba. To capture nuances of the Matopiba project design in local experiences, I conducted fieldwork with members of different institutions (private entities, local Embrapa researchers, rural workers' unions, agricultural defense technicians) who participated in actions on the formulation and implementation site of the Matopiba initiative. This fieldwork was composed of open interviews, direct observation, and participant observation in the region of Balsas, in the state of Maranhão, between March and April 2019. The emphasis given to the analysis of local dynamics around the Matopiba initiative was parallel to what was verified in the discursive work of the project design, including practices of knowledge and power regarding development. Unlike the design of the initiative, however, the field analysis highlighted the plurality of conceiving, organizing, implementing knowledge management actions, and proposing paths for the development of the “agricultural frontier”. In this sense, the results point to the need for analyzes that qualify the State's action in rural and territorial development policies, so that attention is paid to practical, not previously defined, ways of exercising political action for development.