O cis no divã : atravessamentos da cisnormatividade na formação e no treinamento da escuta clínica

Abstract

Esta dissertação tem como objetivo principal compreender como a cisnorma é performada no contexto de formação de psicólogas/os clínicas/os em uma clínica escola de psicologia, tal como apontado por Viviane Vergueiro Simakawa (2016). Parte-se da hipótese de que a cisnormatividade e a heteronormatividade, as quais supõem um alinhamento entre sexo-gênero-desejo, e que constituem uma matriz para grande parte das teorias clínicas em psicologia, atravessam não apenas pressupostos teórico-conceituais mas também estratégias de intervenção clínica. Do ponto de vista metodológico, foi realizada uma imersão etnográfica, em uma clínica-escola de psicologia no Sul do Brasil, no período de janeiro a julho de 2017. As observações focaram nas teorias e entendimentos clínicos acionados para que as/os psicólogas/os e estudantes de psicologia fizessem a escuta de suas/seus pacientes durante as discussões de caso coletivas e em reuniões de equipe. Foram utilizadas as perspectivas teóricas do feminismo – mais fortemente do transfeminismo e do feminismo interseccional - para compreender como a cisnormatividade é performada na formação para a prática clínica em psicologia. A partir do material analisado, identifica-se modos como a cisnormatividade atua na formação da escuta clínica. Nesse sentido, pode-se destacar a performação do que poderia se chamar de “diagnósticos de gênero”, mobilizados nas discussões de casos clínicos. Assim, as expectativas sociais para as performatividades de gênero inscritas na cisnormatividade são acionadas de modo a produzirem inteligibilidades sobre os sujeitos e o fechamento de caixas pretas, onde o saber científico estabiliza a cisnorma como um indicativo de saúde mental.

This dissertation’s main objective is to understand how cisnormativity is performed in the context of the training of clinical psychologists in a psychology school-clinic, as pointed out by Viviane Vergueiro Simakawa (2016). It starts from the hypothesis that cisnormativity and heteronormativity, which suppose an alignment between sex-gender-desire, and that constitute a matrix for most clinical theories in psychology, constitute not only a theoretical-conceptual bias, but also strategies for clinical intervention. Methodologically, an ethnographic immersion was carried out in a psychology school-clinic in Southern Brazil, from January to July, 2017. The observation effort focused on the clinical theories and understandings employed by the psychologists and psychology students, while they listened to their patients, during group case discussions and team meetings. The theoretical perspectives of feminism - specifically transfeminism and intersectional feminism - were employed to understand how cisnormativity is performed during training for clinical practice in psychology. By analyzing the material, the ways in which cisnormativity acts in the teaching of clinical listening were identified. In this sense, we can highlight the performance of what could be called "gender diagnoses", observed in discussions of clinical cases. Thus, social expectations of gender performativities, inscribed in cisnormativity, are employed in such a way as to produce intelligibilities about the subjects and the closing of black boxes, in which scientific knowledge stabilizes cisnormativity as an indicator of mental health.