Que carne pode a cena ? estudos sobre poéticas corporais transperformacionais, para além da dramaturgia de Censuradas: SOS Mulheres em Vênus ou Travestis na Porta do Céu

Abstract

A escrita apresentada no corpo das 348 páginas desta tese busca relatar um processo investigativo de criação de uma teatralidade desenvolvida em duas fases, que teve como principal objetivo compreender o processo de transperformacionalidade dos corpos palimpsestosos dos performers do coletivo Cria”Tures em uma perspectiva dramatúrgica, enquanto poética e insurreição dos corpos abjetos. Trata-se, portanto, do relato de um experimento cênico que iniciou com a criação de uma dramaturgia e que teve duas montagens diferentes, cuja prática consistiu em desenvolver uma teatralidade a partir da perspectiva do pensamento queer. Assim, as 348 páginas foram divididas em cinco cartas e uma introdução onde os conteúdos de suas escritas revelam a singularidade do jogo e da encenação, tanto dos corpos dos performers quanto de suas poéticas, da dramaturgia e da simbologia imagética das cenas. O processo de criação das cenas partiu da aproximação e do tensionamento entre a performatização dos corpos a partir do poder discursivo da linguagem, da heteronormatização e da cisnormalização que estão presentes nos corpos abjetos: bixas, travestis, putos, putas e outros corpos marginais. Assim, o tensionamento provocado na aproximação entre os corpos abjetos palimpsestosos, a cultura heteronormativa e as dramaturgias protagonizadas por corpos e discursos heterossexistas foram os fios condutores tanto para a concepção do processo de criação quanto para a criação de uma teatralidade que pudesse se constituir enquanto potência de uma poética insurgente e decolonial.

The writing found on the following 348 pages seeks to detail the research process of creating a theatricality developed in two phases. The process had as its main objective to understand the process of transperformationality of the collective Cria"Tures’ performers’ palimpsest bodies in a dramaturgic view, as poetic and insurrection of the abject bodies. It is, therefore, the account of a scenic experiment that began with a dramaturgy creation and, which resulted in two different shows. The practice consisted of developing a theatricality from the queer perspective. Thus, the 348 pages are organized in five letters and an introduction, and the content reveals the singular aspects of the scenic game and performance, both in relation to the performers’ bodies and in relation to their poetics, and the dramaturgy and imagery symbology of the scenes. The process of scenes creation derived from the approximation and tension between the body’s performance considering the discursive power of language, heteronormatization and cisnormalization that are present in the abject bodies: gays, travestis, whores and other marginal bodies. Thus, the tension provoked by the approximation among palimpsest abject bodies, heteronormative culture and dramaturgies performed by heterosexist bodies and discourses was the driving theme for the process conception and for the creation of a theatricality that could express the power of an insurgent and decolonial poetics.