Qual é o objetivo da defesa aristotélica do princípio de não-contradição em Metafísica Γ4? : uma análise comparativa de duas possibilidades de leitura
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Data
2019Autor
Orientador
Nível acadêmico
Graduação
Resumo
Quando estudamos a filosofia de Aristóteles, um ponto a ser destacado é aquilo que o filósofo entende por princípio de não-contradição (PNC), isto é, o princípio que diz que “o mesmo atributo não pode ao mesmo tempo pertencer e não pertencer ao mesmo subjacente sob o mesmo aspecto” (1005b18-20). Não é para menos: este é o primeiro e mais certo princípio de todas as coisas, conforme o filósofo diz no livro Γ da sua Metafísica. Em razão de seu status especial, tal princípio não poderia ser provad ...
Quando estudamos a filosofia de Aristóteles, um ponto a ser destacado é aquilo que o filósofo entende por princípio de não-contradição (PNC), isto é, o princípio que diz que “o mesmo atributo não pode ao mesmo tempo pertencer e não pertencer ao mesmo subjacente sob o mesmo aspecto” (1005b18-20). Não é para menos: este é o primeiro e mais certo princípio de todas as coisas, conforme o filósofo diz no livro Γ da sua Metafísica. Em razão de seu status especial, tal princípio não poderia ser provado, ao menos não em sentido estrito; o que, para Aristóteles, significa que não seria possível demonstrá-lo cientificamente. No entanto, o raciocínio exposto pelo autor em Metafísica Γ4 ficou conhecido, curiosamente, como a prova do princípio de não-contradição. Resta, então, perguntar: qual seria, afinal, o objetivo de Aristóteles em Γ4? O meu trabalho tem como objetivo principal esclarecer esta questão, centrando-se especialmente na discussão entre Terence Irwin e Alan Code a este respeito. Para cumprir meu objetivo, foi preciso, antes, percorrer algumas etapas: em primeiro lugar, compreender o que o filósofo entende pelo PNC e quais seriam suas peculiaridades; depois, investigar a concepção aristotélica de ciência, de modo a apreender o que seria necessário para que haja uma “prova” ou “demonstração” de algo para, assim, entender por que razão não poderia haver uma prova para um princípio como o PNC e poder partir, então, para a reconstrução de Metafísica Γ4. Cumprindo estas etapas, foi possível analisar de modo mais adequado qual seria o objetivo de Γ4 através das interpretações supracitadas: em linhas gerais, a proposta de Irwin consiste na defesa de que Aristóteles teria reformulado suas concepções tradicionais acerca da ciência na Metafísica, o que possibilitaria que o PNC fosse propriamente provado no contexto de Γ4. Code, por sua vez, rejeita a proposta de Irwin, defendendo que Aristóteles não teria mudado a sua concepção de ciência, de modo que o que poderia estar sendo feito em Γ4 seria a prova de uma verdade sobre o PNC – a saber, que é o princípio mais certo de todos. Ainda que uma resposta final para a questão proposta seja difícil de obter, concluí que uma proposta como a de Code é mais vantajosa, pois não pressupõe que Aristóteles tenha mudado sua concepção tradicional de ciência. Esta parece uma melhor alternativa para que não tenhamos que deixar de lado pontos fundamentais da sistematização da ciência feita por Aristóteles nos Analíticos, que constitui uma parte importantíssima da sua filosofia, além de ser mais condizente com o que diz o filósofo em outras obras; ao mesmo tempo, tal proposta não culmina em uma perda no caráter especial do princípio. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Curso de Filosofia: Bacharelado.
Coleções
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TCC Filosofia (104)
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