Ritornelos da clínica musicada : paradoxos entre trabalho, pesquisa e música em tempos pandêmicos

Abstract

Essa dissertação parte da percepção de que os territórios subjetivos de existência entre os quais me percebia habitante, a saber, o trabalho, a pesquisa e a música sofreram algum tipo de reconfiguração com o advento da pandemia de Covid-19, que chegou ao Brasil nos primeiros meses de 2020. Partindo-se de uma inspiração metodológica cartográfica, investigo as condições de se entender essas três atividades como territórios de existência, bem como a possibilidade de se relacionar as experiências de vida a um ou mais territórios. Em um primeiro momento, trago fragmentos de memória sobre a minha relação com a música, a pesquisa e o trabalho como registros empírico, ou ritornelos empíricos. Suspeita-se a partir daí que esses territórios mantém entre si relações paradoxais. Diante do cansaço de si produzido a partir dessas narrativas, organizo encontros com um grupo no qual compartilhamos registros de fragmentos de vida relacionados às nossas inserções em nossos territórios de existência durante uma semana. Os registros coletados foram agrupados em vídeos expositivos e depois discutidos com o grupo em reencontros. Para escutar esses registros, lancei mão do retorno ao conceito de Clínica Musicada, oriundo de estudos anteriores, tendo como norte (est)ético o de escutar a existência como se escuta uma música, com a atualização de sua integração ao conceito de ritornelo proposto por Gilles Deleuze e Felix Guattari para pensa-la em sua dimensão territorial. Ao som da Clínica Musicada, entendo que foi possível espiar pistas acerca da paradoxal relação entre os territórios de existência e a experiência, o que teve como efeito a reversão da escrita no sentido da dissolução de si em direção ao paradoxo.

This dissertation starts from the perception that the subjective territories of existence among which I perceived myself as an inhabitant namely work, research and music underwent some kind of reconfiguration with the advent of the Covid-19 pandemic, which arrived in Brazil in the first months of 2020. Starting from a cartographic methodological inspiration, I investigate the conditions of understanding these three activities as territories of existence, as well as the possibility of relating life experiences to one or more territories. At first, I brought fragments of memory about my relationship with music, research and work as empirical records, or empirical ritornellos. From there, I suspected that these territories maintain paradoxical relationships with each other. Faced with the self-tiredness produced from these narratives, I’ve organized meetings with a group in which we share records of fragments of life related to our insertions in our territories of existence for a week. The collected records were grouped into expository videos and then discussed with the group in reunions. In order to listen to these records, I returned to the concept of Clínica Musicada (Music Clinic), from previous studies, with the ethic-aesthetic guideline of listening to existence as one listens to music, updated with the integration to the concept of ritornello proposed by Gilles Deleuze and Felix Guattari to think about its territorial dimension. Analyzing to the records at the sound of Clínica Musicada (Music Clinic), It was understood it was possible to spy some clues about the paradoxical relationship between the territories of existence and experience, which had the effect of reversing writing towards its self- dissolution. Writing towards paradox.