Vozes do refúgio : narrativas de si sobre ser estudante universitário refugiado
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Data
2022Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Movimento e migração são condições de definição histórica da humanidade. Em 2021 cerca de 281 milhões de pessoas eram migrantes internacionais. E, desses, mais de 100 milhões, são refugiados, que foram forçadas a migrar por guerras, conflitos e perseguições, um número sem precedentes, jamais verificado pelo ACNUR. Quanto ao acesso da população refugiada ao ensino superior, somente 3% de pessoas refugiadas estão matriculadas em universidades ao redor do mundo, em comparação aos 37% da população ...
Movimento e migração são condições de definição histórica da humanidade. Em 2021 cerca de 281 milhões de pessoas eram migrantes internacionais. E, desses, mais de 100 milhões, são refugiados, que foram forçadas a migrar por guerras, conflitos e perseguições, um número sem precedentes, jamais verificado pelo ACNUR. Quanto ao acesso da população refugiada ao ensino superior, somente 3% de pessoas refugiadas estão matriculadas em universidades ao redor do mundo, em comparação aos 37% da população global, que chega aos mais altos níveis educacionais. No caso brasileiro, temos cerca de 500 estudantes refugiadas ou solicitantes de refúgio (470 de graduação; 18 de mestrado; e, 08 de doutorado), estão matriculados em instituições de ensino superior. Embora a importância dos movimentos humanos, ao longo do tempo, no campo da Educação, no Brasil, ainda são poucos os estudos a respeito da inserção acadêmica de alunos migrantes e/ou refugiados. Com o objetivo de acompanhar a construção da experiência de refúgio, a partir das narrativas e significados produzidos por estudantes refugiados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ingressados por meio de Editais para Ingresso de Pessoas em Situação de Refúgio, esta pesquisa, de cunho qualitativo, se insere no campo teórico dos Estudos Culturais e, mais precisamente, dos Estudos Foucaultianos. Os dados foram produzidos a partir de entrevistas narrativas com seis estudantes de graduação refugiados. As análises dessas narrativas, realizadas a partir de inspirações teórico-metodológicas de Michel Foucault e Jorge Larrosa, conduziram à organização de três eixos analíticos que recuperam, em certa medida, as etapas do processo migratório: o primeiro eixo - Olhando para o passado: a situação dos estudantes refugiados antes e durante a migração - mostra as vivências dos entrevistados ainda no país de origem, durante a travessia, até a chegada ao Brasil O segundo eixo - Percepções dos estudantes refugiados após a chegada ao Brasil - focaliza como os estudantes refugiados, já em solo brasileiro, percebem as experiências vividas sobre os processos de integração, principalmente, no que se refere ao RS e à cidade onde estão vivendo. O terceiro eixo - Inserção na UFRGS: do ingresso aos desafios da permanência - mostra como os entrevistados narram as experiências sobre ser estudante refugiado da UFRGS, e de que forma isso impactou/impacta em seus projetos de vida, atuais e futuros. As narrativas indicam, de maneira geral, que os estudantes se sentem congratulados pela oportunidade da experiência de inserção no ensino público federal, em particular, na UFRGS, considerada por todos como uma universidade de excelência. Porém, também sugerem que o processo de inserção precisa ser qualificado, particularmente em relação a: falta de informações sobre os documentos necessários ao ingresso; falta de acompanhamento dos estudantes, principalmente, dos refugiados que não falam português; falta de divulgação do edital (que não consegue atingir, de forma ampla, o público-alvo); inexistência de vagas para refugiados em todos os cursos; e, que o edital seja aberto a todos os migrantes, independentemente, do status jurídico. Tais sugestões demonstram o quanto a universidade – e, de certa forma, a sociedade como um todo - precisa se reinventar para, efetivamente, incluir os estudantes refugiados, de forma mais generosa, harmônica e solidária. ...
Abstract
Movement and migration are conditions of the historic definition of humanity. In 2021 around 281 million people were international migrants. And of these, more than 100 million are refugees, who have been forced to migrate by wars, conflicts and persecution, an unprecedented number, never verified by UNHCR. As for the refugee population's access to higher education, only 3% of refugees are enrolled in universities around the world, compared to 37% of the global population, which reaches the hig ...
Movement and migration are conditions of the historic definition of humanity. In 2021 around 281 million people were international migrants. And of these, more than 100 million are refugees, who have been forced to migrate by wars, conflicts and persecution, an unprecedented number, never verified by UNHCR. As for the refugee population's access to higher education, only 3% of refugees are enrolled in universities around the world, compared to 37% of the global population, which reaches the highest educational levels. In the Brazilian case, we have about 500 refugee students or asylum seekers (470 undergraduate; 18 master's; and 08 doctoral), are enrolled in higher education institutions. Despite the importance of human movement through time in the field of Education in Brazil, there are still few studies regarding the academic insertion of migrant and/or refugee students. In an attempt to follow how the refugee experience takes place and taking into consideration the narratives and meanings produced by refugee students at the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) joining the university by Entrance Edicts for People in Refugee Situation, this qualitative research is inserted in the theoretic field of Cultural Studies, namely the Foucaultian Studies. The data was produced from narrative interviews with six undergraduate refugee students. The analysis of such narratives, performed taking into consideration Michael Foucault and Jorge Larossa’s theoretical and methodological inspirations, led to the organization of three analytical axes which recall, to a certain extent, the stages of the migration process: the first axis – Looking back: the situation of refugee students before and after migration – presents the life experiences of the interviewees not only while they still were in their country of origin, but also during the migration process and their arrival in Brazil. The second axis – Refugee students’ perception after they arrived in Brazil – focuses on how these students, already on Brazilian ground, perceive their life experiences regarding the integration processes, mainly to what the state of Rio Grande do Sul and the city in which they are living are concerned. The third axis – Insertion at the Federal University of Rio Grande do Sul: from the entrance to the challenges of permanence – shows how the interviewees narrate their experiences regarding being a refugee student at the university and to what extent this condition has impacted their current and future life projects. The narratives indicate, in general, that the students feel congratulated by the opportunity of studying at a federal university, particularly at the Federal University of Rio Grande do Sul, which is regarded by many as a university of excellence. On the other hand, the interviewees suggest that the insertion process has to be improved, mainly in the following aspects: the lack of information regarding the required documents to enter the university; lack of monitoring of the students, mainly of the refugees who do not speak Portuguese; little advertisement of the edict (which cannot properly reach the target public); inexistence of places for refugees in all courses; the edict should be open to all migrants, regardless of the juridic status. Such suggestions show how much the university – and, to a certain extent, society in general – has to reinvent itself to effectively include the refugee students in a more generous, harmonic, and solidary way. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.
Coleções
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