A linguagem dos quadrinhos na educação infantil : percepção e produção de uma narrativa visual

Abstract

Esta pesquisa aborda a linguagem visual dos quadrinhos na Educação Infantil. Para isso, fundamenta-se, para a definição e análise da linguagem dos quadrinhos, em Eisner (2005, 2010) McCloud (1995, 2005, 2008), Saraceni (2003) e Cohn (2013, 2020); além disso, apoia-se em Edwards, Gandini e Forman (2016) e Gobbi (2010) para a proposta de múltiplas linguagens na Educação Infantil, e em Santos e Vergueiro (2012), Dos Santos e Ramos (2020) e Foohs, Corrêa e Toledo (2021) para a relação entre quadrinhos e educação. Este estudo tem como objetivo verificar o nível de fluência na percepção e produção da linguagem visual dos quadrinhos na educação infantil, em crianças de 4 a 5 anos, em uma escola da rede municipal de Porto Alegre, localizada na Zona Sul. Com esse fim, procedeu-se à elaboração e aplicação de quatro experimentos, a fim de identificar: (i) o nível de fluência de leitura de sequência de imagens, a partir de uma página de quadrinhos com o painel intermediário faltante; (ii) o nível de fluência de leitura de sequência de imagens, a partir da ordenação dos painéis no leiaute da página; (iii) o nível de fluência de leitura de uma sequência de imagens, a partir da produção de uma narrativa oral; e (iv) os elementos da linguagem visual dos quadrinhos utilizados na produção de uma história em quadrinhos a partir do conto de fadas "Os três porquinhos". Participaram desta pesquisa onze crianças de 4 a 5 anos, de uma turma de Jardim A do turno da tarde. Os resultados obtidos, no que se refere à percepção da linguagem visual dos quadrinhos, parecem indicar que já há alguma noção, ainda que incipiente, por parte das crianças, das especificidades dessa linguagem, como a permanência dos personagens na sequência de painéis, a ordem de leitura de cima para baixo e o caráter linear da sequência dos painéis, em que um evento acontece após o outro e não simultaneamente; quanto ao experimento de produção de quadrinhos, percebe-se que as crianças, diferentemente do que foi observado nos experimentos de produção, não compreendem a página de quadrinhos como uma sequência linear de eventos, e sim como uma representação gráfica estática, que pode ser lida em qualquer ordem por não estabelecer uma relação de causa e efeito entre os painéis. Esses resultados parecem indicar a necessidade um contato mais precoce das crianças da Educação Infantil com a linguagem visual dos quadrinhos, seja por meio do manuseio de revistas em quadrinhos em sala de aula ou na biblioteca escolar, seja por meio da produção de histórias em quadrinhos.

This research addresses the visual language of comics in Early Childhood Education. For this, it is based, for the definition and analysis of the language of comics, on Eisner (2005, 2010) McCloud (1995, 2005, 2008), Saraceni (2003) and Cohn (2013, 2020); furthermore, it relies on Edwards, Gandini and Forman (2016) and Gobbi (2010) for the proposal of multiple languages in Early Childhood Education, and on Santos and Vergueiro (2012), Dos Santos and Ramos (2020) and Foohs, Corrêa and Toledo (2021) for the relationship between comics and education. This study aims to verify the level of fluency in the perception and production of the visual language of comics in early childhood education, in 4-5 years old children, in a Porto Alegre City public school, located in the South Zone. To this end, four experiments were developed and applied in order to identify: (i) the level of reading fluency in an image sequence, from a comic book page with intermediate missing panel; (ii) the level of reading fluency in the sequence of images, based on the ordering of the panels in the page layout; (iii) the level of reading fluency of a sequence of images, from the production of an oral narrative; and (iv) the elements of the visual language of comics used in the production of a comic book based on the fairy tale "The three little pigs". Eleven 4-5 years old children participated in this research, from an afternoon class in Kindergarten. The results obtained, with regard to the perception of the visual language of comics, seem to indicate that there is already some notion, albeit incipient, on the part of children, of the specifics of this language, such as the permanence of the characters in the sequence of panels, the top-down reading order and the linear character of the panel sequence, in which one event happens after the other and not simultaneously; as for the comic book production experiment, it is clear that children, unlike what was observed in the production experiments, do not understand the comic book page as a linear sequence of events, but as a static graphic representation, which can be read in any order for not establishing a cause and effect relationship between the panels. These results seem to indicate the need for an earlier contact of Early Childhood Education children with the visual language of comics, either through the handling of comic books in the classroom or in the school library, or through the production of comics.