Gênero, classe e profissionalismo no trabalho de professoras e professores de classes populares
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Data
1995Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta tese apresenta uma análise que visa compreender o trabalho realizado por professoras e professores atuantes nas séries finais do 1º grau de uma escola pública de periferia urbana, desenvolvendo-se em direção a três focos centrais: gênero, classe e profissionalismo. Representa um esforço para conectar reflexões oriundas do nível micro ao conjunto das discussões desenvolvidas sobre o trabalho docente em suas configurações no interior das sociedades capitalistas contemporâneas; justifica-se d ...
Esta tese apresenta uma análise que visa compreender o trabalho realizado por professoras e professores atuantes nas séries finais do 1º grau de uma escola pública de periferia urbana, desenvolvendo-se em direção a três focos centrais: gênero, classe e profissionalismo. Representa um esforço para conectar reflexões oriundas do nível micro ao conjunto das discussões desenvolvidas sobre o trabalho docente em suas configurações no interior das sociedades capitalistas contemporâneas; justifica-se diante da crescente degradação que vem assolando esse campo de atividade, comprometendo um espaço decisivo de embates por democracia e justiça social. Face à suposta exaustão e às limitações dos estudos que examinam o trabalho docente do ponto de vista estrutural marxista, muitos autores e autoras consultados (Apple, Ozga e Lawn, Cabrera, Jáen, Salva, etc.) propõem um redirecionamento das análises, sugerindo investigações diretas que envolvam as próprias professoras e professores na interpretação de seu trabalho: e na análise de suas implicações conjunturais e estruturais. Nesse sentido, opto por uma abordagem hermemêutico-crítica na qual as/os docentes são participantes ativos e constantes na interpretação das múltiplas dimensões de seu trabalho. Um conjunto de procedimentos, idéias, vivências e práticas possibilitou acompanhar as trajetórias de professoras e professores, identificar representações simbólicas e interpretar dispositivos e artefatos presentes na urdidura do trabalho docente num espaço social singular - uma escola pública dedicada à educação de jovens de classes populares. A tese compreende quatro partes. Na Primeira, examina configurações históricas do trabalho docente e apresento uma discussão teórica que se organiza em tomo do eixo profissão-trabalho, levando à identificação de questões problemáticas que demarcam "um olhar" sobre a docência. Na Segunda parte, apresento os elementos que subsidiaram a constituição de uma metodologia de pesquisa direcionada ao estudo da docência em uma escola de classes populares. Ao identificar a linha teórica que contribuiu para a definição de um caminho investigativo, trato de explicitar elementos fundamentais da hermenêutica gadameriana, da pedagogia crítica freireana e de algumas reflexões foucaultianas que me inspiraram. Delineia também o horizonte em que se concretiza essa forma peculiar de trabalho docente. Utilizo-me, para isso, da versão da história da escola produzida conjuntamente com um grupo de professoras e funcionárias; de um quadro da vida dos/as alunos e alunas na vila e na escola, esboçado através de diálogos informais e de levantamento de dados em fichas de matrícula; de um panorama da vila composto a partir de entrevistas com moradores/as, com professores/as e estudantes; e de uma interpretação coletiva de alguns ritos, mitos e novas práticas que habitam a rotina da escola. A Terceira Parte apresenta o debate central da tese, focalizando os três pontos problemáticos - gênero, classe e profissionalismo. Consubstancia-se no esforço analítico e crítico que empreende ao dialogar com as tradições teóricas que nortearam meu "olhar" sobre o trabalho docente, introduzindo nesse diálogo, como interlocutoras/es, as professoras e professores ocupadas/os com a escolarização de jovens de classes populares. Em relação à questão do género, discuto a feminização da docência, os tributos sociais de dedicar-se a "trabalho de mulher", e o que faz do trabalho do ensino um trabalho feminino. O debate é direcionado a interpretar e compreender como as tradições que construíram o magistério como uma ocupação feminina perpassam o horizonte do trabalho dos/as docentes dessa escola, afetando sua situação social, suas condições de trabalho e remuneração e seu status ocupacional. Coloco em relevo as relações de poder implicadas no patriarcalismo e no trabalho docente e suas consequências para uma visão socialmente construída de trabalho com menor valor. Ao final da discussão sugiro uma tentativa de subversão da lógica construída contra as mulheres, tendente a interpretar como problemáticas as características que elas aportam ao ensino e como menos importante o trabalho que realizam. No que diz respeito à classe social, reflito junto com as professoras e professores sobre como a noção de classe perpassa a tradição da docência, como eles/as interpretam sua posição numa sociedade de classes e como a posição social que ocupam afeta sua relação com o alunado das classes populares. Nessa perspectiva examinamos as vinculações históricas e tradicionais do magistério com a classe média e o gênero, e como os discursos disseminados sobre a classe média afetam sua visão social dessa classe, da docência e dos/as estudantes. Utilizo elementos dessa discussão para me contrapor às análises estruturais que tendem a incluir as/os doentes na classe trabalhadora, identificados em relação a objetivos políticos e existenciais. Ao debater o profissionalismo, trato de introduzir elementos da história mais recente do magistério brasileiro em que fatores conjunturais políticos produziram tentativas de formular novas identidades profissionais para as/os docentes, mediante a utilização de nomenclaturas especiais. Procuro articular as questões de classe e gênero numa argumentação que, além de sugerir uma certa incompatibilidade do magistério com o profissionalismo, questiona as vantagens de se invocar o discurso profissional para fortalecer a docência, apontando para as evidências da vocação antidemocrática do mesmo. As interpretações dos próprios professores e professoras apontam para um profissionalismo fraco, inadequadamente compreendido, e cuja disseminação não encontra efetividade na prática. Finalmente, na Quarta Parte, desenvolvo uma reflexão sobre todo o processo de pesquisa que deu origem a essa tese, questionando as opções e os posicionamentos teórico-metodológicos adotados desde a fase inicial da proposta até o final do trabalho. Utilizando como referencial algumas manifestações do pensamento pós-moderno, discuto a idéia de ciência que tem me orientado, as questões da razão, do sujeito e do "dialógico", a posição do pesquisador como intelectual crítico, e a pesquisa-ação como alternativa metodológica. Esta Parte constitui uma tentativa de ensaiar alguns passos em direção ao questionamento das aplicações da Teoria Educacional Crítica. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.
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