"Não quero sair da rua" : psicanálise, denegação e escuta em serviços de atendimento a pessoas em situação de rua
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Data
2020Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta pesquisa surgiu com a interrogação acerca da escuta do não de quem diz não querer sair da situação de rua. A investigação se deu a partir da inserção profissional da pesquisadora em três equipamentos da Assistência Social: Centro Pop, CREAS e Acolhimento Institucional para adultos. Considerando a possibilidade da escuta psicanalítica no contexto da rua, a pesquisa objetivou refletir sobre as balizas que fazem o contorno dessa clínica, traçar caminhos da execução da política pública e debat ...
Esta pesquisa surgiu com a interrogação acerca da escuta do não de quem diz não querer sair da situação de rua. A investigação se deu a partir da inserção profissional da pesquisadora em três equipamentos da Assistência Social: Centro Pop, CREAS e Acolhimento Institucional para adultos. Considerando a possibilidade da escuta psicanalítica no contexto da rua, a pesquisa objetivou refletir sobre as balizas que fazem o contorno dessa clínica, traçar caminhos da execução da política pública e debater o lugar do psicanalista nas instituições que atendem essa população. O não foi tomado como Traço do Caso, como aquilo que decanta da escuta clínica e em torno do qual se conduz o processo investigativo. Para além disso, propõe-se que o não seja escutado como uma marca que atravessa diversos casos clínicos de pessoas que dizem não querer sair da situação de rua. Para isso, é trazido um caso clínico ao longo da dissertação, que conduz o processo reflexivo, e a partir do qual foram levantados dois planos de análise: o plano de quem enuncia e o plano de quem escuta. No plano de quem enuncia “Não quero sair da rua”, é destacada a dubiedade do não, que carrega em si a negação e a afirmação, pois ao negar o sujeito passa a falar sobre determinado assunto. O não querer sair da situação de rua opera no contrafluxo da lógica capitalista neoliberal (ter moradia fixa, trabalhar, ser produtivo), constituindo-se em uma afirmação do sujeito que se nega a seguir um roteiro do qual não se percebe autor, tornando-se responsável pela sustentação de sua posição desejante. No plano de quem escuta, propõe-se, aqui, que o psicanalista inserido na instituição que atende pessoas em situação de rua deixe em suspenso os protocolos tradicionais de busca da saída da situação de rua para escutar o sujeito que fala. Para isso, é necessário sustentar o espaço de escuta, fazendo uma oferta ativa desse espaço, além do estabelecimento de uma posição transferencial que permita a invenção de caminhos singulares nessa clínica. Além disso, cabe ao psicanalista a posição de sustentação no trâmite institucional para acolhimento da posição do sujeito, de maneira a levar a palavra do sujeito a espaços de produção de alternativas de atendimento. No tensionamento entre o sistema formal da política pública de assistência social e a condição de produção do sujeito, é possível a construção de caminhos de acompanhamentos singulares que respeitem o desejo do sujeito quando os casos podem ser trabalhados em equipe. Desta forma, é lançado o desafio aos psicanalistas de produzir questões na instituição que façam furo à repetição da lógica da exclusão social e aniquilamento do sujeito. Assim, a escuta do não de quem diz não querer sair da situação de rua é necessária na condução da política pública de assistência social, vindo a construir novas saídas para os problemas sociais. ...
Abstract
This research came up with the question about listening to the not of those who say they do not want to leave the street situation. The investigation took place from the researcher's professional insertion in three Social Assistance equipment: Centro Pop, CREAS and Hostel for homeless adults. Considering the possibility of psychoanalytic listening in the context of the street, the research aimed to reflect on the goals that make up the outline of this clinic, to trace paths for the implementati ...
This research came up with the question about listening to the not of those who say they do not want to leave the street situation. The investigation took place from the researcher's professional insertion in three Social Assistance equipment: Centro Pop, CREAS and Hostel for homeless adults. Considering the possibility of psychoanalytic listening in the context of the street, the research aimed to reflect on the goals that make up the outline of this clinic, to trace paths for the implementation of public policy and to debate the place of the psychoanalyst in the institutions that serve this population. The not was taken as a Trait of the Case, as that which decants from clinical listening and around which the investigative process is conducted. In addition, it is proposed the not to be heard as a brand that crosses several clinical cases of people who say they do not want to leave the street situation. For this, a clinical case is brought along during the dissertation, which leads the reflective process, and from which two plans of analysis were raised: the plan of the speaker and the plan of the listener. In the plan of whoever says “I do not want to leave the street”, the dubiousness of not is highlighted, which carries with it denial and affirmation, because when denying the subject, he starts talking about a certain subject. Not wanting to leave the street situation operates in the counterflow of the neoliberal capitalist logic (having fixed housing, working, being productive), constituting an affirmation of the subject who refuses to follow a script of which the author is not perceived, becoming be responsible for sustaining his desiring position. At the level of those who listen, it is proposed, here, that the psychoanalyst inserted in the institution that serves people on the street leave in suspension the traditional protocols of seeking to leave the street situation to listen to the person who speaks. For this, it is necessary to sustain the listening space, making an active offer of that space, in addition to the establishment of a transferential position that allows the invention of singular paths in this clinic. In addition, the psychoanalyst is responsible for the position of support in the institutional procedure for accepting the subject's position, in order to take the subject's word to spaces for the production of alternative care. In the tension between the formal system of public social assistance policy and the condition of production of the subject, it is possible to build paths of singular accompaniments that respect the subject's desire when cases can be worked on as a team. In this way, the challenge is launched to psychoanalysts to produce questions in the institution that make a hole in the repetition of the logic of social exclusion and annihilation of the subject. Thus, listening to the not of those who say they do not want to leave the street situation is necessary in the conduct of public social assistance policy, coming to build new ways out of social problems. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura.
Coleções
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Ciências Humanas (7455)
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