Trauma e imaginação na escrita da história brasileira : "As doenças do Brasil" (e a Cura) em Valter Hugo Mãe

Abstract

Este texto busca analisar as contribuições que o livro "As Doenças do Brasil" (2021), de Valter Hugo Mãe, pode oferecer para um debate em torno da escrita da história brasileira. O autor direciona o olhar para o passado histórico do país e tenta compreender de que forma o processo colonial marcou as relações e as identidades dos indivíduos. Isso inevitavelmente o leva a encarar uma série de questões traumáticas, produzidas sobretudo graças à maneira como a moderna ficção da raça se impôs aos sujeitos no território. Não por acaso, elas foram recalcadas a partir da construção de uma certa ideia de nação elaborada por uma elite letrada e fomentada pelo poder político a partir do século XIX. Dialogando com o mito racial que fundou o nacionalismo brasileiro, Valter Hugo Mãe tenta tornar esses traumas narráveis, pelo que as reflexões empreendidas neste trabalho são guiadas principalmente pelo olhar adotado por teóricos de diferentes áreas que têm se dedicado a compreender a dimensão traumática do discurso produzido pela modernidade e, em especial, como representá-la. "As Doenças do Brasil" descobre na ficção uma maneira afetiva de acessar o passado traumático, apontando caminhos para que possamos encontrar cura.

This text aims to analyze the contributions that the book "As Doenças do Brasil" (2021), by Valter Hugo Mãe, can offer to a debate around the writing of Brazilian History. The author looks at the country's historical past and tries to understand how the colonial process defined the relationships and identities of individuals of the country. This process inevitably leads him to face a series of traumatic issues, produced mainly thanks to the way in which the fiction of the modern race imposed itself on the subjects in the territory. Not by chance, they were repressed from the construction of a certain idea of nation elaborated by a literate elite and fomented by the political power from the 19th century onwards. In the dialogue with the racial myth that founded Brazilian nationalism, Valter Hugo Mãe tries to make these traumas narrable, so the reflections undertaken in this work are mainly guided by the perspective adopted by theorists from different areas who have dedicated themselves to understanding the traumatic dimension of the discourse produced for modernity and, in particular, how to represent it. "As Doenças do Brasil" finds in fiction an affective way of accessing the traumatic past, pointing out ways for us to find a cure from it.