Entre comprimidos e injeções viajantes : reflexões sobre o cuidado nas práticas de prevenção à infecção pelo HIV e à AIDS a partir da profilaxia pré-exposição (PrEP)

Abstract

Esta dissertação trata do cuidado nas políticas de prevenção à infecção pelo HIV e à aids. Sustenta-se em uma pesquisa qualitativa exploratória que teve como objetivo principal refletir sobre o cuidado a partir das práticas de uma pesquisa clínica e de algumas práticas sexuais que envolvem a utilização da tecnologia biomédica usualmente conhecida como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Apresento algumas reflexões sobre a autoetnografia, em especial no que diz respeito às preocupações, limitações e potências que esta metodologia pode oferecer para se considerarem transformações nas teorias e práticas de cuidado utilizadas no campo da prevenção da infecção pelo HIV e da aids que resultam em controle e normalização. Interessam para esta dissertação, os diferentes modos como o cuidado é performado nesse campo, assim como os diferentes efeitos desses processos. Inspirado pela Teoria do Ator-Rede (TAR), me dediquei a “seguir” um fármaco utilizado como PrEP, na rede que aqui denomino Experimental-fármaco-sexual. Em suma, para a TAR tanto humanos como não humanos criam realidades estabelecendo redes de conexões, constituindo-se como atores que mediam associações sociais. Desse modo, a TAR questiona dicotomias como: sujeito e objeto; sociedade e indivíduo; ciência e experiência, advindas das ciências modernas, buscando superá-las. Nesta dissertação, realizei reflexões sobre o cuidado a partir da minha utilização da PrEP e das políticas que constituem as suas diferentes realidades. Nesse percurso, problematizo a tecnologia biomédica e descrevo, em especial, o que dela é experimentado socialmente e suas repercussões no campo da prevenção ao HIV. Sem dúvida alguma, a PrEP está reconfigurando as sexualidades de homens gays, produzindo novas formas de relação, desejo e afetividade. Se por um lado, a tecnologia tem provocado certa emancipação dos desejos homoeróticos. Por outro lado, ao se amalgamar a alguns discursos do modelo preventivo brasileiro, ela também regula e disciplina corpos, sexualidades, subjetividades e invisibiliza formas de opressão e privilégios.

This dissertation deals with care in HIV and aids prevention policies. It is based on an exploratory qualitative research whose main objective was to reflect on care based on clinical research practices and some sexual practices that involve the use of biomedical technology commonly known as Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP). I present some reflections on self-ethnography, especially with regard to the concerns, limitations and powers that this methodology can offer to consider transformations in theories and care practices used in the field of prevention of HIV infection and aids that result in control and normalization. Of interest for this dissertation, the different ways in which care is performed in this field, as well as the different effects of these processes. Inspired by the Actor-Network Theory (TAR), I dedicated myself to “following” a drug used as PrEP, in the network that I call Experimental-drug-sexual. In short, for ANT, both humans and non-humans create realities by establishing networks of connections, constituting themselves as actors that mediate social associations. Thus, ANT questions dichotomies such as: subject and object; society and individual; science and experience, arising from modern sciences, seeking to overcome them. In this dissertation, I reflected on care based on my use of PrEP and the policies that constitute its different realities. Along the way, I problematize biomedical technology and describe, in particular, what is experienced socially and its repercussions in the field of HIV prevention. Undoubtedly, PrEP is reconfiguring the sexualities of gay men, producing new forms of relationship, desire and affection. If, on the one hand, technology has provoked a certain emancipation of homoerotic desires. On the other hand, by amalgamating with some discourses of the Brazilian preventive model, it also regulates and disciplines bodies, sexualities, subjectivities and makes forms of oppression and privileges invisible.