Líquen plano oral : uma overview de revisões sistemáticas

Abstract

O líquen plano oral (LPO) é uma doença inflamatória imunologicamente mediada que acomete cerca de 0,89% da população mundial e sua apresentação clínica clássica é representada por estriações brancas localizadas principalmente em mucosa jugal bilateral, geralmente assintomáticas. Porém, dois terços dos pacientes que apresentam essa doença desenvolvem sintomatologia, podendo interferir significativamente na qualidade de vida destes indivíduos. Atualmente o tratamento de primeira escolha para o LPO sintomático é o uso de corticoides tópicos. Porém, diversas outras modalidades de tratamento estão descritas na literatura, especialmente opções que representem menos efeitos adversos e que tragam benefícios para casos refratários. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi realizar uma overview de revisões sistemáticas acerca das modalidades terapêuticas para o LPO e propor um protocolo de tratamento com vistas a auxiliar na conduta do cirurgião-dentista. A busca nas bases de dados Scopus, Embase, Web of Science e Pubmed resultou em 428 estudos que, após remoção dos duplicados e triagem, foram incluídas 74 revisões sistemáticas para análise qualitativa final. Destes artigos, 35 estudos englobaram o uso de agentes naturais, 26 inibidores de calcineurina, 21 corticoides, 15 terapia fotodinâmica, 12 retinoides, 10 outras drogas imunossupressoras, 9 fotobiomodulação, 8 fototerapia com luz ultravioleta e 13 outras modalidades terapêuticas. Baseado nos resultados dos estudos incluídos na presente overview, o uso de corticoides tópicos é considerado como primeira linha de tratamento para as lesões de LPO, sendo que não há evidências de superioridade entre medicamentos desta mesma classe terapêutica. Em lesões refratárias, é recomendado o uso de inibidores de calcineurina, como tacrolimo e pimecrolimo. Em lesões múltiplas mucocutâneas, os corticoides sistêmicos são recomendados, pelo menor tempo que seja necessário para reduzir os potenciais efeitos adversos. Agentes naturais, retinóides tópicos e laserterapia podem ser empregados como adjuvantes em lesões refratárias à corticoterapia. O manejo com irradiação UV não é recomendado devido ao seu potencial oncogênico. A remoção cirúrgica ou com laser de dióxido de carbono para manejo do LPO somente é recomendada em lesões persistentes, pequenas e localizadas, não sendo recomendadas como possibilidade terapêutica de rotina. Os retinóides sistêmicos, outras drogas imunossupressoras e as demais modalidades terapêuticas citadas neste trabalho devem ser avaliadas com cautela devido aos efeitos adversos importantes. Além disso, carecem de evidência científica robusta que suportem a sua indicação no manejo das lesões de LPO. O risco de viés foi considerado baixo em 58,1% das revisões sistemáticas, moderado em 20,27% e alto em 21,62%. Apesar da heterogeneidade 711 encontrada na literatura em relação às diferentes modalidades e doses terapêuticas para o manejo do LPO, neste trabalho foi proposto um protocolo para auxiliar o cirurgião-dentista frente a casos de pacientes com LPO. Este protocolo foi concebido para fornecer uma abordagem estruturada e baseada em evidências para o manejo eficaz de casos de LPO, com ênfase particular naqueles que se mostram refratários aos tratamentos convencionais.

Oral lichen planus (OLP) is an immunologically mediated inflammatory disease that affects approximately 0.89% of the world's population. Its classical clinical presentation is characterized by white striae mainly located on the bilateral buccal mucosa, called ‘Wickham striae’, usually asymptomatic. Nevertheless, two-thirds of patients with this disease experience symptoms that can significantly interfere with their quality of life. Currently, the first-line treatment for symptomatic oral lichen planus is the use of topical corticosteroids. Diverse other treatment modalities are described in the literature, particularly options that have fewer adverse effects and that provide benefits for refractory cases. The objective of this study was to conduct an overview of systematic reviews on therapeutic modalities for oral lichen planus and propose a treatment protocol to assist dental practitioners in its management. The search in the Scopus, Embase, Web of Science, and PubMed databases resulted in 428 systematic reviews, of which 74 articles were included for final qualitative analysis. Of these articles, 35 covered the use of natural agents, 26 calcineurin inhibitors, 21 corticosteroids, 15 photodynamic therapy, 12 retinoids, 10 other immunosuppressants, 9 photobiomodulation, 8 phototherapy with ultraviolet light and 13 other therapeutic modalities. Based on the results of these systematic reviews, the use of topical corticosteroids is considered the first-line treatment for OLP lesions, and there is no evidence of superiority between this therapeutic class. In refractory lesions, the use of calcineurin inhibitors, such as tacrolimus and pimecrolimus, is recommended. In multiple mucocutaneous lesions, systemic corticosteroids are recommended, for as short a time as necessary to reduce potential adverse effects. Natural agents, topical retinoids and laser therapy can be used as adjuvants in lesions refractory to corticosteroid therapy. Management with UV irradiation is not recommended due to its oncogenic potential. Surgical removal or with carbon dioxide laser to manage OLP is only recommended in persistent, small and localized lesions and is not recommended as a routine therapeutic possibility. Systemic retinoids, other immunosuppressive drugs and other therapeutic modalities mentioned in this work must be evaluated with caution due to important adverse effects. Furthermore, they lack robust scientific evidence to support their indication in the management of OLP lesions. The risk of bias was considered low in 58.1% of systematic reviews, moderate in 20.27% and high in 21.62%. Despite the heterogeneity found in the literature in relation to different modalities and therapeutic doses for the management of OLP, in this work a protocol was proposed to assist the dentist when dealing with cases of patients with OLP. This protocol was designed to provide a structured, 911 evidence-based approach to the effective management of OLP cases, with particular emphasis on those that prove refractory to conventional treatments.