O dispositivo de necrodocência e os modos de ser professor na contemporaneidade

Abstract

A docência, imbricada em uma racionalidade neoliberal, é atravessada por diferentes elementos, os quais podem ser compreendidos como práticas as quais, de diferentes maneiras, vão fabricando “modos de ser” professor e produzindo efeitos em seu trabalho e em seu reconhecimento enquanto profissional da educação. Assim, para realizar o processo analítico deste trabalho, utilizamos a noção de dispositivo em Michel Foucault (2015 - 2017) por nos mostrar ser uma ferramenta potente na construção de analíses contundentes no que tange à docência nos tempos contemporâneos. Considerando aspectos acerca da racionalidade atual, articulamos o conceito mbembeano de necropolítica (MBEMBE, 2018) ao de dispositivo, pois em um contexto neoliberal, a política atua também a partir de preceitos como a aniquilação de determinados grupos sociais. Em relação à profissão docente, entendemos as políticas públicas e curriculares, as narrativas midiáticas e de grupos neoconservadores e a desestruturação das instituições públicas de ensino se relacionam de forma estratégica, atravessando o professor e produzindo no mesmo uma espécie de morte simbólica: a necrodocência. Admitindo que esses elementos não atingem a docência de forma isolada, podemos enxergá-los como linhas as quais, emaranhandose entre si, engendram a morte do professor enquanto sujeito do conhecimento: um Dispositivo de Necrodocência. O entendemos como um conjunto de elementos heterogêneos interagindo em diagramas de poder e constituindo práticas que afastam a docência do mote de seu trabalho: a construção do conhecimento científico-pedagógico. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é construir conceitualmente o conceito de Dispositivo de Necrodocência e utilizá-lo enquanto ferramenta teórico-metodológica para analisar os efeitos de alguns elementos os quais delineiam e interpelam a profissão docente, frente ao neoliberalismo e que, fabricam a docência e os modos de ser professor. Como resultado de nossas análises, observamos a mídia reforçando algumas marcas históricas da profissão e as políticas -públicas e curriculares- posicionando a docência como executora de currículos pré-organizados e pensados.

The teaching, imbricated in a neoliberal rationality, is crossed by different elements, which can be understood as practices that, in different ways, are manufacturing "ways of being" teachers and producing effects on their work and their recognition as education professionals. Thus, to carry out the analytical process of this work, we used the notion of dispositive in Michel Foucault (2015 - 2017) because it is a powerful tool in the construction of forceful analyses regarding teaching in contemporary times. Considering aspects about current rationality, we articulate the Mbembe concept of necropolitics (MBEMBE, 2018) to the device, because in a neoliberal context, politics also acts from precepts such as the annihilation of certain social groups. In relation to the teaching profession, we understand public and curricular policies, media and neoconservative groups' narratives, and the destructuring of public educational institutions relate strategically, crossing the teacher and producing in the same a kind of symbolic death: necrodocency. Admitting that these elements do not affect teaching in an isolated way, we can see them as lines which, entangled among themselves, engender the death of the teacher as a subject of knowledge: a Necrodocency Dispositive. We understand it as a set of heterogeneous elements interacting in power diagrams and constituting practices that move teachers away from the motto of their work: the construction of scientific and pedagogical knowledge. In this sense, the goal of this paper is to conceptually construct the concept of Necrodocency Dispositive and use it as a theoretical and methodological tool to analyze the effects of some elements that delineate and interpellate the teaching profession, facing neoliberalism and that manufacture teaching and the ways of being a teacher. As a result of our analyses, we observed the media reinforcing some historical marks of the profession and the policies - public and curricular - positioning teaching as an executor of pre-organized and thought curriculum.