Estudo retrospectivo sobre a casuística de rapinantes de vida livre atendidos pelo Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres (Preservas) da UFRGS, no período de 2017 a 2021

Abstract

As aves de rapina, como predadores de topo de cadeia, possuem a capacidade de indicar a qualidade de ecossistemas. Sabe-se que a maioria das causas que levam essas aves a serem admitidas em centros de reabilitação está relacionada a atividades antrópicas. Por outro lado, percebe-se um aumento da preocupação por parte da população com pautas envolvendo a conservação do meio ambiente. Até onde foi possível avaliar, ainda são escassos os estudos envolvendo a casuística do atendimento de aves de rapina no Brasil. Assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar a análise e a interpretação de dados referentes aos rapinantes de vida livre atendidos entre 2017 e 2021 no Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres (Preservas) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os dados utilizados foram coletados a partir de livros de registros do Preservas, nos quais constam informações sobre todos os animais que já passaram pelo setor. No total, 157 rapinantes de vida livre foram atendidos, sendo visualizado um crescimento entre 2017 (13) e 2021 (43). Um total de 21 espécies foram recebidas, pertencentes em sua grande maioria à ordem Strigiformes (49,7%). Os meses que se destacaram com o maior número de atendimentos foram dezembro (24), janeiro (23) e novembro (21), todos compreendidos entre primavera e verão. O recebimento de filhotes e juvenis também seguiu esse padrão, indicando uma tendência à sazonalidade. A categoria que mais se fez frequente como afecção principal foi a musculoesquelética (56,7%), indicando que a maioria dos acidentes foram traumáticos A soltura foi o principal desfecho dos casos (33,1%), seguida por óbito (22,3%), cativeiro (17,2%) e eutanásia (13,4%). O tempo médio de permanência no setor foi de 58 dias, não havendo distinção entre o momento de alta e o momento efetivo de destinação. Em comparação a outros estudos similares, a taxa de soltura foi relativamente baixa. No entanto, a taxa de sobrevivência se mostrou acima da média. Conclui-se que, ainda que uma parcela das aves atendidas seja capaz de retornar à natureza, o meio mais efetivo de preservação da população de rapinantes segue sendo a mitigação das causas que levam à sua admissão em centros de reabilitação.

Birds of prey, as top of the chain predators, have the ability to indicate the quality of ecosystems. It is well known that most causes that make these birds be admitted into rehabilitation centers relate to anthropic activities. On the other hand, there is an increased concern by a part of the public over environmental conservation agendas. To the extent it was possible to assess, studies involving the casuistry of care to birds of prey in Brazil are scarce. Thus, this study had the goal to carry out an nalysis and data interpretation pertaining free-ranging raptors presented between 2017 and 2021 in the Núcleo de Conservação e Reabilitação de Animais Silvestres (Preservas) from the Univerisdade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). The data used was collected from Preservas’s record books, which contained information on every animal that had gone through the sector. In total, 157 free-ranging raptors were attended, with a perceived increase between 2017 (13) and 2021 (43). Overall, 21 species were received, mostly pertaining to the order Strigiformes (49,7%). The months which stood out with the highest attendances were December (24), January (23) and November (21), all of them between Spring and Summer. The amounts of juveniles have also followed this pattern, indicating a sazonality trend. The most frequent category of main affection was musculoskeletal (56,7%), indicating that most accidents were traumatic. Release (33,1%) was the main outcome of cases, followed by death (22,3%), captivity (17,2%) and euthanasia (13,4%). The average time of stay in the sector was 58 days with no distinction between the moment of discharge and effective destination. In comparison to similar studies, the release rate was relatively low. However, survival rate turned out to be above average. It can be concluded that, although a portion of attended birds is able to return to nature, the most effective mean of raptors population preservation remain the cause mitigation that leads to the admission in rehabilitation centers.