Relatando a dor : uma autoetnografia sobre violência sexual, adoecimento mental e suas dinâmicas emocionais

Abstract

Neste trabalho proponho uma reflexão acerca da violência sexual e de suas consequências para a saúde mental das vítimas. Para investigar as dinâmicas da violência e seus impactos na vida de uma estudante trans não binária moradora de uma cidade universitária do interior do Rio Grande do Sul, utilizo a autoetnografia como caminho ético-metodológico para refletir sobre experiências vividas por mim a partir de uma perspectiva antropológica crítica e auto-refletiva. Retomo as discussões do campo da Antropologia das Emoções para analisar sentimentos como nojo, culpa e humilhação como chaves generificadas de compreensão de processos de violência sexual. A partir disso produzo uma pesquisa fortemente corporificada, que rompe com o pacto de silêncio em torno do estupro de pessoas vuneráveis, fazendo emergir dinâmicas culturais que as pessoas vivem, mas que habitam a esfera do não-dito.

In this work i propose a reflection about sexual violence and its consequences to the victims mental health. Seeking to investigate the violence dynamics and its impacts in the life of a trans non binary student living in a universitary city in the extreme south of Rio Grande do Sul, i use the autoetnography as ethical-methodological path of investigation to reflect about experiences lived by me from a critical and self-reflective anthropological perspective. Resuming the anthropology of emotions discussions i search to analyze emotions like disgust, guilt and humiliation as gendered keys in the effort of comprehension of the sexual violence processes. From this I produce a widely embodied research, which breaks through the silence pact between vulnerable people, highlighting the cultural dynamics that people experience, but that inhabit the sphere of the unspoken.