Espelhos de poder : a atuação marroquina na União Africana frente ao vácuo líbio pós-Primavera Árabe

Abstract

O presente trabalho tem como tema a análise da conjuntura na qual a União Africana (UA) situouse a partir do reingresso marroquino à Organização em 2017, em uma ascensão e protagonismo possibilitados pela ausência de uma liderança líbia na UA. Levando em consideração as contribuições políticas e financeiras do ex-líder líbio Muammar al-Gaddafi, a partir do pósPrimavera Árabe em 2011, notou-se uma União Africana que possibilitava a ascensão de novas lideranças para ocupar seu espaço. Junto a isso, as investidas políticas e diplomáticas marroquinas durante a década de 2010 tiveram o objetivo de reaproximar o país de suas origens africanas, reestabelecendo laços com a África Subsaariana e culminando no apoio ao seu retorno à UA em 2017. Pondera-se, portanto, de que modo o Marrocos beneficiou-se da ausência líbia no pós-2011 para assumir maior proeminência dentro da União Africana. Teve-se como hipótese central que o vácuo de uma liderança pan-africanista investidora e articulada, junto ainda aos esforços do Rei Mohammed VI em fortalecer os vínculos marroquino-africanos, permitiram que o Marrocos ascendesse a uma posição de destaque dentro da Organização e, assim, advogasse por seus interesses nacionais. Tem-se por objetivo central apresentar as dinâmicas do sistema interafricano; retratar a trajetória histórica líbia e marroquina no sistema de Estados do continente e na União Africana; e salientar as estruturas de liderança dentro da Organização, realizando uma análise entre os dois modelos de poder, líbia e marroquino, frente a outros atores africanos de destaque. A metodologia utilizada baseou-se, primordialmente, em uma revisão bibliográfica aprofundada sobre as temáticas africanas que concernem o tema. A comparação entre as estratégias das duas nações marroquinas revela diferentes abordagens de alcance à liderança no continente através da UA, visto que Gaddafi adotou um discurso maximalista de integração africana, enquanto o Marrocos utilizou de uma diplomacia mais pragmática e gradualista, focada na construção de alianças econômicas e políticas que favoreçam seus interesses. Percebe-se, assim, que o vácuo líbio preenchido pelo Marrocos se relaciona especialmente aos investimentos na UA e no continente, visto que os ideais políticos de Gaddafi não encontraram continuidade nas ações de Mohammed VI. Este trabalho, assim, contribui para a compreensão das estratégias de poder na África e seus impactos na configuração política e econômica regional, principalmente sob os auspícios da União Africana.

This study focuses on analyzing the context in which the African Union (AU) found itself following Morocco's reentry into the Organization in 2017, a rise and prominence made possible by the absence of Libyan leadership within the AU. Considering the political and financial contributions of former Libyan leader Muammar al-Gaddafi, it became evident that, after the Arab Spring in 2011, the AU created an opportunity for new leaderships to emerge and occupy the space left vacant. Simultaneously, Morocco's political and diplomatic efforts during the 2010s aimed to reconnect the country with its African roots, reestablishing ties with SubSaharan Africa and culminating in support for its return to the AU in 2017. This study ponders how Morocco capitalized on the absence of Libyan leadership post-2011 to gain greater prominence within the African Union. The central hypothesis is that the void left by the lack of an articulate and pan-Africanist investor leadership, combined with King Mohammed VI’s efforts to strengthen Moroccan-African ties, enabled Morocco to ascend to a prominent position within the Organization and thus advocate for its national interests. The main objective of this study is to present the dynamics of the inter-African system, examine the historical trajectories of Libya and Morocco within the continental state system and the AU, and highlight leadership structures within the organization. It also aims to analyze the two models of power, Libyan and Moroccan, in comparison to other prominent African actors. The methodology relied primarily on an in-depth bibliographic review of African-related themes pertinent to the subject. The comparison between the strategies of the two nations reveals contrasting approaches to achieving leadership in the continent through the AU: while Gaddafi embraced a maximalist discourse of African integration, Morocco adopted a more pragmatic and gradualist diplomacy, focusing on building economic and political alliances that serve its interests. It is observed that the Libyan void filled by Morocco relates primarily to investments in the AU and the continent, as Gaddafi’s political ideals found little continuity in Mohammed VI’s actions. This study thus contributes to understanding power strategies in Africa and their impacts on the political and economic configuration of the region, particularly under the auspices of the African Union.