A identidade eurasiática por trás da mudança de posicionamento da Rússia acerca do conflito em Nagorno-Karabakh de 2016 a 2023

Abstract

O tema desta pesquisa é a mudança no posicionamento da Rússia em relação ao conflito entre Armênia e Azerbaijão pelo território de Nagorno-Karabakh, especificamente durante as hostilidades de 2016, 2020 e 2023, e a mudança de identidade do país ao longo deste período. Até antes do confronto de 2020, a Rússia era considerada garantidora da posição da Armênia, o que se verificou em 2016, quando pressionou que o Azerbaijão cessasse uma ofensiva contra Nagorno-Karabakh. Entretanto, em 2020, a Rússia permitiu que o Azerbaijão realizasse uma nova ofensiva e tomasse a maior parte do território disputado, o que se repetiu em 2023, quando os azeris arrebataram o restante do território diante da passividade russa. Destarte, surge a pergunta de pesquisa: por que a Rússia alterou seu posicionamento perante o conflito, de pró-armênio para passivo ou até pró-azeri? A hipótese é que a mudança se insere no fenômeno maior do crescimento da influência do eurasianismo na definição da estratégia russa e a adoção de uma identidade eurasiática, o que ocasionou uma maior significância atribuída às iniciativas de integração física com a Ásia e, consequentemente, o interesse de aproximar-se do Azerbaijão, país-chave no Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (INSTC), que liga a Rússia ao Irã, Índia e resto da Ásia através do Cáucaso. Desta maneira, o objetivo da pesquisa, é verificar se houve um fortalecimento do eurasianismo e o entendimento de que a Rússia é um país eurasiático dentro do pensamento estratégico russo, e ligar esta mudança ideacional à posição russa diante do conflito. Em termos específicos, emprega-se a teoria construtivista para compreender a dinâmica das identidades nas Relações Internacionais e suas implicações para os interesses dos Estados, especialmente a Rússia; realiza-se uma conceituação do eurasianismo; estudam-se documentos de política externa da Rússia do período relevante, a fim de apurar uma mudança em termos de ideologia e identidade; demonstra-se a mudança do posicionamento russo perante o conflito e, por fim, discorre-se sobre a ligação entre eurasianismo e iniciativas de integração física na Eurásia e, dentro deste âmbito, o INSTC, ponto em que é feita a conexão com Nagorno-Karabakh. Como resultado, tem-se que os documentos de estratégia e política externa russos demonstram, de fato, o crescimento da ideologia eurasianista e a adoção de uma identidade eurasiática, que o posicionamento russo perante o conflito mudou significativamente após 2016 e que uma aproximação da Rússia com o Azerbaijão é de se esperar com um maior interesse por integrar-se aos países asiáticos através de iniciativas de infraestrutura.

The subject of this research is the change in Russia's position in relation to the conflict between Armenia and Azerbaijan over the territory of Nagorno-Karabakh, specifically during the hostilities of 2016, 2020 and 2023, and the change in the country's identity over this period. Until before the 2020 confrontation, Russia was seen as a guarantor of Armenia's position, which it did in 2016, when it pressured Azerbaijan to cease an offensive against Nagorno-Karabakh. However, in 2020, Russia allowed Azerbaijan to carry out a new offensive and seize most of the disputed territory, which was repeated in 2023, when the Azeris snatched the rest of the territory in the face of Russian passivity. So the research question arises: why did Russia change its position on the conflict, from pro-Armenian to passive or even pro-Azeri? The hypothesis is that the change is part of the larger phenomenon of the growing influence of Eurasianism on the definition of Russian strategy and the adoption of a Eurasian identity, which has led to greater significance being attached to physical integration initiatives with Asia and, consequently, an interest in getting closer to Azerbaijan, a key country in the International North-South Transport Corridor (INSTC), which links Russia to Iran, India and the rest of Asia via the Caucasus. Thus, the aim of the research is to verify whether there has been a strengthening of Eurasianism and the understanding that Russia is a Eurasian country within Russian strategic thinking, and to link this ideational change to the Russian position in the face of the conflict. Specifically, constructivist theory is used to understand the dynamics of identities in International Relations and their implications for the interests of states, especially Russia; Eurasianism is conceptualized; Russian foreign policy documents from the relevant period are studied in order to determine a change in ideology and identity; finally, the link between Eurasianism and physical integration initiatives in Eurasia and, within this framework, the INSTC, is discussed, at which point the connection with Nagorno-Karabakh is made. The result is that Russian strategy and foreign policy documents do indeed demonstrate the growth of Eurasianist ideology and the adoption of a Eurasian identity, that Russia's position on the conflict has changed significantly since 2016 and that a rapprochement between Russia and Azerbaijan is to be expected with a greater interest in integrating with Asian countries through infrastructure initiatives.