Mercados alimentares territoriais : instituições sociais e economia moral na estruturação das feiras do Jequitinhonha e do Norte de Minas Gerais

Abstract

Nos últimos anos, diversos esforços têm sido realizados por estudiosos para compreender as especificidades dos mercados alimentares, com o objetivo de analisar como eles operam em diferentes contextos locais, regionais e nacionais do sistema alimentar. Este estudo focaliza os mercados territoriais, definidos como espaços de interação mercantil entre agentes econômicos em contextos específicos, cujas delimitações espaciais são determinadas pelos atores que atuam nos locais onde ocorrem trocas econômicas e intercâmbios de produtos, bens e mercadorias. Mais especificamente, o estudo aborda as feiras públicas de duas regiões do estado de Minas Gerais: o Jequitinhonha e o Norte de Minas. As feiras são caracterizadas como territórios, pois, nelas, diversos atores interagem, negociam e disputam espaço para trocar, vender e comercializar seus produtos. Essas interações ocorrem em um determinado espaço que conforma um território em que as relações de poder são mediadas e governadas por instituições sociais que ordenam as trocas e organizam os mercados por meio de regras e normas, tanto tácitas quanto formais. Dessa forma, as feiras configuram canais de comercialização que se estabelecem como mercados territoriais, sendo espaços sociais onde valores, normas e convenções socialmente construídos regulam e organizam as transações comerciais. Essa definição está alinhada à abordagem institucional de mercados, que compreende o território como um espaço em que as relações de poder estão alicerçadas em instituições sociais e, por vezes, em uma economia moral. A questão central que orientou a pesquisa foi: como são construídas e quais são as instituições que estruturam e organizam as regras e normas que permitem o funcionamento das feiras nessas regiões? Para responder a essa questão, foi realizada uma investigação que analisou as relações de poder presentes nestes territórios, considerando os dispositivos de governança e as regras tácitas e formais que garantem a estabilidade e a reprodução social das interações mercantis. A metodologia foi estruturada na elaboração de ferramentas de diagnóstico baseadas nas percepções dos atores sociais envolvidos nas feiras. Foram utilizadas ferramentas como formulários mistos (survey e semiestruturados), análise SWOT e oficinas participativas. Os resultados da pesquisa indicam que as interações mercantis nas feiras estão profundamente enraizadas em dimensões socioculturais e são influenciadas por relações de poder, dispositivos de governança e normas que asseguram seu funcionamento. Nesse contexto, as feiras analisadas revelam-se importantes formas de acesso a mercados, beneficiando produtores e consumidores, promovendo o desenvolvimento territorial e garantindo a oferta de alimentos produzidos localmente, sobretudo para as populações do território onde estão inseridas.

In recent years, several efforts have been made by scholars to understand the specificities of food markets, with the aim of analyzing how they operate in different local, regional, and national contexts of the food system. This study focuses on territorial markets, defined as spaces of commercial interaction between economic agents in specific contexts, whose spatial limits are determined by the actors operating in the places where economic exchanges and trade of products, goods, and merchandise occur. More specifically, the study addresses public markets in two regions of the state of Minas Gerais: Jequitinhonha and North of Minas. Markets are characterized as territories because in them, several actors interact, negotiate, and compete for space to exchange, sell, and trade their products. These interactions are embedded in social institutions that order exchanges and organize markets through rules and norms, both tacit and formal. Thus, fairs constitute marketing channels that are established as territorial markets, being social spaces where socially constructed values, norms, and conventions regulate and organize commercial transactions. This definition is aligned with the institutional approach to markets, which understands territory as a space in which power relations are based on social institutions and, at times, on a moral economy. The central question explored was: how are the rules and norms that allow the functioning of fairs in these regions constructed and what are the institutions that structure and organize them? To answer this question, the study analyzed the power relations present in these territories, considering the governance devices and the tacit and formal rules that guarantee the stability and social reproduction of commercial interactions. The methodology was structured on the development of diagnostic tools based on the perceptions of the social actors involved in the fairs. Tools such as mixed forms (survey and semi-structured), SWOT analysis and participatory workshops were used. The research results indicate that commercial interactions in markets are deeply rooted in sociocultural dimensions and are influenced by power relations, governance mechanisms and norms that ensure their functioning. In this context, the markets analyzed prove to be important forms of access to markets, benefiting producers and consumers, promoting territorial development and guaranteeing the supply of locally produced food, especially for the populations of the territory where they are located.