Temperatura preferencial, tolerância termal e eficiência termorregulatória em Liolaemus occipitalis, Boulenger 1884 (Iguania: Liolaemidae)

Abstract

Os lagartos são animais ectotérmicos e sua dependência térmica é um dos motivos que os torna mais vulneráveis às mudanças climáticas. As mesmas são grande ameaça para a biodiversidade, pois tendem a proporcionar temperaturas extremas, o que pode ocasionar mudanças nos microclimas disponíveis. Liolaemus occipitalis é um pequeno lagarto arenícola em ambiente de dunas costeiras, a espécie é considerada tigmotérmica e heliotérmica e está categorizada como Vulnerável. Foram realizadas coletas em campo, na região dos Lençóis Cidreireses, e experimentos em laboratório a fim de se determinar as temperaturas preferenciais e críticas e a efetividade termorregulatória em Liolaemus occipitalis. A relação entre estas medidas pode auxiliar a compreender os efeitos das mudanças climáticas na distribuição e densidade da espécie. Observou-se que a espécie possui uma temperatura corporal (Tb) baixa quando comparada com outras espécies do gênero, a mesma varia de acordo com a hora do dia e está correlacionada com as temperaturas ambientais do ar (Ta) e da superfície (Ts). As medidas de Ts foram maiores do que as de Ta, tanto em campo quanto em laboratório. A temperatura preferida de L. occipitalis se assemelha a de outros lagartos do mesmo gênero e foi superior à média de Tb, o que também está de acordo com estudos com outras espécies do gênero. Nossos resultados apontaram que L. occipitalis é uma espécie termorreguladora ativa. Estudos indicam que répteis termorregulam melhor em ambientes onde este comportamento é mais custoso o que corrobora para o resultado de efetividade termorregulatória obtido, pois o hábitat da espécie não apresenta uma qualidade térmica ótima. A espécie ainda demonstrou possuir uma grande plasticidade térmica, contudo ainda não há dados suficientes que expliquem como estes animais conseguem manter sua temperatura mais baixa do que as temperaturas da superfície em situações de extremo calor. A maioria dos estudos apontam efeitos negativos perante as mudanças climáticas em Lepidosauria, o que intensifica sua vulnerabilidade frente a variações na temperatura. Contudo, existem alguns fatores como Tes baixas e grande diferença entre Tb e Tpref podem dar ao gênero Liolaemus uma margem de segurança para mitigar potenciais reduções populacionais relacionadas às mudanças climáticas.